PADRE FLÁVIO CAVALCA DE CASTRO CSsR
Vou deixar aos especialistas o trabalho de fazer a critica histórica das narrativas que Mateus nos dá sobre a infância de Jesus. Entre elas, o massacre das crianças, matança ordenada por Herodes. Seja lá como for, Mateus escre¬veu para nos transmitir uma idéia. Por que nos conta essa proeza política do velho rei desbragado? Razões haveria de sobra e não seria possível apresentar todas.Herodes não era judeu. Seu pai já tinha sido um fiel e capacho servidor do imperialismo romano. Herodes queria nada menos do que ser rei dos judeus, sem ter nenhum direito para isso. É claro que não procurou ser escolhi¬do pelo povo. Nem pensou que isso fosse possível. Procurou os romanos, os inva¬sores imperialistas, e colocou-se a seu serviço. No ano 37 AC., o senado romano fez dele rei da Judéia. No mesmo ano, apoiado pelo exército invasor, Herodes conquistou Jerusalém a ferro e fogo. Foi tão pouco aceito pelo povo, que os velhos rabinos o consideraram um castigo decretado por Deus. Herodes, se não conseguia o apoio do povo, continuava contando com o apoio do exército romano e dos mercenários (hoje diríamos pistoleiros) de sua polícia. Ah, sim. Distribuindo favores a quem não exigia muito para se vender, conseguiu também o apoio de gente que passou a ser importante. Foi político esperto.Espalhou por toda parte fortalezas muito bem construídas e muito bem guardadas por soldados vindos de fora. Construiu teatros e estádios, porque pelo menos isso tinha aprendido com seus amigos romanos: dando pão e circo para o povo, de vez em quando se consegue que ele não pense. Herodes não era religioso, mas sendo esperto político tratou também de construir para Javé um novo Templo em Jerusalém. E para mais bem se garantir, espalhou pelo país vários outros templos para deuses pagãos. Os judeus tiveram de agüentar durante por trinta e três anos essa desgraça de rei.Agora me diga: Não era para Herodes ficar apavorado quando ouviu dizer que tinha nascido o Messias, o rei prometido para a salvação do povo? Ele confiava, sim, nos romanos. Mas nem tanto, a ponto de imaginar que os romanos o pudessem garantir contra o povo reunido em volta de um rei reconhecido como o salvador enviado por Deus. É claro que não era tão ingênuo.E Mateus conta que Herodes, não conseguindo dar um jeito com a esperteza, tentando tapear os bons magos do oriente, apelou para a violência. Mandou matar, em Belém e seus arredores, todos os meni¬nos com menos de dois anos. Depois que Herodes morreu, segundo o mesmo Mateus, seu filho Arquelau não era melhor. Fico até duvidando se o evangelista não deixa uma pergunta no ar: “Herodes morreu?”
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