Festejar: bela arte da alma humana!
Que o excesso não chegue como vilão das belas e importantes expressões de alegria que produzem a alma humana
O final de um ano e o começo de outro chegam e, assim, aquele clima geral, multiforme, de tantas comemorações. A maior delas, sem dúvidas, fica concentrada na noite da passagem - o réveillon. Interessante que essa palavra francesa se assemelha ao verboréveiller, que significa despertar, acordar. Até os mais descrentes parecem sentir que muitas coisas despertam no coração humano durante tais festejos. Há uma graça diferente e provocadora de novas perspectivas que povoam os horizontes de cada um. É o coração humano quebrando a rotina e confessando que a vida não é feita somente de compromissos, mas de alegrias, de cantos e encantos. E os novos desejos vão nascendo lá do fundo da alma, revelando que a existência é mesmo um grande presente do infinito. Por isso, as festas de passagens são sempre enfeitadas de grandes oportunidades de reconhecer as pulsões vitais que impulsionam e dão sentido às construções cotidianas. Não é sem propósito que, apesar da precariedade de estradas, aeroportos tanta gente encontra-se viajando para entrar, juntamente com outros semelhantes, numa grande apoteose dos ritos de passagens do velho para o novo. Os transtornos, as intempéries parecem perder importância diante de um desejo maior que é o de soltar as asas e, num grande vôo, reconhecer que vale a pena fazer parte de um dom tão precioso e renovado que é a humanidade. Talvez seja por isso que os fogos, as canções, as danças, são bem vindos porque revelam o mistério e a graça de seres tão frágeis, mas tão criativos ao mesmo tempo. Seres que guardam, no fundo da alma, o desejo de que o amor não seja perdido com a fugacidade da história, mas que perdure em tons de eternidade mostrando que é ele que move os corações em expressões assim tão divinas.
É hora, pois, de espantar os pesos do caminho e encher a vida dos sentimentos melhores. E isso é possível? Vale a ousadia de pensar em algumas recomendações. Primeiro, os desejos bons ou ruins que aparecem, de forma especial nessas ocasiões, não vêm lá de fora. Eles estão armazenados no interior de cada um. E sem uma boa amizade com tudo aquilo que faz parte da história individual, os humanos se perdem num caos de coisas vazias. Depois, é normal pensar que uma voz vai dizer o que será bom ou ruim. Ah! Quantas adivinhações, preces! Isso tudo vale porque aponta para uma esperança de dias melhores. Mas não pode tirar ninguém de seus compromissos, de seus projetos. Há gente que se estacionou na vida à espera de uma solução mágica. Outros até pensam que a vida é um ensaio para viver de verdade a partir daquele dia em que a sorte bater à sua porta. Esquecem-se de que não existe ensaio para viver. É vivendo que se aprende!
Por fim, cuidado com os excessos. É possível celebrar as passagens sem ter que curtir uma grande dor de cabeça depois. Lembre-se de que o ano apenas está começando e o maior presente que se pode ter é a esperança de que o caminho pela frente seja longo e diverso. Que o excesso não chegue como vilão das belas e importantes expressões de alegria que produzem a alma humana. Seja ele banido com aquela boa harmonia que é também saber viver o lazer como forma de louvor Àquele que concede as chances de agradecer.
Autor: Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R.
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