PADRE FLÁVIO CAVALCA DE CASTRO CSsR
Perguntaram-me que esperaria da visita de Bento XVI ao Brasil. Pergunta comprometedora. Enquanto tentava pôr em ordem minhas idéias, minha primeira intuição foi quanto à necessidade de afastar um punhado de fatos irrelevantes que estão como que grudados ao evento. Para dizer a verdade, é triste ver como os comunicadores, pelo menos em sua maioria os não de Igreja, enxameiam em torno de questões tão relevantes como o bordado da roupa de cama do papa, o cardápio de suas refeições. Deve retificar essa frase: até mesmo alguns comunicadores de Igreja caem no mesmo ridículo. Mas isso não vem ao caso.
Que esperaria da visita do papa? Não sei se lhe interessa, mas vou tentar responder. Em primeiro lugar, espero que essa e outras visitas do papa sejam a preparação para um futuro que muitos sonham não distante. Um futuro em que o papa será quase um pastor itinerante, a andar pelo mundo sem maiores complicações, visitando e animando as comunidades, levando apoio a situações difíceis. Um futuro em que poderá viajar chegando de repente aqui ou ali como um parente, um pai ou irmão que não se precisa anunciar. Sem cordões de segurança, nem protocolo, mas com muita possibilidade de ver, ouvir, conviver. Espero que, passada a novidade, quem sabe na quarta ou quinta vez, sua presença já não corra o risco de ser espetáculo, e possa ser muito mais presença próxima, familiar, de encontro pessoal.
Utopia, sonho irrealizável? Talvez. Mas, pode ser que a impossibilidade nasça não tanto da realidade quanto de nossa maneira de ver e organizar a realidade. Talvez a impossibilidade nasça não propriamente da função do papa, mas sim das aderências que se foram acumulando através dos séculos. Claro, sei que o papa não deve assumir o papel dos bispos locais, sei que mesmo sem sair de Roma pode exercer o essencial de sua missão. Mas estou justamente partindo do pressuposto que são muito convenientes essas visitas aos vários países, que poderão ajudá-lo a conhecer pessoalmente as diversas situações, que serão oportunidade para um reafervoramento da vida da Igreja, e tudo o mais.
É exatamente por isso que não posso deixar de sonhar com um futuro um tanto diferente, em que essas visitas possam atingir o máximo de suas vantagens. Por favor, não pense que estou criticando a visita do papa. E, para não haver a menor dúvida repito: é ótimo para a Igreja que os últimos papas tenham começado essas viagens. Tenho até a impressão que foram lançadas sementes, cuja floração nem podemos imaginar. Por isso fico como quem, ao ver cair os primeiros temporais do verão, espera na certeza das chuvas miúdas, que varam dias e encharcam a terra.
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