Pe. Luiz Carlos de Oliveira CSsR
"As estações da espiritualidade"
Na alegria da graça
Nós temos uma natureza exuberante e um clima até certo ponto estável. Alguns dividem o tempo em carnaval e o resto do ano. Outros, mais ousados, pensam em quatro estações, o que na realidade não temos como em outras regiões em que são mais definidas. Vamos ficar num clima mais ideal pensando que a vida tem suas estações. Na espiritualidade estas quatro estações podem nos ajudar a compreender a dinâmica da vida espiritual. Acontece que as pessoas se sentem muito perdidas espiritualmente quando há mudanças de estação. Normalmente, nos tempos em que somos iniciantes na vida espiritual aparecem as flores da graça que enfeitam nossas orações, nosso relacionamento com Deus e com os outros. São tempos bonitos que nos colocam em atividade e até numa atitude benéfica de ajudar os outros com nossas orações e até com milagres. São tempos em que Deus nos carrega nos braços amorosamente. Sentimos seu amor carinhoso que nos faz vibrar até fisicamente. É gostoso passar horas em oração. Tudo nos atrai. Ficamos felizes por termos chegado ao que tanto havíamos procurado. É a primavera de flores e de ares gostosos. É um verão quente de amor, de participação e de vitalidade. Há arroios de águas frescas e campos repousantes com um pastor que conduz com carinho. É um tempo bom que dá resultados. Nós e Cristo somos uma só pessoa.
A Colheita dos bons frutos
Chega o outono para a colheita dos frutos. Aquelas maravilhas já não são tão necessárias, pois estamos vendo os frutos daquelas belas flores que pudemos ver em nossa vida. Que tempo bom de olhar para trás e contemplar nossa juventude espiritual toda vibrante e ver que fizemos tanto pelo Reino. Passou o fogo, mas as brasas estão sob as cinzas. Vemos em nós a maturidade espiritual das atitudes coerentes e da disposição segura para orientar, dar apoio e estabilidade. Passamos a ser mestres espirituais. Todos gostam de ouvir nossas palavras que dão orientação e conforto. Estamos prontos para Deus. É a maturidade dos frutos. Assentados à sombra de nossas árvores frutíferas contemplamos uma plantação que está pronta para ser colhida. Jesus mesmo diz: "Levantai os vossos olhos, e vede os campos que já estão brancos para a ceifa" (Jo 4,35). É uma estação maravilhosa da vida. É o outono da maturidade espiritual. Assim pensamos.
O frio das ausências de Deus
Como não podia faltar, há também o tempo do inverno que tem uma beleza diferente. Por ser diferente parece não combinar bem com tudo o que imaginamos de vida espiritual. Na verdade é o tempo mais frutuoso da vida espiritual. O calor de Deus desaparece e surge o frio nublado que parece não ter fim. Tudo seca. Nada nos conforta. Deus sumiu. O próprio livro dos provérbios diz: "Sofre as demoras de Deus!"(Eclo,2,3). Surgem sofrimentos inexplicáveis e a gente diz: 'Rezei tanto e agora parece que não adiantou nada!'. A oração não traz prazer. Não temos mais lugar para buscar as antigas alegrias e consolações. Ficamos sós, sem esperança, sem fruto, sem entusiasmo, sem resultados, sem prazer. Nada preenche o vazio. É a noite do espírito. Mas é o tempo mais valioso da vida, pois é o tempo de Deus. Perdemos a casca da espiritualidade e entramos no cerne. É o tempo de ser para Deus e não para nós mesmo. Deus é que é o tudo, e não nós. Aqui, muitos naufragam. Pensam ter perdido tudo. Mas é o contrário. Deus acolheu tudo e agora nós o temos. Vida espiritual não é para nós, é para nos colocar em Deus.
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