As palavras do Evangelho: "Quem crer será salvo, quem não crer, será condenado", me enchem de angústia, porque tenho muitos parentes que não creem em Deus e não freqüentam a Igreja. Rezo muito para que se convertam, mas até agora foi tudo inútil. São pessoas honestas, mas dizem que não têm necessidade da religião, pretendendo morrer como viveram. Que devo fazer? É verdade que serão condenados?
Não se deve tomar isoladamente as palavras do Evangelho. Esse tipo de leitura pode levar a conclusões inexatas e provocar confusão e angústia, em vez da paz, que Jesus quer comunicar aos seus discípulos. É preciso considerar o Evangelho no seu conjunto, como uma declaração de amor do próprio Deus, um convite que ele nos faz a participar de sua felicidade.
É verdade que a fé é uma condição essencial para alcançar a vida eterna. Mas como podemos saber com certeza se uma pessoa tem ou não fé? está perto ou longe de Deus? Só ele conhece os nossos corações. Não basta declarar que se acredita em Deus e em Jesus Cristo, nem freqüentar a Igreja, se falta a humildade para perdoar e pedir perdão. Por outro lado, uma pessoa pode rejeitar a fé cristã, não por má vontade, mas por causa de alguma barreira psicológica. Fez uma experiência negativa que a afastou da Igreja, ou lhe transmitiram uma idéia deformada de Deus, que não pode aceitar. Mas, se procura sinceramente seguir a sua consciência, é porque Deus já está agindo nela, para que o reconheça e ame, mesmo sem designá-lo por este nome.
É claro que a fé em Jesus Cristo e a participação na vida da Igreja, a Palavra de Deus, os Sacramentos, o apoio de uma comunidade viva, são uma grande graça de Deus, uma ajuda preciosa para viver na verdade e no amor. Por isso, você faz bem em rezar pelos seus parentes, para que descubram o caminho do evangelho de Jesus. Procure também dar o exemplo de respeito por eles, como são, e de coerência com a sua própria fé cristã.
Mas, no fim das contas, não é Deus quem julga e salva, mesmo a nós que cremos e professamos abertamente a nossa fé? Não podemos fiar-nos nos nossos méritos, nem no fato de pertencermos à Igreja, mas tão somente na bondade de Deus. Ele é paciente e misericordioso: não acaba de quebrar o caniço já rachado, nem apaga a chamazinha de amor e esperança que arde no fundo de todo coração humano (Mt 12,20). Até o fim, oferece a todos a oportunidade de encontrá-lo. Portanto, fique tranquila, deixando nas mãos de Deus o destino daqueles que ama.
DO LIVRO:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE - VOLUMES 1 E 2
EDITORA SANTUÁRIO
João A. Mac Dowell S.J.
http://www.redemptor.com.br
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