Na tarde do dia 7 de maio de 2011, em tempo pascal, Irmã Enilda de Paula Pedro, religiosa da Congregação do Bom Pastor, faleceu e ressuscitou. Fez a sua páscoa, passou da vida terrena para a vida em plenitude. muita saudade dela, melhor dizendo, sentindo a presença dela na ausência física, quero socializar com um grupo maior de pessoas um pequeno Tributo a Irmã Enilda.
Sentindo
Eu conheci a Irmã Enilda falando sobre a Palavra de Deus, na Bíblia e na Vida. Incrível sua paixão pela Palavra (de Deus) e pela causa dos pobres! Um dia, um estudante de teologia lhe disse: “Você só vê profecia na Bíblia!” Ela pontuou amorosamente: “Como podemos estudar Isaías, Jeremias, Elias, Amós, Oséias... sem buscar a contundência da profecia deles para nós hoje?”
Fiquei comovido quando Enilda me relatou a luta aguerrida que ela estava travando, após perder seus rins, em 2002 e começar a fazer hemodiálise. Ela me mostrou um livrinho autobiográfico que ela tinha escrito, mostrando como ela encarava e lidava com as limitações de saúde impostas a ela após perder os rins.
Eu pedi a ela o livrinho Uma História de “Mortes e Ressurreições”, em forma de Via Sacra e, com autorização dela, disponibilizei na internet em:
http://www.gilvander.org.br/Vida%20de%20Irm%E3%20Enilda.htm
(Coloque o link, acima, na internet e leia um texto de uma grande beleza espiritual e profética: Uma História de “Mortes e Ressurreições”, em forma de Via Sacra.)
Como assessora do CEBI[2] e do Centro Bíblico Verbo, Irmã Enilda publicou vários livros e artigos – sozinha ou em parceria. Cito alguns:
Como Ler o Primeiro Isaías 1-39 - Confiar em Javé, o Santo de Israel, Ed. Paulus, 1999.
Como Ler o Segundo Isaías (40-55) – Da semente esmagada brota nova vida, Ed. Paulus, 2004.
Como ler o Terceiro Isaías (56 - 66 ) - novo céu e nova terra, Ed. Paulus, 2004.
Como Ler o Livro de Malaquias - Defender a Tradição na Vida?, Ed. Paulus, 1997.
Como Ler o Livro de Oséias - Reconstruir a Casa, Ed. Paulus, 1997.
A quem ainda não leu os livros, acima, sugiro que leia. A quem já leu, digo que releia. Além de administrar a saudade da Irmã Enilda, estará bebendo água boa da Teologia da Libertação.
Maria do Rosário de Oliveira, advogada defensora dos pobres, assim se expressa sobre Irmã Enilda:
“Conheci Irmã Enilda no meio dos pobres. Inquieta, cheia de Deus e sedenta de justiça. Organizou campanhas de solidariedade com o povo da Comunidade Dandara, em Belo Horizonte, e mesmo "dormindo" muitas noites na cama de hemodiálise, várias vezes veio à Comunidade Dandara, assim como sabemos de sua luta junto à Comunidade Ventosa e ao povo sofrido de Belo Horizonte e, durante muitos anos, na periferia de São Paulo. Durante os dois primeiros anos de Dandara (2009-2010) recebi por várias vezes telefonema da Irmã Enilda me perguntando pelo povo. “Como está o povo de Dandara? Em que posso ajudar?”, perguntava sempre. Um dia, em uma reunião que fizemos na CRB[3] (o grupo de religiosas/os do GRI[4]) para planejarmos nosso trabalho de apoio às ocupações dos sem-casa, ao final, Irmã Enilda retirou da bolsa um pequeno pedaço de papel, deu para cada uma de nós e disse: "vamos fazer uma oração". No papel estava escrito:
"Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia. Porque o mundo pertence a quem se atreve e... muito mais: A VIDA É MUITO para ser insignificante.” (Charles Chaplin).
Obrigada Enilda! Você deixou para nós um legado: ir à luta com determinação. Até que chegue a justiça social, a dignidade humana e planetária. Seguimos na luta e contamos com sua energia, sua luz, agora partilhando vida plena.”
Irmã Maria José Meira (Irmã Dedé), Carmelita de Vedruna, apaixonada pela causa do Reino de Deus e dos pobres, recorda três coisas sobre a Irmã Enilda:
Suas três paixões: Enilda sempre nos encantou com sua FORÇA, ENERGIA e CORAGEM. Ela gostava de dizer: ‘As três grandes paixões de minha vida são Deus, a Palavra e os Pobres. Sem uma grande paixão não tem nada que nos sustente. A Vida Religiosa é caminhada de identificação com o Jesus de Filipenses 2: encarnação, despojamento, itinerância, compromisso, vulnerabilidade, provisoriedade, sem privilégios; encarnar-se de verdade, não na teoria, mas na prática! É deixar-se evangelizar pelos pobres e adaptar-se à realidade do povo!’.
O salmo 133(132): ela sempre nos contagiava nos encontros e rodas de conversa, quando falava deste salmo, por isso o mesmo tem para mim a sua cara e sempre me lembrarei dela quando o rezar: “Vejam como é bom, como é agradável os irmãos (e a irmãs!!!) viverem unidas/os... porque aí Javé manda a bênção e a vida para sempre!!!
Seu testemunho de Vida Religiosa nos caminhos da profecia: contam-nos que quando Dom Hélder Câmara, o profeta dos pobres, estava em sua passagem da morte para a ressurreição, pediu que não deixassem que morresse na Igreja a Profecia. Ao presenciar, no velório, o semblante de Enilda, tão sereno e ao mesmo tempo memória-viva de seu testemunho, escutava-a dizendo para nós todas/os, que seguimos crendo no caminho da Vida Religiosa em solidariedade-militante: “não deixem que morra a profecia na Vida Religiosa... sigam em fidelidade pascal nos caminhos do Reino”.
Enilda, não deixaremos o caminho que você percorreu, com sua vida testemunho-martírio, pois conheceu de perto o sofrimento dos pobres, na sua própria pele, pela trajetória do tratamento renal! Ajuda-nos a sair, em itinerância comprometida, dos “caixotes” (assim ela chamava as casas religiosas) – cuja tentação é cada vez maior de ficar na acomodação sem-sentido – e desinstalá-nos com seu testemunho de entrega radical, apaixonada e profética pelo Reino, até o final de seus dias aqui conosco!
E termino este testemunho com o Salmo que ela tanto gostava: sim, Enilda, Javé mandou para você muitas bênçãos e a VIDA PARA SEMPRE!!!!”
Assim foi e continuará sendo a grande Irmã Enilda: verdadeiramente uma boa pastora.
Oxalá tenhamos a grandeza de cultivar em nós a herança espiritual, humana e profética que Enilda nos legou. Enilda VIVE plenamente! Combateu o bom combate! Que beleza!
Belo Horizonte, 10 de maio de 2011, 25 anos do martírio de Padre Josimo Tavares, da CPT.
Gilvander Moreira[1]
[1] Frei e padre carmelita, mestre em Exegese Bíblica, professor do Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos, no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA -, em Belo Horizonte – no Seminário da Arquidiocese de Mariana, MG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: gilvander.moreira
[2] Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos.
[3] Conferência das/os Religiosos do Brasil.
[4] Grupo de Religiosas Inseridas no meio dos pobres.


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