Foi lavrada a sentença da condenção de Jesus à morte de cruz por um juiz injusto e iníquo. Um cortejo subia lentamente a rua que leva ao Calvário. Caminho íngreme, invadido aqui e ali pelas poças d'água. À frente seguia um rapaz vestido de andrajos, levando a tabuleta com a sentença da condenação: Jesus Nazareno (declarou) rei dos judeus.Atrás dele marchava um magote de soldados. Os elmos dos capacetes romanos faiscavam à luz do sol. Em seguida vinham os carrascos e, no meio, Jesus com sua pesada cruz sobre os ombros. O sangue corria das feridas, banhando a terra. Onde os pés pisavam, podiam-se ver os vestígios sangrentos. Viam-se no seu semblante todos os sinais da exaustão.
O cortejo parou subitamente. Cavaleiros sofrearam seus animais. Todos os olhares se voltaram para um vulto branco, estendido no chão. Jesus havia caído, vencido pela fraqueza, esmagado pelo peso da cruz. Era o fim de suas forças. Chegaria com vida até o ponto final do caminho doloroso? O centurião recebera ordens de crucificá-lo vivo. Tornava-se necessário encontrar uma solução. Felizmente estava passando por ali um lavrador, de volta do trabalho. Era Simão, o cireneu. Quis recusar, mas jogaram-lhe a cruz sobre os ombros, e teve de carregá-la. Desta maneira o divino Condenado poderia chegar com vida até o alto, para sofrer a pena máxima. E o Cireneu? Diz a tradição que, do constrangimento em carregar a cruz, passou para uma sublime aceitação. Sentiu-se feliz por poder ajudar aquele homem que irradiava tanta nobreza de alma. Não seria ele o Messias? pensou Simão.Chegaram finalmente. No chão viam-se restos das ultimas execuções: Manchas de sangue, trapos de roupa e pedaços de cordas. A poder de fortes marteladas, entre blasfêmias e zombarias, foram enterrados os cravos nas mãos e nos pés. Depois foi erguida a cruz. Ao soltá-lo no buraco, a cruz levou tamanho solavanco que abalou e rasgou ainda mais as feridas do divino Mártir. Jesus ficou pairando entre o céu e a terra, ladeado pelos dois ladrões que foram crucificados com ele. Ao redor de Jesus todos comentavam e tagarelavam, habituados a ver cenas desse tipo. Poucos sentiam compaixão, excetuando-se o grupo das mulhere s Maria Adulá-la, Maria Salomé, Maria Mãe de Jesus, e João o discípulo fiel. Sua extremosa Mãe estava aos pés da cruz, mas não podia prestar-lhe o menor socorro. Um tanto escondido pela escuridão que envolvia a terra, Jesus voltou-se com dificuldade para ela e lhe disse, num fio de voz: - Eis aí teu filho. Depois, voltando-se para João, disse: - Eis aí a tua mãe.
Assim dizendo, Jesus estava confiando sua Mãe aos cuidados de João Evangelista. Proferiu diversas outras palavras que ficaram como testamento e mensagem derradeira ao mundo: - Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem. - Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?! - Tenho sede! Ao bom ladrão:
- Hoje mesmo estarás comigo no paraíso. - Está tudo consumado. - Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. Reclinando a cabeça, Jesus exalou o último suspiro. A terra tremeu, os rochedos fenderam-se as trevas cobriram a terra, e os mortos saíram de suas sepulturas. Era o desequilíbrio da natureza, provocado pela morte do Senhor do mundo. Os últimos curiosos desceram a colina, enquanto alguns batiam no peit o repetindo: Este homem era verdadeiramente o Filho de Deus. José de Arimatéia tinha uma sepultura nova, próxima ao local da crucifixão. Ofereceu-a generosamente para o sepultamento daquele que, em vida, tantos benefícios lhe prestara. Escurecia rapidamente, enquanto os três homens, José, Nicodemus e João evangelista tiravam Jesus da cruz, extraindo os cravos com todo o cuidado. Depois, envolvendo-o em panos de linho, depositaram-no ainda no regaço de sua Mãe. Formou-se o cortejo fúnebre em direção ao sepulcro, escavado na rocha BR. Era preciso apressar as cerimônias, pois aproximava-se o sábado, no qual nada se podia fazer. José de Arimatéia fechou o sepulcro, e todos se retiraram em silêncio.Antes que o sol se pusesse, alguns soldados e membros do Conselho vieram certificar-se de tudo. Jesus estava morto, mas tinham lá seus receios. Ele afirmara em vida que ressuscitaria ao terceiro dia. Era ridículo acreditar numa tolice dessas, pensavam eles, ma tudo podia acontecer. Por isso, acenando aos soldados, ordenaram: - Rolem uma pedra bem pesada junto à porta do sepulcro. Ainda não era suficiente. Selando a entrada e deixando sentinelas armadas, voltaram para casa. Assunto liquidado, comentavam no caminho. Aquele Nazareno lhes dera tantos sustos, mas provou-se mais uma vez que a chantagem tem pernas curtas. O silêncio e o sossego pairavam sobre a Jerusalém adormecida.
PADRE CLÓVIS DE JESUS BOVO CSsR Recomende este site aos seus amigos: |
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