PADRE FLÁVIO CAVALCA DE CASTRO CSsR
São Benedito
Segunda-feira da segunda semana de Páscoa, como já no sábado e domingo anteriores, Aparecida vive uma das maiores movimentações do ano. Um sem número de grupos de congada e moçambique sobem e descem as ladeiras que ressoam ao soar de tambores de todos os tipos, guizos e chocalhos. A multidão parece não ter descanso, na praça entre as barracas de pão com lingüiça, no entra e sai dos hotéis, na difícil entrada pelas portas da igreja para uma oração rápida. É festa de São Benedito.
O santo que tanta devoção desperta nasceu na Sicília, ilha no sul da Itália, em 1526, filho de escravos vindos da África. Foi eremita, depois frade franciscano, foi cozinheiro, superior dos frades, já em vida aclamado como santo e sábio das coisas de Deus. No Brasil foi escolhido como um dos santos protetores dos escravos, e hoje talvez seja o santo mais venerado no Brasil.
Não sei como explicar essa devoção tão espalhada por toda parte, e tão arraigada no coração do povo. Pelo menos um pouco terá influído o sofrimento e os desespero de escravos e pobres, que nele viram um intercessor junto de Deus, já que junto dos homens não viam nem vêem saída para sua desgraça. Mas há certamente também a lógica do Reino de Deus, que eleva os pequenos e pobres, e garante-lhes a vida, mas, de uma maneira ou de outra rebaixa os poderosos que acabam esquecidos. Talvez por isso mesmo a festa de São Benedito, por toda parte, é festa de extrema e exuberante alegria. Ficam esquecidas as agruras da vida, pelos menos por algumas horas tudo é música, ritmo e dança – até a oração se faz música, ritmo e dança – todos são reis, rainhas e princesas, a comida é farta, amigos, compadres e comadres se reencontram, há foguetes no ar, bandeirolas e muita cor no céu azul.
Vamos reclamar que um filho de escravos seja glorificado, ou que um povo sofrido apenas um pouco se alegre e viva a esperança?
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