João A. Mac Dowell S.J.Não é uma contradição dizer que Deus é, ao mesmo tempo, uno e trino? Como podemos crer numa coisa tão absurda?
O mistério da santíssima trindade parece absurdo quando você o reduz a um cálculo matemático: se são três não podem ser só um; ou um Deus ou três deuses; um e três ao mesmo tempo é impossível. Mas este modo de pensar não serve para entender os mistérios de Deus. O mistério não é um absurdo, embora ultrapasse o nosso saber. A santíssima trindade é um mistério, porque o pensamento humano não pode chegar a descobrir sozinho esta verdade, nem a compreendê-la em toda a sua profundidade. Só Deus pode revelar o segredo da sua vida íntima. Você deve ter reparado como nunca chegamos a compreender perfeitamente as outras pessoas. O ser humano também é um mistério. Muito mais Deus, que é infinitamente maior do que nós. Mas quando ele se comunica, podemos entender o que ele diz, mesmo que não consigamos penetrar até o fundo de seu mistério.
Jesus mostrou que "Deus é amor". Só a linguagem do amor ajuda a entender o mistério de Deus. Não devemos pensar em números nem em coisas, mas na relação entre pessoas. O amor é sempre dom e acolhimento, entrega mútua. Supõe, por isso, mais de uma pessoa: eu, tu e nós. Em Deus também é assim. Ele é Pai porque, como amor, quer comunicar toda a sua vida ao outro que ele ama. Para poder amar, entrega inteiramente tudo o que ele é, gerando o Filho, igual a ele na divindade, mas distinto como um Filho é distinto do Pai. O Pai é a origem do Filho, mas não existe, como Pai, antes do Filho. Só é Pai porque gera o seu Filho, eternamente.
Assim como o Pai é doação eterna da própria vida ao Filho, assim também o Filho é pura acolhida do dom do Pai. Nada tem que não receba do Pai. Ele é o retrato vivo do Pai. Só se distingue do Pai, porque um é o amor como dom de si mesmo, o outro o amor, como acolhida do dom. Todo o ser do Filho é um sim de amor ao amor do Pai.
Mas o Filho não pode ser amor, se também não se entrega inteiramente ao Pai e lhe restitui amorosamente tudo o que dele recebe. Nesta doação de todo o ser do Filho ao Pai surge eternamente o Espírito Santo. Ele é o fruto do amor mútuo entre o Pai e o Filho. Procede deles como numa espécie de respiração espiritual: o Filho aspira a vida do Pai, e, expirando, devolve ao Pai o dom recebido. O Espírito Santo é o amor correspondido, o dom que retorna a seu autor. Com ele completa-se o círculo da vida trinitária de Deus.
Você vê que a trindade é um mistério de amor e comunhão: o amor de Deus que não pode viver sozinho, sem se comunicar, mas se realiza na doação mútua entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
DO LIVRO:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE-VOLUMES 1 E 2
EDITORA SANTUÁRIO
João A. Mac Dowell S.J.
http://www.redemptor.com.br
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