INESQUECÍVEL BELISCÃO!
Lá se vão os bons tempos em que a Semana Santa era guardada para veler mesmo. O jejum da Quaresma era rigoroso e, assim mesmo, respeitado.
Na Sexta-feira Santa então, o luto era total. Os trens não apitavam, os automóveis não buzinavam e em casa a gente não podia cantar, falar alto e muito menos assobiar. Era um silêncio geral em respeito à morte do Filho de Deus, na Cruz. Os sons dos sinos e campainhas eram substituídos pelo estalar das matracas de madeira. Na procissão do enterro, ou do Senhor morto, não podia faltar ninguém. As casas se esvaziavam e a população comparecia em peso, e, atrás do esquife, a multidão caminhava no mais profundo silêncio.
Ainda pequeno fui levado pelos meus pais para participar dessa cerimônia. Em dado momento pára a procissão para o tradicional canto da Verônica.
Embora muito longe para ouvi-la (não havia ainda os alto-falantes) paramos também. Quase esmagado no meio daquele povão, acostumados aos termos da fazenda e sem entender o motivo daquela parada, falei bem alto:
-"EH!EMPACOU!..."
A seriedade daquele momento não impediu que muita gente risse alto de minha intempestiva intervenção, assim como não impediu o doloroso beliscão que minha mãe pespegou em meu braço.
Se não chorara pelo Senhor Morto, foi com lágrimas nos olhos que acompanhei até o fim da cerimônia. Até hoje, quando acompanho essa procissão, agora como padre, e ouço o canto da Verônica, parece-me que ainda sinto no braço a dor daquele tão longínquo beliscão.
REVISTA DE APARECIDA - MARÇO/2011
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