PADRE LUÍS KIRCHNER CSsR
Luzes sobre o novo livro de Papa Bento XVI
Comentaristas internacionais, como John Allen, têm notado pontos interessandtes no novo livro de Bento XVI. Não são necessariamente parte dos temas maiores que ele trata, mas merecem consideração, pois oferecem luzes sobre seu pensamento.
Um primeiro ponto é que Bento enfrenta a questão se podemos chamar Deus de Mãe. Em poucas palavras, ele afirma que Deus está acima da questão de gênero. Frequentemente a Bíblia usa a imagem do ventre para expressar a intimidade do amor de Deus para com a humanidade. Entretanto, o titulo de Mãe não é usado na Bíblia, e a Igreja não está autorizada a usar esta palavra.
Papa Ratzinger nota que existiu certo numero de Deusas Mães nas tradições religiosas das culturas que cercavam os Israelitas. Talvez por causa disso era necessário evitar este tipo de linguagem, para que a supremâcia de Deus, o fato de ele ser o outro, ficasse clara. Ele reconhece que o argumento não é forte, mas de qualquer jeito, devemos seguir a Bíblia em primeiro lugar.
Independente de os argumentos sobre esse assunto serem convincentes ou não, a linguagem que a Biblia inteira usa em orações continua normativa para nós. A palavra Mãe não é titulo que que tenha sido usado ou dado a Deus. Devemos rezar como Jesus nos ensinou a rezar, não como nos aparece ou agrada. Assim rezaremos corretamente.
Segundo ponto: Apesar do fato de estar havendo tensões nas relações católico-judaicas em Israel, sobre a maneira de apresentar a figura e a história de Pio XII, é interessante como Bento faz referencias ao Judaismo no seu livro. Seguindo uma exegese e teologia cristã classica, Bento afirma claramente que Cristo é a realização e cumprimento das promessas e anseios expressos nas Escrituras Hebraicas.
O Papa mostra-se impaciente com as sugestões que Cristo se rebelou contra as exigências da lei judaica. De fato Cristo “universalizou” a lei, para ser aplicável a todos, mas repetiu diversas vezes que Ele não veio para cancelar a lei ou os profetas. Insiste que Cristo não minimizou a importância do Antigo Testamento para cristianismo.
Um dos autores em que Bento se baseia, e cita muitas vezes com carinho, é judeu. Dedicou doze paginas a refletir sobre o livro de Jacob Neusner: Um Rabino conversa com Jesus. Bento chama-o até de “grande intelectual”. Ele elogia esse exegete que conseguiu enxergar o que escapou a outros autores cristãos: O Jesus do Novo Testamento é precisamente o Cristo da fé, aquele que reclamou para si a autoridade que pertence somente a Deus!
“Jesus não foi apenas mais um rabino reformador”, Neusner escreve, acabando com a imagem de Jesus como o pregador de uma moral liberal, promovida por pessoas com Harnack e outros comentaristas biblicos. Bento acha que se andar no mesmo caminho com Neusner, irá entender melhor “nossos irmãos judeus”.
A parábola do “Filho Pródigo”, ou como Bento prefere, a “Parábola dos Dois Irmãos”, exemplifica outra visão do Papa sobre judaísmo. O filho que saiu de casa representa os pagãos que conseguiram enxergar a luz, arrependeram-se e voltaram à casa paterna. Os judeus são representados pelo irmão que ficou sempre em casa, e seguiu todas as leis e normas. O papa nota que o pai disse ao filho mais velho: meu filho, você sempre estava comigo, e tudo que tenho é seu.
É possível sentir que Bento não tem muita paciência com os exegetas que semeiam duvidas sobre a veracidade dos Evangelhos. Por exemplo, nas tentações que Cristo enfrenta com o demônio, Satanás reforça seus argumentos com citações dos Salmos, enquanto Jesus cita o livro de Deuteronómio. Bento acha que o debate entre os dois é igual ao de dois peritos da Bíblia. Cita um filosofo russo do século 19, que ironiza dizendo que o Anti-Cristo recebeu um doctorado “Honoris Causa” de teologia da Universidade de Tübingen, e é um perito nas coisas da Bíblia. Há o perigo, segundo o papa, de uma exegese intelectualizada demais. Certos estudos podem levar uma pessoa por caminhos errados, e ser um instrumento do Anti-Cristo, pois os livros mais perigosos para a fé sofrem influências de uma exegese errada.
Semana que vem concluirei a minha reflexão sobre o novo livro de Bento XVI, JESUS DE NAZARÉ.

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