Edição n°1082 - 06 Janeiro, 2008 - Do Jornal o Estado do Triângulo - MG
“O padre construtor”, o título é do jornal ´O Popular´, de Goiânia, em matéria publicada no dia 17 de dezembro, definindo padre Antônio. “Ele tem na delicadeza a expressão da palavra e na coragem o ímpeto para o trabalho. Aos 86 anos, corpo franzino, padre Antonio Borges de Souza ainda coloca em prática o dom de construtor, a função à qual se apega com grande dedicação. Ao longo de 60 anos de ordenação, já ergueu 11 igrejas, seis delas em Goiás. Sua missão atual é concluir o convento das Irmãs da Copiosa Redenção e dar início a um abrigo para meninas de rua em situação de risco, em Trindade”, narrou o jornal, estampando uma foto do missionário à frente do convento.
Padre Antonio Borges, hoje reitor da Igreja Santíssimo Redentor, que abriga os restos mortais de Padre Pelágio (em processo de beatificação), fala um pouquinho de sua grande trajetória de vida na Igreja. Veja a entrevista concedida à repórter Maria Elena de Jesus.
ET- Padre Antônio, fala um pouco da sua infância, do menino Antônio que saiu da Fazenda Borá para o seminário. É verdade que o senhor foi com o padre Victor?
Pe. Antonio - Meus primeiros estudos foram em Sacramento e daqui segui para Aparecida (SP) com o padre Victor Coelho de Almeida. Eu tinha 14 anos, foi em 1935. Éramos cinco meninos, mas digo que os outros quatro foram apenas pra me levar, porque eles não ficaram. Éramos o Sergio Scalon, o Paixão Flores, um português chamado Antonio Teixeira, o Jorge Cordeiro e eu. O Paixão Flores e o Jorge ficaram mais tempo, mas desistiram e eu estou até hoje. Tem até uma passagem, na época da guerra eu fui convocado, mas o Superior conseguiu a minha dispensa, recorrendo ao Ministro da Guerra, o General Dutra.
ET - Vamos dar um salto no tempo. E chegamos no ano de 2007. O título “Padre Construtor” que o Jornal ´O Popular´ lhe deu, caiu-lhe como um luva, heim! Porque o senhor não só é construtor de almas mas também de templos. O senhor se lembra da primeira Igreja que construiu?
Pe. Antonio – Essa Igreja completou bodas de ouro servindo àquele povo e fui convidado para as festividades. A primeira Igreja foi construída em Pedrinha, município de Guaratinguetá (SP). Ali havia um povo muito bom, em cima da serra, muito cristão, mas abandonado, não havia Igreja. Mas havia um seminário e fui pra lá como diretor espiritual e incumbido de cuidar da evangelização do povo dos arredores. Ali construímos uma igreja no alto da serra da Mantiqueira. Foi a primeira igreja, construída com muita dificuldade, porque todo material chegava lá no lombo de burros. Comecei a construir não por vocação, mas por necessidade. Depois me mandaram pra Sacramento, aí nasceu o seminário. Trabalhar na construção de igreja é trabalhar por atacado na salvação das almas.
ET- Naquela época, 1959, o que levou o senhor a perceber que Sacramento era um bom lugar para abrigar um seminário-menor?
Pe. Antonio – Esse caso tem muito a ver com o Bispo Dom Alexandre Gonçalves Amaral e com o padre Saul Amaral. Dom Alexandre queria uma casa missionária na sua diocese, que na época abrangia todo o Triângulo Mineiro. Não havia a Diocese de Uberlândia (a Diocese de Uberlândia foi criada em 1961). E Dom Alexandre abriu as portas da diocese para criar essa casa missionária. Os encarregados da criação da casa estiveram visitando as cidades e a escolha foi para Araguari, só que havia uma oposição da Província, porque ia precisar de muitos padres e a idéia era criar além da casa missionária, um seminário. Um dia, eu estive aqui e o padre Saul me mostrou um jornal, dizendo que os redentoristas iriam para Araguari. Padre Saul me disse: 'Se eu soubesse que os redentoristas viriam pra cá, eu os teria convidado pra vir para Sacramento. Aqui é o lugar deles, é a terra de padre Vitor'. Aí eu lhe disse que não estava tarde, orientei-o a organizar uma comissão e fazer o pedido. E começamos com muita oração. Dona Jandira Cordeiro, desencadeou uma campanha de terço, movimentava a criançada e todo mundo pra rezar. Um dia os redentoristas vieram, gostaram e como o cônego Saul era muito ligado a Dom Alexandre, conseguiu a mudança dos redentoristas de Araguari pra cá. Padre Saul era um grande padre, trabalhou e apoiou muito para a construção dessa casa, que hoje está com os franciscanos.
ET – Entre 1959 a 1963, o senhor trabalhou para a construção do Seminário Santíssimo Redentor. Ficou famosa a campanha do “Tijolinho”. E depois o senhor tomou outros rumos, fala um pouquinho dessa época.
