128 – Profissões... Butantã – triste aniversário...
Fim de ano no Seminário, os seminaristas éramos nomeados para algumas profissões durante o ano seguinte.         Todos os anos indicavam-me para desenhista. Os  desenhistas escreviam faixas, desenhavam programas de festas, alguns desenhos ou  pinturas na capela ou para as peças de teatro.
         Três os sacristãos: o primeiro era o Luciano,  Dalton o segundo – Luciano hoje é pianista e maestro e o Dalton é Padre  Redentorista, tendo sido, inclusive, Provincial. Comecei pelo terceiro, e  segundo no ano seguinte.
         Fazia parte do pessoal que podia pegar os  animais para o museu de história natural. Os animais peçonhentos, venenosos, não  colocados no museu, eram mandados para o Instituto Butantã em São Paulo.  Principalmente durante as férias na Casa de Campo, íamos pegando as cobras e  colocando em caixas enviadas pelo Butantã e no final, em um pátio interno,  soltávamos as cobras e alguns sapos para elas comerem. Os meninos mais novos  debruçavam-se no parapeito da varanda e se admiravam de eu estar ali no meio  daqueles bichos pavorosos para alguns.
         Falava-se que as caixas com as cobras eram  entregues na estação ferroviária da Central do Brasil – hoje doada a uma  multinacional - e seguiam para o Butantã no primeiro trem que  passasse.
         No setor onde o Butantã guardava as cobras – as  embalsamadas – o fogo destruiu a maior coleção científica de cobras do mundo,  iniciada há 120 anos. Havia cerca de 85 mil exemplares eram no prédio. O acervo  de aracnídeos, com 450 mil aranhas e escorpiões, também se perdeu. Junto com os  mais de 500 mil espécimes de animais, o acervo digitalizado do Instituto Butantã  pode ter se perdido no incêndio, que atingiu um galpão do centro de pesquisas,  na capital paulista, na manhã de sábado de 15 de maio de 2010 – triste  aniversário... 
         Durante pelo menos cinco anos, de 1953 a 1957,  colegas e eu pegamos muitas cobras, que enviadas ao Butantã, talvez tenham sido  embalsamadas, guardadas e, quem sabe, queimadas nesse triste incêndio ou salvas  pelos bombeiros e cientistas. Neste caso, minha satisfação seria enorme, mas se  queimadas, a tristeza também seria enorme – nos dois casos, a alegria e a  tristeza seriam não só minhas, mas de toda a humanidade.
                    Benedito Franco
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.