Padre Peter Stilwell recorda a passagem de Madre Teresa de Calcutá por Portugal e aborda a fase mais difícil da vida da missionária
O padre Peter Stilwell, director da Faculdade de Teologia da UCP, considera que a memória de Madre Teresa de Calcutá não é obscurecida por eventuais dúvidas e dificuldades na sua vida espiritual. Em entrevista ao programa ECCLESIA, a respeito do centenário de nascimento da Beata, o sacerdote comenta o conjunto de cartas, redigidas por Madre Teresa nos anos 50, dirigidas a alguns conselheiros espirituais, publicadas no livro intitulado “Mother Teresa: Come Be My Light” (Madre Teresa:Vem, sê a minha luz). Nas missivas, Madre Teresa falava de uma “secura de alma”, a partir de determinada altura, e que levantou algumas dúvidas quanto à condição da sua fé. “Ela sabia que Deus a amava, ela sabia que Deus a chamava, sentia nos pobres o sinal do amor de Deus, mas não sentia a proximidade de Deus, durante um longo período da sua vida”, explica o padre Peter Stilwell. Podem haver várias razões para essa “noite escura” que dominou a vida de Madre Teresa, na altura. Uma delas, defende o sacerdote, é “o esgotamento físico”, já que tinha de conciliar a responsabilidade de assegurar as contas da congregação com o trabalho junto dos pobres. O director da Faculdade de Teologia da UCP considera que a leitura desta experiência de Madre Teresa não melindra a sua condição, antes pelo contrário, “fortalece o seu percurso espiritual” e pode ajudar pessoas que convivem com uma realidade similar à que ela convivia. “Para pessoas que vivem uma entrega aos outros dessa maneira não há um conforto fácil, o que pode ser um motivo para as pessoas se sentirem abandonadas de Deus ou esquecidas, e talvez assim possam encontrar algum conforto” completa. O padre Peter Stilwell acompanhou Madre Teresa por ocasião da sua visita a Portugal, em 1982. Uma viagem que teve como principais pontos de passagem a casa das irmãs Missionárias da Caridade, em Setúbal, e o Santuário de Fátima. A ida a Fátima foi feita por obediência ao Papa João Paulo II, já que a missionária, por não ter muito tempo, “normalmente não frequentava santuários”, revela o sacerdote. Das horas em que conviveu com Madre Teresa, sublinha que “apesar de ser uma figura de nome mundial, ela era uma pessoa muito simples, que tinha abertura para conversar com todos”. Recorda-a como alguém que “vivia a santidade na prática da vida, não tanto na intimidade mística”. Uma faceta que foi revelada mais tarde, depois da sua morte, com a publicação das suas cartas e textos. Os documentos falam de “uma experiência pessoal muito forte, no princípio da sua vida religiosa, quer em relação à Eucaristia, quer em termos da sua relação com Jesus Cristo”, defende o padre Peter Stilwell, olhando para a fase inicial da caminhada de fé de Madre Teresa. Agnes Gonxha Bojaxhiu nasceu em Skopje, capital da Macedónia, a 26 de Agosto de 1910. Deixou a sua terra natal em Setembro de 1928, entrando no convento de Rathfarnam (Dublin), Irlanda. Ali foi acolhida como postulante no dia 12 de Outubro e recebeu o nome de Teresa, como a sua padroeira, Santa Teresa de Lisieux. Foi enviada pela congregação do Loreto para a Índia e chegou a Calcutá no dia 6 de Janeiro de 1929, com 19 anos. Fez a profissão perpétua a 24 de Maio de 1937 e daquele dia em diante foi chamada Madre Teresa. No dia 10 de Setembro de 1946, no comboio que a conduzia de Calcutá para Darjeeling, Madre Tereza recebeu aquilo que ela chamou “chamamento no chamamento”, que teria feito nascer a família dos Missionários da Caridade. Ao longo dos anos 50 e no início dos anos 60, Madre Teresa estendeu a obra das Missionárias da Caridade seja internamente dentro Calcutá, seja em toda a Índia. No dia 1 de Fevereiro de 1965, Paulo VI concedeu à Congregação o “Decretum Laudis”, elevando-a a direito pontifício. Em 1979, Madre Teresa recebeu o Prémio Nobel da Paz, como reconhecimento pelo seu trabalho. No final dos anos 80 e durante os anos 90, não obstante os crescentes problemas de saúde, Madre Teresa continuou a viajar pelo mundo para a profissão das noviças, para abrir novas casas de missão e para servir os pobres e aqueles que tinham sido atingidos por diversas calamidades. Às 9h30 da noite do dia 5 de Setembro de 1997, morreu na Casa Geral. No dia 13 de Setembro teve um funeral de Estado e o seu corpo foi conduzido num longo cortejo através as estradas de Calcutá. Foi beatificada por João Paulo II a 19 de Outubro de 2003, após o Papa polaco ter dispensado o período de espera de 5 anos para a abertura da Causa de Canonização. Fonte: Agência Ecclesia |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.