O mês de julho e as temporadas de pesca e de diversão às margens do mais jovem rio do Cerrado formam uma das duplas mais famosas de Goiás - Pe Rafael - julho / 2010
Eu nasci numa cidade que se localiza a duas horas de carro do rio Araguaia. Cresci ouvindo histórias passadas nas imediações desse rio. Cheguei ao seminário São José como membro da turma que fez o que se chamava, naquele tempo, de “estágio” vocacional no final de 1977 e vim para Goiânia no início do ano seguinte. Uma das primeiras notícias que ouvi, depois que cheguei, tinha relação com as minhas lembranças do tempo de criança: os missionários redentoristas faziam todos os anos, comandados pelo Pe. Ângelo Licati, uma expedição ao querido Araguaia. Inicialmente, achei que não teria muitas chances de participar daquela aventura. Depois, ao começar a participar da festa de Trindade e conhecer o movimento que se fazia na preparação daquela caravana, consegui vislumbrar uma possibilidade. Logo que tive uma chance, me inscrevi, junto com o Pe. Fábio Bento, meu colega de turma, para uma função que jamais imaginara ser capaz de exercer: a de cozinheiro.
Se a memória não me trai, estivemos na “Cuiucuiu” de 1979 a 1981. Os dois primeiros anos cozinhando e o terceiro, como convidados para desfrutar das férias. Fizemos experiências marcantes. Nunca mais voltei a ter a felicidade de ser caravaneiro, mas nunca me esqueci daquela maravilhosa convivência. Algumas imagens daqueles anos estão muito vivas na minha mente. Lembro-me do Pe. Rubem Galvão nadando com uma pirarara na frente do acampamento. Pe. Guilherme Contart com um chapéu na cabeça, pescando sentado numa cadeira colocada no deck que servia para lavar as vasilhas. Pe. Figueiredo com uma toalha no ombro e uma blusa de frio surrada dizendo coisas engraçadíssimas. Pe. Conrado Gagliardi, num daqueles anos, nos proporcionou uma fritada de filé de traíra depois de ter passado horas retirando espinha por espinha do peixe com um pequeno alicate. Pe. Pelaquim, sempre discreto, sempre gentil. Pe. Antonio Girardi e o Adão saindo para as pescarias com conversas animadas.
Não sei exatamente qual foi o ano, mas uma das viagens feitas no ônibus para chegar à Fazenda Piedade foi uma aventura ímpar. Houve um momento que tivemos de sair todos para fora e esperar a “construção” de uma ponte. Ir. João Bosco animava o carregamento de toras e, debaixo de uma árvore, prepararam uma espécie de cabana para proteger do sol um senhor idoso extremamente simpático, Pe. Lovato. Lembro-me de uma ocasião em que Pe. Flávio Cavalca preparou-nos um extraordinário espaguete ao vinho. Também foi numa dessas idas nossas que um jovem de Tietê sofreu uma apendicite e teve de ser trazido, às pressas, para Goiânia. Essas e outras histórias me acompanham. Guardo também uma excelente impressão do modo fraterno com que fomos tratados na condição de “cozinheiros”. Pe. Fábio cuidava do café da manhã, dividíamos as tarefas do almoço e muita gente ajudava no jantar. Uma das poucas reprimendas que sofremos teve como causa a preparação que fizemos de macarrão com sardinha. Nunca me esqueci da pergunta que fizemos, entre nós: “Se era um absurdo usar sardinhas em conserva para a alimentação daquele mundo de gente, por que será que levaram tantas latinhas?”.
Ouço dizer que, no correr das últimas décadas, a expedição mudou bastante. O perfil dos caravaneiros, os hábitos, o modo de fazer a comida. Tenho certeza, no entanto, que a julgar pela animação do Pe. Ângelo e pelas notícias dos novos participantes, a caravana e o Araguaia continuam a ser abençoadas alternativas de férias para os redentoristas e seus amigos. Estou certo também que, neste ano de 2010, não será diferente e teremos mais um bocado de histórias bonitas que marcarão outras pessoas que tiverem a sorte de passar por lá pelos mais de 20 dias da temporada
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