
PADRE RAFAEL VIEIRA CSsR
Junte os seguintes ingredientes: maldade e muita covardia. Coloque num ambiente de hipocrisia e de engodo. Tempere com muito cinismo e despeje tudo sobre um inocente. Asse com o fogo da omissão. Está pronta não uma torta, mas uma tortura. Perversa, nauseante, insana. Aquela que foi praticada contra um nazareno pobre que passou a vida fazendo bem. Um homem justo e iluminado. A tortura o levou à morte sem piedade. Ele a enfrentou e a venceu. Era Jesus, chamado de Ungido, o Cristo prometido pelas Escrituras. O seu sacrifico salvou a humanidade e, por seu nome, ninguém mais terá de enfrentar o mesmo calvário. Com a Ressurreição de Cristo, todas as pessoas, em todos os tempos e de todos os credos – incluindo as que não tem credo algum, devem ser protegidas da tortura.
Até um dia desses, num apartamento localizado numa cidade brasileira onde a maioria
professa ser crente e cristã, ainda que manchada pela estúpida matemática que divide o numero d as pessoas de fé nas igrejas que freqüentam, uma criança inocente e indefesa foi torturada com refinamento. O caso ganhou repercussão nacional. A mídia sensacionalista ainda repete os detalhes do crime como se tratasse de um espetáculo e suscita reações estranhas. Desde sofisticadas explicações para o teor psicológico da personalidade das torturadoras, passando pelas piedosas manifestações de solidariedade para com a criança torturada até os brados costumeiros de quem explode com a mesma acalorada e teatral indignação diante de quase tudo que não coincide com suas pretensões de fama e de poder. Não deve ter sido diferente do que ocorreu no caminho entre o palácio de Pilatos e o morro da crucifixão.
A tortura dos dias atuais que tanto agrada aos sádicos que a promovem, escandaliza os que têm coração de carne e não de pedra, e se torna o infame ritmo do “créu” para quem só se satisfaz em mostrar a podridão humana de forma repetitiva e indigna é a mesma que embalou romanos e judeus no processo que conduziu Jesus ao Gólgota. Por isso, não se pode celebrar a Páscoa sem recordar a vitória de Cristo e os seus efeitos sufocados no mundo de hoje. O chocolate consumido sobre as paginas de tortura não passa pela garganta. Jesus venceu para que ninguém mais precisasse passar pelo seu mesmo drama.
A vitória de Cristo deve inspirar os celebrantes da Páscoa a dar testemunho de vida e de luta contra todas as formas de tortura. Não se pode admitir a permanência do poder que ela tem em machucar, humilhar e matar sua vitimas. Nem a escuridão que forma torturadores representada pela infelicidade, a amargura e o desequilíbrio psicológico. Nem a carnavalização na divulgação dos fatos que banaliza, diminui a gravidade e os torna apenas mais um dos episódios porcos na história desse mundo doido. A celebração da Páscoa deve resgatar o grito preso na garganta contra a tortura que sobrevive no silêncio de certos lares, nas delegacias sob a proteção da lei, nos presídios onde o filho grita e a mãe não ouve e no ermo dos matagais como último capítulo de um sumiço maldito.
Pe. Rafael Vieira, jornalista e missionário redentorista
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