PADRE LUÍS KIRSCHNER CSsR
Recentemente, a imprensa tem falado bastante que o Papa retirou a excomunhão de um bispo que nega a existência do Holocausto, disse que a camisinha promove ainda mais AIDS e que dentro do Vaticano o Papa está ficando isolado.
Quase nada tem sido publicado sobre o Papa estar emergindo como o porta-voz dos pobres nos círculos econômicos. E’ uma pena que os fieis não saibam muito disso, porque eles dependem da imprensa secular para sua informação. Os lideres políticos estão falando da situação da classe media, do setor financeiro, dos bancos e das companhias automobilísticas etc. - de fato, áreas de preocupação para governantes eleitos – mas é o Papa que está fazendo outro discurso que precisa ser ouvido.
Na sua viagem recente a Angola, Bento insistiu que os pobres não podem ser as vitimas da crise econômica, prometendo que a Igreja Católica se encontrará sempre ao lado dos mais pobres deste Continente. Não foi apenas uma exortação piedosa, mas cobrou das nações desenvolvidas que elas cumpram a sua promessa repetida de contribuir 0,7% de seu PIB como assistência às nações empobrecidas. Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, tinha enviado uma mensagem a grande conferencia dos G-8, que reuniu os Ministros de Trabalho destes países, como também, os de China, Brasil, México, Índia, África do Sul e Egito, que foi realizado em Roma, nos dias 29-31 de março.
Bertone argumentou que consertar as estruturas economicas em si não é suficiente: a economia tem que possuir um “rosto humano” que garanta uma base essencial de renda e de segurança para os milhões de pessoas que perderam seus empregos devido à situação financeira. Alem disso, Papa Bento mandou uma carta forte ao Primeiro Ministro da Inglaterra, Gordon Brown, em preparação para o encontro dos G-20, a ser realizado em Londres. O Papa disse que sua viagem à África permitiu que ele viesse bem perto, em primeira mão, a realidade da pobreza extrema e da marginalização. A preocupação do Bento XVI é que a situação dos pobres não ficasse bem visível no encontro, pois somente uma nação da África subsahara estará presente, mais algumas organizações regionais. O desequilíbrio entre os participantes não permite que as vozes daqueles que sofrem mais sejam ouvidas, e menos ainda, não são responsáveis pelo fato. Quem falará em nome deles? O papa quer o fim da pobreza extrema até 2015, para cumprir a meta das Nações Unidas como “uma das tarefas mais importantes de nosso tempo”.
As intervenções papais são oportunas, diz John Allen, colunista que escreve sobre o Vaticano, uma vez que as nações mais pobres e os seus povos precisam urgentemente que alguém tome uma posição em sua defesa, mais do que quebrar janelas de bancos no centro do Londres. Os peritos em desenvolvimento dizem que as nações pobres sofreram um golpe de três maneiras: os bancos com medo de perder dinheiro recusam emprestar dinheiro; a fuga dos investimentos estrangeiros, e os juros altíssimos. Além disso, os países empobrecidos enfrentam uma queda dos preços dos seus produtos vindos da agricultura ou das minas, um aumento de desemprego e a ameaça de enfraquecimento do comércio livre que excluiriam seus produtos ainda mais dos mercados internacionais. Como resultado, agências de assistência temem que milhões e milhões de pessoas nas nações em fase de desenvolvimento possam cair na pobreza extrema mais uma vez em 2009. Meio milhão de crianças morrerão de uma combinação de má nutrição, falta de saneamento adequado e de cuidados médicos suficientes.
Como resposta, o Banco Mundial fez uma proposta nova que as nações desenvolvidas reservam 0,7 % de seus pacotes de estímulos financeiros para providenciar uma rede de segurança básica em favor das nações pobres e sustentar áreas em fase de risco, como por exemplo, as infraestruturais e a agricultura. Para que tais investimentos ganhem poder político, os lideres religiosos internacionais e a voz de consciência têm de mobilizar a opinião pública.
E’ exatamente isso que Bento XVI e os seus colaboradores têm tentado fazer, mas até agora, a atenção e barulho têm sido dirigidos ao uso da camisinha e ao bispo que nega o Holocausto. Esta realidade revela o dano às relações públicas do Vaticano. Não é apenas a reação negativa criada, mas o fato que será mais dificil para a Igreja exercer uma lideranca moral sobre qualquer outro assunto. John Allen, Vaticanólogo, espera que a mensagem do Papa para a Semana Santa ganhe mais atenção do que a normal. Que seja um momento para acabar com a publicidade negativa e levar o mundo a ver quais são os problemas reais.
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