Fiquei atrapalhado quando um amigo me provocou com o seguinte raciocínio: se tudo depende de Deus, não é preciso trabalhar; mas, se tudo depende do meu trabalho, não tem sentido rezar. Como o Sr. responde a esta dificuldade?
Alguém poderia tentar escapar ao dilema da seguinte maneira: tem sentido rezar quando não conseguimos obter uma coisa por meios humanos. Por exemplo, quando se trata de uma doença incurável. Então é preciso recorrer a Deus. O resto nós podemos resolver por nossa conta, sem precisar da ajuda de Deus.
Mas essa resposta não corresponde ao ensinamento de Jesus. Para ele, tudo depende de Deus, e, ao mesmo tempo, tudo depende de nós. Não basta rezar, mas também não basta trabalhar, para alcançar o bem que desejamos. Quem reza com fé sabe que é assim por própria experiência. Mas vejamos como explicá-lo.
É de Deus que recebemos nossa vida e tudo o que ela implica. O bem que acontece no mundo, tanto na natureza, como através do esforço humano, tem sua origem nele. É claro que as plantas crescem e produzem seus frutos segundo as leis naturais. Mas, para quem tem fé, estes frutos da natureza são um dom de Deus, que a criou. Também os resultados da atividade humana no campo da ciência e da técnica, da economia e da política, não são possíveis sem a ação de Deus, que nos dá continuamente a inteligência e a liberdade, as energias e as habilidades, necessárias para trabalhar.
Tudo isso acontece, mesmo que Você não peça nem agradeça a ajuda de Deus, "porque ele faz raiar o sol sobre os bons e os maus, e chover sobre os justos e os injustos", como diz Jesus. Então para que serve a oração? Serve para receber o Espírito Santo, luz e força de Deus, que orienta para o bem toda a nossa vida e atividade. É ele que nos ensina a desejar e pedir o que convém para nós e para os outros. É ele que desperta em nós a fé que vence todos os obstáculos e remove até as montanhas, como promete Jesus. É ele também que alimenta a nossa esperança de alcançar o bem que pedimos, porque para Deus nada é impossível. É o Espírito Santo, enfim, que suscita em nós o amor, capaz de comprometer-nos até a morte pelo bem daqueles que amamos.
Portanto, a religião cristã não é o "ópio do povo", como pensava Marx. A oração não é um anestésico que impede de reagir diante das injustiças e sofrimentos, esperando que Deus venha resolver os problemas da humanidade. Ao contrário, só quando acompanhados da oração, a nossa vida e o nosso trabalho se convertem em uma bênção de Deus para nós e para os que precisam de nossa ajuda.
DO LIVRO:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE-VOLUMES 1 E 2
EDITORA SANTUÁRIO
João A. Mac Dowell S.J.
http://www.redemptor.com.br
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