Pe. Luiz Carlos de Oliveira CSsR
“Valores das riquezas”
A verdadeira riqueza
Continuando a reflexão sobre economia e fé, buscamos entender os bens materiais na visão da justiça social e do evangelho. Lucas tem uma predileção particular para com os pobres. Em seu evangelho há dez textos nos quais se refere ao tema: A eles é anunciado o evangelho (Lc 4,18); são eles os bem-aventurados (6,20); sua evangelização é sinal da presença do Reino (7,28); são os beneficiados em diversos momentos (14,21;18,22;19,8). Sua comunidade era pobre, como o pobre Lázaro em contraste com o rico. Amós e Lucas apresentam os ricos que vivem despreocupados, em luxo descabido, banqueteando-se, sem se preocupar com o sofrimento do povo. No mundo atual, uma pequena porcentagem 15% de ricos detêm 70% das riquezas, enquanto 85% está com os outros 30%. Um bilhão de pessoas vive com menos de um dólar por dia. (Deus Conosco 26.09.10). Podemos ver o abismo que separa o povo do mínimo necessário para a vida, distantes de um bem estar. É o mesmo abismo que a parábola apresenta entre o que Deus quer e o que está perdido para sempre, isto é, a condenação eterna. Isso não é terrorismo espiritual, mas uma realidade que beira o terror. Nós, no Brasil, vivemos ainda uma boa situação. A fome é uma realidade que pode ser pior do que a guerra. Sobre os que têm o poder e a riqueza pesa uma hipoteca grave. Deus nos fez iguais. Compete a nós criar oportunidade a todos. A parábola não é só uma alerta mas é também um convite à mudança. Na multiplicação dos pães Jesus disse aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13). Não se trata de dar restos, mas colocar o povo em condições de se recuperar e assumir sua vida nas mãos. Os ricos de Samaria tiveram sua sorte virada em 722 AC. quando foram levados para o cativeiro pela Assíria. E no mundo atual, quando será a virada? As duas torres foram um símbolo. Mas houve conversão?
Fé é opção
Pelo caminho da fé, isto é, escuta e obediência à Palavra de Deus, poderemos encaminhar soluções para o mundo. Somente a Palavra de Deus pode converter: “Eles têm Moisés e os profetas, isto é, a Palavra de Deus. Que os escutem” (Lc 16,30-31). Isso poderá salvar e modificar o panorama de sofrimentos do mundo. Não haverá milagres para mudar a situação. O rico quer salvar sua família pedindo que um morto vá avisar... milagres não curam esses males. Esmola, na língua hebraica, deriva da palavra justiça (tzedakáh – esmola e tzedek – justiça). Paulo estimula Timóteo: “Tu, que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão...” (1Tm 6,11). Se a fé não se transformar em uma decisão política e social de mudança, é vazia.
Nem ricos, nem pobres
O texto mostra uma virada: O rico vai para o Inferno e o pobre para o Céu, dito seio de Abraão. Não se pretende que os ricos sejam pobres e pobres sejam ricos. Mas que todos sejam irmãos (D.Helder). A grande pergunta que poderemos ouvir: ‘O que você fez com os bens que lhe dei como fonte de vida para si em abundância e para com os outros com generosidade’? O princípio evangélico é para gerar o equilíbrio. A terra foi dada para todos. A Igreja que se cuide de não abençoar a maldade. Voillaume diz: “Enquanto a Igreja não se desligar dos poderosos, não poderá encontrar a alma do povo”. Deus cuida dos fracos, como reza o salmo 145. A Eucaristia, como partilha do pão é uma escola social.
Leituras:Amós 6,1ª.4-7;Salmo 145; 1 Timóteo 6,11-16; Lucas 16,1 9-31.
1. Continuamos a reflexão sobre economia e fé. Lucas tem predileção pelos pobres e a eles se refere diversas vezes. Sua comunidade é retratada na parábola do pobre Lázaro e o rico. Amós e Lucas mostram os ricos despreocupados e nababos. No mundo atual há muita fome e miséria. Este abismo se repete na vida pós morte. Sobre os que tem poder e riqueza pesa uma hipoteca grave. Deus quer todos iguais. Jesus manda: “Dai vós mesmos de comer”. Não se trata de dar restos, mas dar condições de vida. Os ricos de Samaria sofreram por sua insolência. E a nós, o que acontecerá?
2. A modificação da situação se dará pela obediência à Palavra de Deus. Nem os mortos podem nos convencer a mudar. Esmola tem sua origem na palavra Justiça. A fé de Timóteo é modelo para a mudança. Fé que se transforma em decisão política.
3. O texto diz de uma virada de situação de pobre a bem-aventurado e rico condenado. Não pretendemos deste modo, mas que todos sejam irmãos. O que fazemos com os bens que Deus nos deu? A Igreja tem que se desatrelar dos poderosos. A Eucaristia é uma escola para a justiça social.
O buraco negro da fome
Já é por demais conhecida a situação de fome do mundo e por demais descurada a solução. Fome sempre existiu no meio das populações. Pode ler as críticas que o profeta Amós que faz críticas sérias aos ricos de seu tempo: “Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião... os que deitam em camas de marfim... e não se preocupam com a ruína do povo” (Am 6,1-6). Parece que foi escrito ontem. Esta situação de fome é quase sempre provocada pela ganância de alguns e má administração de outros. O povo pobre sempre paga.
Jesus conta uma parábola do rico e do pobre Lázaro. Depois da morte há uma mudança de posição: “Lázaro vai para o Céu e o rico para o inferno”.
Jesus apresenta a solução: Somente a conversão, escutando a Palavra de Deus é que pode nos converter. Somente na prática da justiça e do amor que se revolvem estas questões.
As Igrejas se preocupam muito com coisas boas, mas que não modificam o coração para resolver este problema. Podemos ter a “sorte” do rico que não cuidou de Lázaro.
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