
Pe. João Batista van Gassel, CSsR
Falecido em Wittem na Holanda - 22-06-1977
(75 anos)
Vice-Provincial de 1956 a 1967
O Pe. João Batista teve uma morte repentina em Wittem (Holanda). Descendo no elevador do Convento, teve um infarto que lhe causou morte instantânea. Morreu no dia em que esteve no Convento para participar da festa da canonização de nosso confrade João Nepomuceno Neumann. O Pe. João Batista tinha, então, 75 anos de idade. Foi Vice-Provincial da Vice-Província do Recife de 1956 a 1967.
Pe. João Batista chegou ao Brasil em 1951. De 1928 a 1951 exerceu suas atividades redentoristas na Holanda. Foi professor do nosso Seminário Menor e depois ganhou muita fama como missionário do povo e pregador de retiros, especialmente para Religiosas. Os seus anos de glória o Pe. João Batista viveu na função de Reitor da comunidade e Vigário da Igreja anexa em Rotterdam. Foi muito elogiado quando, na segunda guerra mundial, fazia tudo para agasalhar e esconder, em todos os cantos do Convento e no sótão da Igreja, os homens que estavam fugindo dos nossos inimigos alemães, que queriam deportá-los para a Alemanha. Foi também Reitor da comunidade de Bois-le-Duc de 1946 a 1949, quando voltou para Rotterdam, o seu lugar mais querido, e novamente aceitou o encargo de Reitor e Vigário.
Em 1951 aceitou generosamente a sua nomeação para o Brasil. Foi para ele um tremendo sacrifício. Já estava com quase 50 anos de idade e, nesta idade não é fácil aprender a língua portuguesa que é, de fato, uma língua muito difícil e complicada.
Aos poucos, o Pe. João Batista adaptou-se a um estilo de vida totalmente novo em todos os sentidos. Até o fim da sua permanência no Brasil, teve problemas quanto a língua portuguesa; isto foi para ele uma barreira quase insuperável para que houvesse uma comunicação mais perfeita. E imagine o sofrimento para um grande pregador tão estimado no seu próprio País. Além disso, encontrou a sua situação no Nordeste numa fase primitiva ainda, o que é próprio a todas as novas fundações.
Em 1952, foi encarregado da nossa nova fundação em Campina Grande-PB. Nesta cidade tão importante do Nordeste, por causa do seu rápido desenvolvimento, seria construído o nosso Seminário Menor. O Pe. João Batista iniciou essa fundação redentorista em São José da Mata, porque em Bodocongó não havia uma casa para ele. O fundador começou em circunstâncias bastante pobres, mas logo ganhou a simpatia daquele povo de coração de ouro, especialmente da parte mais pobre. Ainda hoje, fala-se da dedicação e disponibilidade do Pe. João Batista para atender a todos. Para aquele povo simples o que valia mais não era tanto a linguagem correta e castiço, mas o bom coração e a delicadeza do Padre.
Em 1956, teve que deixar o seu querido povo de Bodocongó e de São José da Mata, pois foi nomeado Vice-Provincial da Vice-Província do Recife. Vale a pena anotar algo sobre a confusão que houve em torno dessas nomeações. O antecessor do Pe. João Batista, o Pe. Carlos Maria Donker, com sede em Garanhuns, recebeu a lista das nomeações, com a qual todos tinham cooperado, menos o Espírito Santo. O pior foi que o Pe. Carlos Maria Donker foi nomeado superior de Bom Jesus da Lapa. Ele se sentia totalmente incapacitado para assumir aquela responsabilidade. Então, me pediu que eu viajasse sem demora a Campina Grande para tratar desse negócio tão espinhoso com o Pe. João Batista. Felizmente, o Pe. João Batista atendeu e retornou a lista para Amsterdã e Roma, explicando detalhadamente os problemas que surgiram e a impossibilidade de efetuar essas nomeações. Parece que naquele tempo já havia um vislumbre ainda fraco de uma democracia nascente, pois Roma concordou. O Pe. Carlos Maria foi nomeado Superior de Campina Grande e todos os outros troninhos tinham de ser trocados, menos o meu, em Garanhuns.
Após a restauração da paz e da tranqüilidade, o Pe. João Batista tomou posse, demonstrando toda boa vontade para conduzir a Vice-Província com mão firme. Sob sua direção e orientação, vamos viver a fase laboriosa, mas também empolgante, das construções, a saber: o Convento da Madalena no Recife, o Convento e Seminário Menor em Campina Grande, e a organização do Noviciado em Garanhuns. Houve também uma procura obstinada de um grande terreno para o Seminário Maior no Recife, e o cuidado de uma formação de um “Corpus Doctum”, para que tivéssemos professores acadêmicos para uma sólida formação dos nossos estudantes professos.
Para esse Seminário Maior, o Pe. João Batista comprou em 1960, um grande terreno em Aldeia (perto do Recife), após ter visitado e desaprovado muitos outros terrenos. Por causa desta preocupação constante com terrenos, os confrades mais “maliciosos” lhe deram o apelido de João Terreno e, quando certos terrenos foram vendidos por causa de novas circunstâncias, ganhou o nome de “João sem terra”.
Caracterizando a pessoa e a ação dele em poucas palavras, podemos afirmar o seguinte: foi uma pessoa profundamente religiosa, exercendo a sua autoridade de uma maneira atrativa e desarmada. Tratava todos os confrades com muita delicadeza e humanidade e, havendo um choque de idéias ou de atitudes que não lhe agradavam, então, depois de poucos momentos de irritação, dizia logo: “Pois bem, não vamos mais tocar neste assunto”. Nesta situação do Nordeste, tinha largado a atitude autoritária e marcial dos Superiores antigos. Também se preocupava muito com o futuro da nossa Congregação no Nordeste Brasileiro.
Foi, de fato, um acontecimento muito trágico quando todos os seus planos, referentes à estruturação de uma nova Província Brasileira florescente desabaram como se fosse um castelo de cartas.
Porém, “Toutes ses miséres-lá prouvent sa grandeur”! (Pascal, Pensées).
Em 1967 houve nomeações de Superiores e Pe. João Batista, que pedira sua renúncia, por causa da sua saúde muita abalada, foi nomeado Superior e Vigário da paróquia praiana de São José da Coroa Grande. O enfraquecimento de sua saúde e alguns ataques cardíacos foram também devidos a tantos contratempos e dolorosas desilusões.
Em 1970, retornou definitivamente para a Holanda e ainda aceitou e realizou aí um trabalho de pastoral dos enfermos, num Hospital. Durante quase sete anos, pôde atender com muito jeito e carinho a um grande número de doentes. Faleceu em 1977 e foi sepultado na cripta de Wittem - Holanda.
Em tempo: Em 1959 a sede do Vice-Provincialato foi mudado de Garanhuns para Recife.
“O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros assim como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida pelos irmãos”.(Jo 15, 12-13).
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