006 - Férias na fazenda - I de III
Uma dessas pessoas, que passou alguns anos com a Vovó, foi o José Avelino, pelos idos de 1930, e que mais tarde se tornou meu Tio, pois se casou com a Tia Zina, irmã de mamãe. Orminda - moça bonita, simples e simpática, filha do fazendeiro Sô João de Paiva - também fez o grupo morando com a Vovó.
Nessa época ia eu para a casa da Vovó. Gostava de comer seu arroz avermelhado, com urucum apanhado no quintal; o feijão com farinha de milho - fubá torrado por ela - assim como admirá-la tecendo os chapéus de palha. Ela plantava um pouco de milho em seu quintal ou comprava as espigas, aproveitando as palhas para tecer os chapéus e para seu pito de fumo de rolo -Vovó, e as pessoas mais velhas, mascavam esse fumo para limpar os dentes; o milho para as galinhas e os sabugos para queimar no fogão e para a latrina - serviam de papel higiênico (costume da época!).
Orminda me adorava e eu a ela. Com quatro para cinco anos, pela primeira vez fui à fazenda com seu pai, na garupa do cavalo.
A expectativa da chegada à fazenda superava a terrível e incômoda viagem de duas léguas, de Antônio Dias até lá, na garupa do cavalo do Sô João de Paiva - não tão terrível e ruim assim. Chegando, a descida, ladeando a serra, um imenso paredão desnudo, era realmente de doer. Dava-se um grito e a serra respondia - quando me dei conta do eco. Nas descidas, andando na garupa, a viagem era mais incômoda que nas subidas - chegava cansado, moído e com feridas ou assaduras nas pernas... ou no bumbum. Mas valia a pena. A ida melhor que a volta. Acostumei-me com as idas e vindas, pois durante as férias da Orminda, o passeio acontecia duas vezes ao ano, até aos meus onze anos. Desconheço o porquê, só eu entre os onze irmãos ia à fazenda -adorava. O José Maurício, nunca foi - não nos desgrudávamos um do outro.
Dormia com a Orminda, em colchão de palha de milho. Quantas e quantas vezes fiz xixi na cama... Acordava molhado e sentia-me frio e desconfortável - é horrível levantar assim (a mãe faz falta nessas horas, embora muito bem tratado... mas a mãe da gente...). É por isso que todos nós temos que ter bastante compreensão para com as crianças quando amanhecem molhadas.
Andava-se descalço, aliás, todos andavam descalços na fazenda, exceção feita ao Sr. João de Paiva, usava botinas, e a Orminda, com alguns costumes da cidade. Mesmo na cidade, calçados eram para poucos – para alguns. Eu mesmo, a maioria das vezes, ia descalço para o Grupo Escolar. O tamanco servia de chinelo ou sandália tipo havaiana – papai vendia muitos em sua loja.
Benedito Franco
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.