PADRE RAFAEL VIEIRA CSsR
No sábado passado, dia 31 de janeiro, Tom Cruise chegou ao Brasil. Um astro do cinema que começou a atuar em produções de sucesso quando ainda era adolescente e hoje é um rapaz maduro com família e filhos. Ele veio ao país divulgar seu último filme. Uma história intrigante. Realização norte-americana com participação de produtores alemães que custou cerca de 100 milhões de dólares. “Valkyrie” ou “Operação Valquíria” inspirado em fatos reais já contados em vários livros como o do alemão Tobias Kniebe. Oficiais planejaram matar Adolf Hitler em 1944 e, se seus planos tivessem dado certo, a história do mundo ocidental teria sido outra da metade do século passado para cá. Cruise faz o papel de um dos líderes de uma conspiração, o coronel Claus von Stauffenberg. Aqui no Brasil, o ator também quis descansar e sua assessoria proibiu que os jornalistas fizessem perguntas sobre a sua religião, a cientologia, na entrevista coletiva que ele concedeu ontem, terça-feira, depois do pré-lançamento do filme. Da minha parte, acompanho esses fatos e destaco um tema interessante: a Folha de São Paulo reproduziu uma conversa de Cruise com a jornalista Lynn Hirschberg da revista “New York Times” na qual ele fala do modo como lida com o medo de todo dia. E registro uma curiosidade que eu desconhecia e que pode ter algum significado para quem é católico: o ator foi, por um ano, seminarista franciscano.
“Tudo o que sei é que o medo sempre esteve presente em minha vida, mas é preciso ignorá-lo”, disse o galã de “Top Gun”. Os editores da Folha colocaram na capa do jornal do domingo passado que o ator prefere “driblar” o medo. Uma bela dedução. Cruise seria incapaz de usar esse verbo porque lhe falta familiaridade com o futebol para lançar mão da metáfora. Eu imagino que essa tem sido a atitude de quase todo mundo que tem um pouco de juízo: driblar o medo. Somos todos atingidos pela insegurança e até os mais corajosos têm medo. Quem diz o contrário está enganando a si mesmo ou prefere dar outros nomes ao que sente quando percebe os sinais da violência gratuita que nos circunda em quase todo canto. Quem não tem medo do que o tempo pode fazer com a saúde, a memória, a pele? Quem não sente medo ao imaginar que há pessoas que passam dias diante do computador, esquecem seus laços familiares, perdem-se nos seus delírios, compram armas e saem pelas ruas para exterminar o primeiro que achar pela frente? O medo é um componente quase sempre presente em qualquer empreendimento humano dos nossos dias. A conseqüência dele é a disposição de correr o risco. O medo não pode paralisar. Pode dar consciência mais consistente da seriedade da vida e até estimular cuidados que a segurança dispensa. Quem tem medo, fica alerta. E, como diz o ator de “Nascido em 4 de julho” e “De olhos bem abertos”, não faz nenhum mal, ignorá-lo. Na medida certa, claro. Os mais afoitos costumam arrepender-se.
Desconheço o roteiro do filme sobre o Fuhrer, mas morro de medo de tudo o que significou o nazismo para o mundo. Uma semana atrás, teve inicio uma crise entre Israel e o Vaticano porque um bispo minimizou o Holocausto. Tenho muito medo de que essas revisões que retiram ou acrescentam elementos a uma tragédia podem complicar o delicado diálogo entre a Santa Sé e o estado israelense. Acho que o filme de Cruise vai levantar poeira e, por isso, mais uma vez, sinto que é preciso driblar o medo. Existem tantos motivos concretos e objetivos para se ter medo neste começo de ano: o desemprego causado por uma das mais graves da economia mundial; o resultado da costumeira farra de interesses menores que deu o tom na escolha dos novos presidentes do Senado da Republica e da Câmara dos Deputados; os números dos mortos nas estradas; a praga da droga arrebentando com famílias inteiras. Esta semana, Tom Cruise deve ir embora para casa. Leva, com ele, bela esposa Katie Holmes. E nós ficamos aqui com nossos problemas. Compensa pensar sobre uma de suas mais interessantes afirmações feitas antes de pisar aqui no Brasil: “Não sei para onde isso está indo, mas vou continuar com o pé no acelerador. Segurem-se, crianças!”.
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