BEATA IRMÃ DULCE |
SALVADOR, segunda-feira, 23 de maio de 2011 (ZENIT.org) - Não a conheci pessoalmente, Irmã Dulce. Contudo, como seu nome e sua fama ultrapassaram, ainda em vida, os limites da cidade de Salvador e do Estado da Bahia, a senhora há muito tempo é minha conhecida – e, por que não dizer? – minha amiga.
Tenha certeza: se eu tivesse imaginado que um dia seria o responsável pela Arquidiocese que foi a sua, onde a senhora viveu, trabalhou e se santificou, teria vindo aqui, para encontrá-la, e, levado por suas mãos, iria conhecer a sua obra. Vejo, contudo, que tudo isso foi providencial: não a conheci, mas estou conhecendo sua obra. Nosso Mestre nos ensina que pelos frutos se conhece uma árvore (cf. Mt 7,16-20). E a “árvore” que a senhora plantou fincou profundas raízes em nossa região, produzindo frutos diários de bondade, solidariedade e amor. Que o digam as milhares de pessoas que, doentes e sofridas, batem cada dia às portas de uma das fundações que a senhora deixou.
Tenho conhecido diversas facetas de sua personalidade, Irmã Dulce, graças a pessoas que a conheceram. Quando elas falam, mais do que por palavras, é pelo brilho de seu olhar que expressam a admiração que continuam tendo pela senhora. As marcas do amor que a senhora teve por Jesus Cristo e, por causa dele, pelos pobres, ficaram nos corações de inúmeras pessoas que testemunham o privilégio de tê-la conhecido e trabalhado a seu lado. Esses testemunhos, que aqui e ali a Imprensa publica, dariam matéria para um excelente livro que, espero, um dia será publicado, para a glória de Deus. Penso, também, no testemunho de padres que conheceram de perto suas inquietações e compartilharam intimamente de seus sofrimentos; penso, especialmente, no que pessoas simples dizem a seu respeito, Irmã Dulce – pessoas que foram beneficiadas por sua atenção, ficaram sensibilizadas com seu sorriso e apertaram, agradecidas, as suas mãos.
Jesus nos antecipou qual será a matéria do nosso julgamento final: “Tive fome e me deste de comer; sede, e me deste de beber; estive nu e me vestiste; desabrigado, e me acolheste...” Por isso, Irmã Dulce, o reconhecimento que a Igreja está fazendo de sua vida nada mudará para a senhora. O reconhecimento que realmente importa para a sua vida eterna é aquele que o Senhor Jesus, juiz dos vivos e dos mortos, lhe faz. Acontece, contudo, o seguinte, cara Irmã dos Pobres: todos nós, batizados, temos uma mesma vocação: a santidade. Ao escrever aos fiéis de Tessalônica, o apóstolo Paulo os advertiu: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3). Dez ou doze anos depois, dirigindo-se à comunidade de Éfeso, ele completou essa ideia: Deus nos escolheu em Cristo antes da criação do mundo, “para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos” (Ef 1,4).
Sua vida, Irmã Dulce, nos ensina que mais do que um quadro de valores ou um código de comportamento a nos orientar no caminho da santidade, temos um exemplo diante de nós: Jesus, mestre e modelo de toda santidade. Seremos santos, se o imitarmos. Para os que julgam isso difícil ou até mesmo impossível, a Igreja recorda pessoas como a senhora, que aceitaram o desafio de serem santas e passaram seus dias na imitação de Jesus. Delas – portanto, também da senhora – pode-se dizer o que Paulo disse de si mesmo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,20).
Irmã Dulce, agora a senhora é bem-aventurada. Como é bom ter diante de nós uma pessoa que percorreu as ruas de Salvador, atendeu nossos doentes e necessitados, e da qual muitos podem dizer: “Eu falei com ela! Eu fui atendido por ela! Eu a vi rezando e atendendo os pobres!”. Isto é para nós uma graça especial, que me deixa muito à vontade para pedir hoje, ao Senhor, duas coisas. A primeira: que ele nos dê a graça de trilharmos, nós mesmos, o caminho da santidade, que a senhora já percorreu e que ninguém pode percorrer por nós. A segunda: que unamos nossos esforços para diminuir e fazer desaparecer a pobreza e a miséria de nossa cidade e Estado, já que elas não têm como causa a vontade de Deus, mas são fruto da indiferença e do egoísmo humanos.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de Salvador
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