
PADRE CLÓVIS DE JESUS BOVO CSsr
O VELHO MESTRE E O NOVIÇO
Esta cena se passou, muitos anos atrás, entre as penumbras silenciosas de um antigo convento de religiosos. Ao longo do corredor, as muitas celas. Em cada cela morava um monge.
Já estavam recolhidos e se preparavam para o repouso merecido.
Súbito um jovem noviço bateu à porta de um confrade, já com setenta anos bem vividos, bom conselheiro, rico de experiência:
— Padre Mestre, abracei a vida religiosa para seguir o Senhor e praticar a castidade. Mas vivo cercado de maus pensamentos e de maus desejos. Os instintos me perseguem. Vivo perturbado e inquieto. Diga-me até quando a tentação me acompanhará...
— Que idade você tem?
— Estou com vinte anos.
O velho sacerdote, encanecido nas lides do Senhor e experimentado na luta, procurou animar o jovem religioso. Depois disse sorrindo:
— Você quer saber até quando o cercarão as tentações? Isso depende da natureza de cada um e de outras circunstâncias. Acredito que a luta contra as paixões vai até os sessenta anos, mais ou menos. Mas não desanime, viu?...
— Obrigado, Padre Mestre. Sabendo disso, enfrentarei a vida com mais coragem. Bom sono para o senhor e boa noite!
O silêncio voltou. Uma hora depois alguém bateu à porta do jovem noviço. Era o velho sacerdote. Ele que se revolvera na cama até aquele momento, asse-diado por tantos pensamentos e desejos impuros, disse mansamente ao jovem:
— Há pouco eu disse que as tentações nos maltratam até os sessenta anos. Desculpe-me. Ponha mais dez anos nisso. Pelo menos até os setenta, sabe? Mas não desanime. Boa noite.
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