REUNIFICAÇÂO DA CSSR

No próximo dia 15 comemoraremos a Festa de São Clemente. Transcrevemos a seguir sua carta onde afirma entre outras coisas, sua obediência ao Superior eleito.

Primeira carta de São Clemente enviada ao Padre Pietro Paolo Blasucci (1729 – 1817), por ocasião do Capítulo de reunificação e eleição do mesmo Blasucci como novo superior geral. (Escrita em latim)

Fala da pobreza e demais dificuldades da comunidade de Varsóvia, mas também dos abundantes frutos pastorais que conseguem lá.

“ J.M.J.

Varsóvia, 23 de maio de 1793.

Reverendíssimo Padre,

Meu desejo é que nossas congratulações não sejam as últimas no meio dos demais ferventes votos e felicitações recebidos pelo tão desejado êxito do Capítulo, a feliz eleição de Sua paternidade como reitor-mor e a união por fim alcançada nessa tão triste separação entre a Congregação de Roma e a de Nápoles.

Como sinal deste desejo, humildemente apresento à Sua paternidade reve

rendíssima minha total e plena obediência e a todos os meus, tanto padres como irmãos, que formamos a família nesta casa de São Beno. Para todos imploro Sua santa bênção.

Quanto ao mais, dou imensas graças a Deus, principalmente porque foi reparado o escândalo dado por quem quer que seja com aquela infeliz divisão, que tanto contristava nosso espírito. Mas tudo isto (que penso dever atribuir-se somente a certo zelo imaturo) convém sepultar e abandonar ao eterno esquecimento num arquivo, para alimento das traças.

Eu quisera expor a situação de nossa casa missionária aqui no norte, mas não posso fazer outra coisa do que dizer que é só pela divina Providência que ela se sustenta de modo admirável.

Com efeito, nenhuma fundação (ou fundo ou ajuda) é segura. E se a gente encontra alguma ajuda, é tão escassa que apenas consegue custear os gastos necessários de velas, azeite e vinho para a igreja.

Não em vão surgiu esta casa com tanto trabalho, entre tantas perseguições, contrariedades, apertos e dificuldades, a tal ponto que mais de uma vez estivemos para desanimar e perder toda esperança de permanecer por mais tempo. De modo que somente os auxílios, argumentações, conselhos e encorajamento que de tempo em tempo o senhor núncio (Fernando Maria Saluzzo - 1744 – 1816) nos proporcionava, fizeram com que há mais tempo não voltássemos para a Itália. Entretanto, pela bondade de Deus, tudo se acalmou. Não nos falta nada, a não ser uma casa um pouco mais ampla e melhores entradas, o que certamente se teria conseguido se as circunstâncias atuais não tivessem impedido a execução do subsídio real.

Devido ao proveito espiritual que nossa pequena família conseguiu até agora para glória e Deus, honra da Igreja e salvação das almas,pode-se afirmar claramente que o senhor núncio agiu por disposição divina quando nos mandou ficar aqui. É certo que o trabalho é enorme. Para ser breve, não enumero as dificuldades que se deve superar no apostolado, aqui onde toda a classe de seitas e pecados atua livremente. O reverendíssimo Padre Francisco de Paula e o Padre Leggio poderão contá-las, pois eu as descrevi profusamente para eles em outra oportunidade.

Posteriormente, quando estiver adiantado este trabalho apostólico, poderemos progredir por estes lados, e em breve tempo poderíamos também enviar missionários para a Suécia e outras regiões setentrionais, se a Sagrada Congregação da Propaganda Fide me dá uma mão através do excelentíssimo núncio; e também se nosso reverendíssimo padre geral, eleito ultimamente, aceita a proposta de erigir na Alemanha uma casa de formação para os missionários que chegarem ser enviados par estas regiões, porque aqui os alemães são indispensáveis. Mas como esta esperança se desvaneceu, não resta senão rezar insistentemente ao Senhor para que se digne enviar operários para a sua vinha, conforme sua vontade.

Tenho quatro jovens que vão terminar seu ano de provação. Jovens honestos, de boa índole e muito futuro, que cumpriram de modo admirável o programa do noviciado. Não há, pois, nenhum obstáculo para que façam os votos simples, segundo nossas regras, ao terminar o noviciado; mas como, todavia não chegaram aos 24 anos (um deles nem sequer aos 20), só farão os três votos, sem o juramento de perseverança que, de acordo com o senhor núncio, deve ser adiado até depois dos 24. Este adiamento do juramento nos tirou muitos problemas, em primeiro lugar porque se evita o escândalo, dado que esta gente costuma ser muito inconstante em seus propósitos; e também porque, se algum deles quiser abandonar a vida comum durante seus primeiros anos de adolescência, evita-se o juramento falso, etc.

A experiência e outros argumentos nos demonstram que é muito mais proveitoso, tanto para a tranqüilidade da família, como por respeito ao povo, diferir o juramento (de perseverança) até a idade indicada.

Além dos já mencionados, há outros quatro que aspiram entrar na Congregação e estão nas mesmas condições.

Voltando ao assunto anterior: embora a língua comum nestas regiões não seja o alemão nem exista conexão alguma com esta língua, entretanto encontram-se alemães por toda a parte. Inclusive há cidades quase totalmente de operários, artesãos e comerciantes alemães, que se misturam entre luteranos, calvinistas ou católicos.

Os católicos, onde não há culto próprio para eles devido à falta de sacerdotes da sua língua nativa, preferem participar das pregações de outras religiões, do que ir a uma igreja ou a uma pregação polonesa. Daí muitos católicos separam-se da verdadeira fé, talvez não pública, mas privadamente. Afastam-se dos sacramentos durante dez, vinte ou mais anos, porque não têm a quem confessar seus pecados, e desse modo as almas se perdem por falta de operários apostólicos.

Termino minha carta beijando a mão de Sua paternidade reverendíssima. Recomendo-me com toda essa família à Sua benevolência, às Suas orações e carinho paterno, e imploro sua bênção.

De Sua paternidade,

Filho e irmão mui humilde e obediente,

P. Joan. Clemens M. Hoffbauer

Cong. Ssmi. Redempt. Super.