REFLETINDO A PALAVRA nº 76

Pe. Luiz Carlos de Oliveira CSsR

“Ressurreição e as realidades sociais”

Aleluia, irmão! Estamos ouvindo esta palavra aleluia, em todas as celebrações, de muitos modos e tons. Na verdade, se fizermos uma enquête, vamos ver que a maioria não sabe e nem lhe foi explicado o que seja, aleluia. No tempo em que iniciamos o seminário em Sacramento, no “longínquo” 1959, os seminaristas davam coques na cabeça da filhinha da empregada e diziam que estavam tirando aleluia. A mãe lhe perguntava por que estava chorando e ela dizia que era aleluia! Para mim aleluia era o inseto que voava saindo do cupim. Mas o que significa aleluia? Aleluia, em hebraico, Hallel Yah, significa: Viva Deus! É uma expressão de júbilo e alegria. Cantamos e rezamos esta palavra indicando nossa alegria pela ressurreição de Cristo vencedor do mal e da morte.

Mas, como cantar aleluia num mundo ainda cheio de dor, onde na terra de Jesus se atira e mata ao primeiro movimento? Como cantar aleluia, numa situação onde poucos têm muito e muitos vivem na dor e na dificuldade; onde há guerras, fome, opressão, droga, exploração e falta de amor. Não falamos do mundo em geral, mas dos pequenos mundos onde vivemos. Vale a pena acreditar? Esta ressurreição de Jesus tem somente a ressonância espiritual de salvar almas? Ou ela incide nos grandes problemas do mundo?

Os quadros da tradição oriental sobre a ressurreição de Jesus mostram-no estourando as portas dos infernos abrindo assim os caminhos da libertação a todos. Com isso quer significar que tudo o que é mal não tem consistência e será destruído. Jesus ressuscitado é o Senhor de tudo. Para Ele converge o universo com todas suas energias e realidades. Ele é o ponto Omega. Ele é o Dominador, o Pantokrátor. Mas o que vemos ainda são as ruínas do império de Deus? Qual é a solução?

Deus não salva o homem sem a ajuda do homem. Jesus iniciou no mundo o seu Reino de justiça, amor e paz como uma energia transformadora. Mas colocou nas mãos dos homens e das mulheres a missão de por em ação este reino. Cristo quer esta contribuição das pessoas que estão unidas a Ele para que elas produzam frutos. “Eu vos enviei para produzirdes frutos e que vosso fruto permaneça” (Jo 15,16).

Como o cristão vai produzir fruto? Assumindo sua condição pessoa a partir do evangelho na condição em que vive. Todos podem fazer muito, se cada um faz o que deve. Qualquer vocação, qualquer profissão, qualquer pessoa de qualquer raça, pode fazer muito. Vejamos os homens e mulheres que fizeram muito pelo mundo: eram de todas as condições, mas assumiram uma posição clara pelo evangelho ou pela justiça, o bem e o amor, no respeito e na promoção da pessoa. Qualquer gesto que se fizer para o bem do irmão, transforma-se em uma torrente que destrói o mal e fecunda para vida nova.

Artigo (23.04.02)