Pe. Antônio – De Sacramento, fui para o seminário de Potim, para a formação de irmãos, depois pra Basílica como coadjutor, pra paróquia de São Pedro, na acidade de Garça (SP), também como coadjutor e, em 1979, fui para a Província de Goiás, onde estou até hoje, na diocese de Rubiataba. Passei pelas cidades de Aruanã, Matrinchã e agora Trindade, desde 1999.
ET- Em Trindade, o senhor construiu e inaugurou em 2003, a Igreja de Padre Pelágio, chamado pelo povo goiano de “O apóstolo de Goiás”, conforme o livro, “O jeito de padre Pelágio”, escrito pelo padre Clovis Bovo. Fez a Via Sacra na avenida que dá acesso à Igreja. O que está faltando?
Pe. Antônio - Construímos a Igreja do Santíssimo Redentor, dedicada a Padre Pelágio Sauter, onde estão seus restos mortais. Ele é chamado pelo povo de “O apóstolo de Goiás”, e faleceu em 23 de novembro de 1961, em Goiânia. Fizemos a Via Sacra na avenida, em tamanho natural, a última estação, a ressurreição é na porta da Igreja . Mas a obra de Deus lá ainda não está concluída, estamos construindo o convento que irá abrigar as irmãs da Copiosa Redenção, que cuidam da Igreja. Já estão em Trindade, numa casa alugada e vão cuidar do centro de recuperação de crianças em situação de risco. Vamos construir esse centro, se Deus quiser.
ET- Padre Antonio, fala um pouquinho da sua rotina, o seu dia-a-dia e o segredo para essa jovialidade aos 86 anos.
Pe. Antonio – Não tem segredo, vivo em continua atividade, porque as obras que estamos construindo vêm do nada e dependem do nosso trabalho, buscar donativos, por isso em favor dessas obras vivo em constante atividade. São José não deixa faltar nada. A Santa Terezinha, a gente pede e ela manda. Visito pessoas, devotos e busco donativos para as obras. Para as obras da Igreja, por exemplo, visitei mais de 500 famílias em Goiânia.
ET- Mas como é o seu dia? A que horas o senhor acorda? A que horas dorme?
Pe. Antonio – Acordo às 5h30 e primeiro vou cuidar da minha alma, fico em oração até as 8h00. Enquanto eu não cumpro as minhas obrigações diante de Deus, não começo o meu dia. Aí tomo um café e vou pra luta. Almoço e quando posso, tiro um descanso após o almoço. E durmo às 10h00 horas da noite, depois de fazer minhas orações.
ET- É verdade que o senhor nunca ficou um dia sem celebrar?
Pe. Antonio – Celebro todos os dias, faço questão. Cada dia da semana tem uma celebração: na segunda-feira,tem a novena de padre Pelágio; na terça-feira, é missa no convento das minhas Irmãs da Copiosa Redenção; na quarta-feira, missa no Carmelo e benfeitores, à noite; na quinta, missa e adoração na Igreja; sexta-feira, missa com adoração, às 15h00; sábado, o momento mariano, resgatando a reza do terço feita pelo padre Pelágio e o oficio cantado seguido da missa; e, no domingo, a missa das 10h00.
ET- Sobre esses 60 anos a serviço de Deus e Seu reino, o que o senhor pode dizer?
Pe. Antonio - Falar desses 60 anos é meio difícil, porque passaram como um relâmpago. Sempre ocupado, trabalhando, não vi o tempo passar. Só agora, me dei conta desse tempo que passou e estou tranqüilo, feliz e agradecido a Deus por esse tempo todo do meu sacerdócio, trabalhando para o reino de Deus. Não trabalhei para mim e não fui eu que realizei, eu fui um instrumento, fui como uma vassoura, fui um servo de Deus para a Igreja e para o povo.
ET- Padre Antonio, o senhor já recebeu a Comenda de Nossa senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, a maior honraria da cidade e agora foi agraciado com a Medalha do Mérito Legislativo. O que o senhor tem a dizer?
Pe. Antonio – Fico muito grato por essa homenagem da Câmara e só tenho a agradecer. Não pude vir, mas justifiquei a ausência, mas vou fazer uma visita ao presidente da Câmara, o senhor Aristócles Borges da Matta e ao vereador José Carlos Basso De Santi Vieira. Fico muito honrado com a homenagem.
ET – Que mensagem o Sr. deixaria para os filhos de Sacramento que o amam tanto e que gostariam de celebrar também com o Sr. esses 60 anos de santidade, de dedicação, de construção de almas e templos?
Pe. Antonio - Digo para o povo de Sacramento que estamos aqui provisoriamente para servir a Deus e que a vida é muito curta, por isso tudo o que fizermos por Ele é pouco. Só o que vale é o que é eterno, esse mundo passa depressa. O que fazemos aqui, em vista da eternidade, é para Deus. A nossa vida é breve e precisamos aproveitá-lo para Deus. Temos que estar sempre a serviço de Deus, seja qual for a nossa vocação.
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