Pe. Luiz Carlos de Oliveira
“Perder para ganhar”
O desapego como um bem
Quando ouvimos a palavra desapego, sentimos logo algo contra a natureza. É justamente ele que nos dá coragem para os maiores discernimentos e a capacidade de assumir coisas grandiosas que parecem superar nossa natureza. As opções exigem renúncias. Jesus é o modelo do desapego. Primeiramente desapega-se da manifestação de sua divindade e se faz homem, encarnando-se. Sua encarnação coloca-o numa condição de muita fragilidade. Além de ser homem, em seu ministério, desapega-se de todas as condições fáceis da vida. Ele mesmo diz que não tinha nem onde repousar a cabeça (Lc 9,58), nem tempo para comer (Mc 6,31). Desapega-se da família e enfrenta o grande desapego da cultura religiosa dominante na qual fora educado por sua mãe Maria e seu pai José. A própria família quer pegá-lo, pois dizem fora de si (Mc 3,21). O desapego vai ao extremo de perder a própria vida na cruz, numa disposição total de entrega ao Pai. Não leva as conseqüências que a missão de Messias traz consigo. Ele carrega a cruz e convida a ir atrás dele, pois do contrário não conseguiremos ser seus discípulos. Esta é a sabedoria da loucura da cruz (1Cor 1,23.25). Somente ela faz compreender como viver a fragilidade e o peso da alma, a tenda de argila (Sb 9,15). Nosso conhecimento é reduzido. A Sabedoria de Cristo é o desapego. Esvaziar-se do secundário é a melhor medida para encher-se do que é precioso. Se Jesus usa o termo odiar, está usando a terminologia hebraica e colocar os opostos. Se me desapego dos familiares para seguir Jesus, vou amá-los muito mais e na verdade da fé. Deus não quer o sofrimento, menos ainda que soframos pelos bens que passam. Quer que os vivamos com maior intensidade, isto é, n’Ele.
Assumir com consciência
Jesus, faz duas comparações para explicar a força que deve ser dada para seguí-lo com totalidade, como diz: “Quem não renunciar a tudo o que tem não poderá ser meu discípulo” (Lc 14,33). Somente no total desapego teremos a total entrega. Faz a comparação com o homem que vai construir a torre e não faz o cálculo de se tem condições de realizar a obra. Fracassa! Ou o rei que sai para guerrear com o outro e não vê se seu exército é suficiente para enfrentar o outro. Vai perder a guerra! Por isso, quem quiser ser discípulo tem que saber se vai mesmo assumir com totalidade. Do contrário fracassa. Não pode haver meias medidas. A fragilidade da Igreja vem da fragilidade dos membros que não assumem. Deus conta com nossa fragilidade, pois sabe que somos pó (Gn 3,19).
Caso de um escravo
Paulo nos ensina o desapego de práticas culturais e sociais para criar a fraternidade. Não se justifica a escravidão, a discriminação, a dominação de classe por qualquer que seja o motivo. Ser cristão é participar de uma cultura, mas é preciso evangelizá-la, senão cometemos crimes contra o evangelho de Jesus e justificamos. Onésimo era um escravo que fugiu, conheceu Paulo e se converteu. Filemon era amigo de Paulo que, não querendo ficar com ele, mandou-o de volta e pediu que o recebesse não como um escravo, mas como irmão no Senhor. É um modelo de mudança nos sistemas sociais. Aquela história que estamos cumprindo ordens superiores, foi causa de crimes na história. A Palavra de Deus, na Eucaristia, pode nos iluminar em nosso cumprimento do dever civil e espiritual
Leituras: Sabedoria 9,13-18;Salmo 89;Filemon 9b-10.12-17; Lucas 14,23-33
1. A palavra desapego assusta. Mas é a condição necessária para assumir as coisas da vida. As opções exigem renúncias. Jesus, em sua encarnação, vida, missão e morte, foi totalmente desapegado. Para segui-lo é necessária a sabedoria do desapego. Esvaziar-se do secundário é a melhor medida para poder encher-se do que é precioso. Odiar as coisas boas não depõe contra o amor, pois quem dá a preferência a Jesus terá tudo e, em melhores condições.
2. Jesus explica que para ser discípulo é necessário renunciar e fazer a entrega. Por isso é preciso assumir com totalidade. Para isso usa a imagem do homem que vai construir e não calcula ou o rei que vai para uma guerra sem ver se tem soldados suficientes. Para seguir Jesus exige-se totalidade.
3. Paulo dá-nos um exemplo sobre aonde pode chegar o desapego, usando um fato cultural e social. Um escravo fugido se converte e Paulo o manda de volta ao patrão que é seu amigo. Mas coloca um novo modo de ser: não escravo, mas irmão. Na história engolimos muitas leis que são injustas.
Errando a conta
Como é duro errar uma conta! E fazemos isso frequentemente. No Evangelho deste domingo Jesus é claro quando explica como se deve segui-lo. Tem que ser por completo. Coloca o seguimento na base do desapego de tudo, mesmo dos familiares. Isso não nega o amor familiar, mas este deve estar sujeito também ao seguimento. E tomar a cruz e ir atrás dele. Não se trata da dor, mas do amor com que Ele carregou sua cruz. Amor não de gostar, mas de se entregar.
Para isso conta duas parábolas sobre o homem que vai construir uma torre sem planejamento, e sobre o rei que vai para a guerra sem medir as próprias forças. Assim, quem vai segui-lo, deve ver se vai querer enfrentar. Não pode ficar com os pés em duas canoas, pois acaba caindo n’água. Tudo ou nada. Ou vai ou racha.
Somente os que renunciaram tudo é que tiveram tudo.
Rezamos no salmo: “Ensinai-nos a bem contar nossos dias e daí ao nosso coração sabedoria”.
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