
PADRE RAFAEL VIEIRA CSsR
O anúncio feito, nos últimos dias, pela jornalista Mônica Veloso de que aceitou o convite para posar nua para uma revista masculina reforça um fenômeno bem brasileiro: protagonistas de escândalos políticos tornam-se alvos das revistas de nudez. Mônica foi pivô de um processo que ainda está em curso sobre suspeitas de que o presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros, teria usado a intermediação de um lobista da empresa Mendes Junior para pagar obrigações com a jornalista com quem ele tem uma filha. A edição da revista que vai mostrar Mônica como veio ao mundo chegará às bancas antes que o processo contra Renan no Conselho de Ética do Senado tenha se encerrado. Essa situação revela algo do modo de reagir do brasileiro. Há uma tendência para o escracho cada vez que esquenta o discurso público sobre ética pública. Basta que uma mulher bonita ganhe os holofotes em maracutaias políticas que a platéia masculina comece a reagir criando uma expectativa para vê-la sem roupa. É uma junção do machismo arcaico com uma fúria estética diante de casos complexos de suspeitas sobre desvio de moralidade.
Li um texto corrente e simpático de um dos redatores que mais admiro, o jornalista Zeca Camargo que, ultimamente, é editor e apresentador de um programa de sucesso na Rede Globo. Ele faz umas voltas inteligentes para lidar com o leitor que possa ter acessado seu blog para saber como é a experiência de ter visto o ator Daniel “Harry Potter” Radcliffle pelado numa peça que está em cartaz em Londres. Ele faz uma afirmação que me interessa e com a qual me identifico: “não vou aqui disfarçar inocência e ignorar a genuína curiosidade daqueles que reforçam seu cotidiano muitas vezes sem-graça com uma dieta de fotos”. A decisão de Mônica pode, provavelmente, enriquecer a dieta referida pelo Zeca. A exposição de um belo corpo em posições sensuais poderá, no entanto, conter um elemento psicológico que traz riscos preocupantes para a formação da opinião das pessoas: o deleite com a beleza não distrai e retira o foco sobre uma história com aparentes características sórdidas? O bordão de que tudo no parlamento brasileiro termina em pizza precisa ser revisado e, talvez, trazer a ressalva de que se tiver mulher bonita na conversa, termina nas páginas de revista masculinas.
Longe de mim fazer considerações moralistas, mas é difícil não associar um ensaio de mulher nua – quando essa mulher é Mônica Veloso – com as patifarias que o Brasil tanto tenta esclarecer chegando a tristes conclusões no Congresso Nacional. Nem sei lidar muito bem com isso mas entendo que é preciso registrar o impacto que sinto. E creio, firmemente, que compensa visitar os discursos de gente que faz esse tipo de aproximação com maestria. O Arnaldo Jabor, por exemplo, sempre usa metáforas sexuais, sem pudores, para ajudar as pessoas a entenderem as confusões dos políticos e suas declarações causam inquietações e polêmicas. Numa crônica que deixou um bocado de gente saltitante e outro bocado, indignada, Jabor dizia que a política está tão repulsiva que ele prefere falar de sexo. E, para ele, hoje em dia, as mulheres não são mais para amar; nem para casar. São para "ver”.
O pessoal que assina ou tem costume de comprar a famosa revista de nu feminino vai chegar ao mesmo lugar. O Senado faz de conta que a história do senador pode ficar em segundo plano. Pode ser até que, daqui pra frente, nas conversas sobre o processo que já foi chamado de “Renangate”, passem a considera-lo somente como uma história leve na qual participou, sem nenhuma responsabilidade pessoal, a bela mulher que aparece nas páginas de uma revista masculina mostrando todos os seus atributos. O Brasil se conforma e celebra. A edição se esgota. Ela ganha dinheiro suficiente para justificar sua decisão e, quem sabe, o ensaio sensual a coloque, de fato, na lista das apresentadoras de talk show que vai comandar um programa de sucesso tendo políticos como convidados.
Pe. Rafael Vieira, CSsR / 16.07.2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.