
PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR
Por que Jesus não curava a todos?
Sabemos bem que o sofrimento e as doenças não nascem de Deus. Há sofrimentos que estão ligados à nossa natureza, frutos de herança genética ou dos próprios limites da mesma natureza. Outros sofrimentos nascem do nosso interior, nossas falhas, exageros, excessos e falta de capacidade de administrar a vida.
Há muitas doenças e sofrimentos que são provocados pela atitude da pessoa, seu modo de agir e valores que pautam sua vida. Falemos também de sofrimento, que é resultado do “pecado social”. Dele nascem a ganância, a falta de partilha, o egoísmo, a violência, o desemprego, a desigualdade social, a fome, a miséria etc. Não podemos colocar a culpa em Deus, que respeita a nossa liberdade.
Tudo o que depende de nós, temos de fazer, Deus não faz para nós. Se muitos sofrimentos são causados pela desordem, decisões mal tomadas, de erros nossos, sem nossa colaboração, não teremos a solução nem Jesus tem a obrigação de resolvê-los. E de que adianta resolver o problema hoje, se a causa perdura e amanhã estaremos de volta com os mesmos problemas? Isso nos ajuda a ler as atitudes de Jesus.
Os milagres de Jesus têm endereço certo, um propósito maior do que o de apenas aliviar a dor. Eram sinais em seu poder sobre o mal, sinais da chegada do reino de Deus, sinais de que nenhum sofrimento ou doença ou pecado poderiam ser maiores que o poder do bem.
As curas de Jesus estavam ligadas à conversão da pessoa, era para elas a manifestação da fé no poder de Jesus: “Tua fé te curou”. Precisamos perceber que nem todos creram em Jesus, muitos queriam só a cura e não queriam o compromisso gerado pela fé.
Outro dado que temos é que os Evangelhos não contam tudo o que Jesus fez, mas narra o mais significativo. É o que vemos no final do Evangelho de São João, que fala que nem tudo que Jesus fez foi escrito (Jo 21,25).
Nas curas, Jesus foi muito categórico, mostrou que era preciso arrancar a raiz do mal e não procurar soluções paliativas e momentâneas. Vejam a diferença da atitude de Jesus e a daqueles que procuram milagres que resolvam rapidamente seus problemas.
Arrancar o mal pela raiz exige uma colaboração séria e responsável, caminho que nem sempre as pessoas querem percorrer e até mesmo conflitam com interesses pessoais. Por isso, continuamos a viver numa sociedade ultraviolenta, com valores tão diferentes dos valores evangélicos, e continuamos a acreditar que Jesus tem obrigação de resolver nossos problemas, porque para isso ele tem poder. É a fé mais ridícula que pode existir, coisa mesmo de principiante, próprio de quem quer resolver tudo de modo rápido e sem custo.
DO LIVRO:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE-VOLUME 6
EDITORA SANTUÁRIO
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
http://www.redemptor.com.br
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