PADRE RAFAEL VIEIRA CSsR
Na semana passada, ele esteve na capital de São Paulo, por apenas algumas horas, e já foi o suficiente para criar um clima diferente e deixar a impressão que o mundo poderia estar prestes a ter uma convulsão. Costumam dizer que George Walker Bush é o homem mais poderoso da Terra e, por isso, não há como sua passagem não tocar em tudo o que está por perto. A imprensa divulgou que o esquema de segurança foi o maior já montado no país. Os nossos agentes não eram suficientes. E talvez não merecessem confiança completa. Vieram mais 300 homens para cuidar dos movimentos do presidente em nossas ruas e prédios. Trouxeram 12 furgões blindados, armamentos, uma unidade médica móvel e uma limusine blindada. E claro, comida e água. Não teriam como confiar em nossos serviços. Não poderiam confiar em nossas boas intenções. O problema maior, no entanto, não é a ausência de confiança nessas ocasiões. Um homem desse tipo não pode, definitivamente, confiar em absolutamente nenhuma uma outra força que não seja a própria. Assim também funcionavam os sistemas de cuidado mantido pelos antigos reis e imperadores. Confiança zero. Eles estão, o tempo inteiro, rodeados de riscos e perigos. Eles podem ser eliminados até mesmo pelos mais fiéis dos criados.
O presidente dos Estados Unidos da América é, hoje, a encarnação dos remotos e temidos potentes. Odiado por todas as forças contrariadas por suas ações políticas, ele passa a ser um alvo visado em todo canto. Paparicado pelos bajuladores por conta de seu significado na realização de tudo o que lhe parecer correto, ele é condenado a companhias estranhas. Pode ser que ele tenha que perambular sempre entre o orgulho e o tédio. Isso sem dizer que a amplidão do seu poder pode ainda ser uma permanente tentação de sentir-se com atributos divinos. Um homem plenamente poderoso. Seu domínio absoluto. O planeta inteiro se dobra. Se isso ocorrer, não será uma visitinha a uma republiqueta tropical que chegou a ser motivo de grande preocupação. A adrenalina da turma que o rodeia só subiria a altos níveis se a escala fosse numa nação árabe. Os membros das equipes de segurança, na verdade, podem até ter tido a vontade de conhecer a noite paulistana e verificar a temperatura das baladas que têm fama internacional.
O fato de ser o chefe de uma megapotência faz de Bush o centro de um tiro ao alvo. A política internacional do seu governo deu-lhe uma marca meio demoníaca, mas não está garantido que esse texano seja do mal. Lembro-me dele nos funerais do Papa João Paulo II. Os jornais de Roma estamparam, naquela semana de despedidas na qual o espaço aéreo da capital da Itália foi completamente fechado para receber a comitiva norte-americana, que o poder mundial ficaria de joelhos para homenagear o Papa do século. Protestante, Bush cita Deus em quase todos os seus discursos e não se sente nem um pouco constrangido quando quer transparecer ser dono de virtudes como o desapego. Em quase todo lugar que vai diz que quer o melhor para os Estados Unidos e o país que visita. Ele só quer o bem de todos. Até mesmo do Iraque e de seu povo. As mortes que se multiplicam todo dia lá naquele pedaço de terra em volta do Golfo Pérsico não são frutos de sua sanha expansionista, mas um preço que se paga pela “liberdade”.
Em 2004, ainda no seu primeiro mandato, Bush foi ao Vaticano. Lá ele ouviu de João Paulo II que “A ameaça do terrorismo internacional permanece uma fonte de preocupação constante. Ela atingiu seriamente as relações normais e pacíficas entre os Estados e os povos, desde o trágico dia 11 de Setembro de 2001, que não hesitei em definir como ´um dia obscuro na história da humanidade´. O Papa fez um discurso sério, já debilitado, em tom grave, desconhecendo o glamour que a imprensa européia deu à visita de Bush. E fez uma advertência: “O claro desejo de todos é que agora esta situação seja resolvida quanto antes possível, com a participação ativa da comunidade internacional e, em particular, a Organização das Nações Unidas, a fim de assegurar a rápida volta do Iraque à soberania, em condições de segurança para todo o seu povo”. Quem sabe, além dos rastros que a visita de Bush pode ter deixado em relação aos interesses brasileiros no comércio do etanol e da experiência em assistir a um faiscante show da passagem de um potente pela cidade de São Paulo, ficasse, entre nós, um apelo semelhante pelos irmãos do Iraque! E, claro, “Deus salve a América!”.
Pe. Rafael Vieira, CSsR / 12..03.2007
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