PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
981. Corpo espiritual
Com o auxílio das filosofias, chegamos ao reconhecimento do indivíduo, seu valor, sua singularidade e sua grandeza como ser racional. Essas riquezas se contrapõem à criação do individualismo que é dependente da raiz de pecado. Este individualismo, nascido do egoísmo narcisista, tornou-se um sistema de vida na sociedade. ‘Cada um por si e Deus por todos’, diz o provérbio. Penetrou os setores da vida social gerando a desenfreada concorrência e a luta por ter mais bens e mais poder. É o que vemos no chamado progresso. Ele privilegia poucos quando muitos ficam fora do processo. Esse modo de pensar pragmatista invadiu também o pensar e o viver o aspecto religioso. Temos uma espiritualidade individualista sintetizada nas palavras: “Salva tua alma!”. É necessário salvar a alma, sim, mas em um corpo espiritual. Até dizemos: Eu sou único diante de Deus, único responsável por meus atos e ninguém tem a ver com isso, nem se meta. A espiritualidade passou a ser acúmulo de bens espirituais, graças, virtudes, dons e méritos, como se dissesse: eu consegui e você não. Não é essa mentalidade de Jesus que nos coloca em relação uns com os outros dentro de um corpo espiritual que chamamos Corpo Místico de Cristo. Os bens espirituais são para todo o corpo, como a vitamina serve para todos os membros. O mal que fazemos prejudica o corpo, como um membro doente. S. Paulo desenvolve bem essa realidade cristã. Quando era menino eu ouvia dizer: “A oração que você faz aqui, o bem que faz, pode levar uma pessoa a Deus lá no meio das florestas africanas”. O bem que faço é para o bem comum. É a comunhão dos santos. A comunidade primitiva dizia que tudo se tornava comum: “Tinham um só coração e uma só alma... tudo era comum entre eles”(At 4,32). É o último desejo de Jesus: “Que sejam um como nós” (Jo 17,11). Como as células estão unidas para a vida, assim os cristãos estão unidos para a Vida.
982. Tudo pelo espiritual
A vida espiritual não são os momentos especiais que dedico à oração, mas de uma Vida que penetra todos os aspectos da vida. Não há ato que a pessoa faça que esteja fora de Deus. Não se trata de um panteísmo que diz que tudo é Deus, mas de um ser em Deus. Paulo cita três autores pagãos, Epimenes de Creta, Cleanto e Arato (Sec. III AC): Na divindade temos a vida, o movimento e o ser, pois somos de sua raça nele nos movemos e somos (At 17,28). Tudo o que fazemos tem o lado espiritual e está unido aos outros pois é o mesmo Deus que age em todos, mesmo que não creia. O aspecto espiritual une nossas ações ao Deus que dá a vida, o movimento e o ser. Deste modo a própria vida é o caminho para a santidade.
983. Um bem que seja bom
Levamos bem nossa vida espiritual, nossas caridades, nossas orações. Mas o fazemos isoladamente. A superação do egoísmo espiritual é pensar que o que faço de bem seja bom para todos. Isso nos levará a vivermos melhor com as pessoas, pois dependemos uns dos outros para ir a Deus. Quando rezo, rezo com todos e por todos. Quando faço o bem, beneficio a todos. Se crescer espiritualmente, todo o Corpo de Cristo cresce comigo. Por isso não tem sentido o ódio, o isolamento, a divisão das pessoas. Reconhecemos o bem que cada um faz e procuramos cortar as arestas que prejudicam a unidade. Damos o testemunho da verdade que cremos, mas no amor. O amor é o sinal que estamos em Deus. Todos são irmãos, filhos do mesmo Pai. Usar a religião contra o amor é negar a Deus.
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