Por vezes temos a ideia que tornar-se cristão significa tornar-se mais religioso: passar a acreditar que Deus existe, andar com uma cruz ao peito ou com a imagem de Jesus na camisa, passar a frequentar as cerimónias religiosas…
A palavra religião vem de re-ligar, e significa todos os esforços e procuras que o ser humano faz para se ligar com o transcendente. Em toda a história o homem sempre procurou respostas para as perguntas mais importantes da sua vida.
É claro que tornar-se cristão pressupõe a dimensão religiosa de abertura ao transcendente; mas não se trata de escolher uma entre as várias religiões, como num supermercado, assistir a alguns ritos e cerimónias e praticar algumas condutas morais.
Nos Evangelhos vemos que Jesus não chama os discípulos para que estes se tornem pessoas religiosas: eles já eram judeus, já conheciam o Deus de Israel do Antigo Testamento. Jesus não os chama para que eles se tornem judeus mais praticantes, não os chama para irem mais vezes ao templo de Jerusalém. Convida-os para que, com Ele, descubram juntos a novidade do Rosto e do Amor de Deus, o Reino de Deus.
Jesus também era acusado de chamar discípulos que não eram considerados como “bons judeus”: o caso de Levi (também chamado de Mateus), cobrador de impostos, uma profissão mal vista na altura. Jesus não lhe pede que “regresse” à prática judaica, mas que o siga. E a transformação acontece na vida de Levi. O mesmo acontece com Zaqueu.
«Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o. Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos. Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?» (Mateus 9,9-11)
Temos também o caso de Paulo: ele próprio diz que era um judeu exemplar, pertencia a uma classe de judeus ultra-patricantes, os fariseus. No entanto, teve de “cair” ou “dar um salto” para descobrir que a lógica de Deus, em Jesus, é outra: Deus não quer um grupo de religiosos praticantes, mas uma Nova Humanidade de irmãos e irmãs que nascem para uma Vida Nova no Amor!
Tornar-se cristão, ou discípulo de Jesus, é pôr-se a caminho para descobrir, na nossa vida, o Rosto de um Deus que é Amor. É ir abrindo os olhos e os ouvidos para ver e escutar como Deus está a agir na nossa história, amando-nos na mais bonita Graça e Liberdade.
Assim, tornar-se cristão não é praticar uma religião mas é escrever um Projeto de Vida, ir crescendo e assumindo nas nossas opções e atitudes os critérios e prioridades de Jesus. É levar a nossa própria vida a sério, realizando-a no que é mais importante e que não morre: o Amor.
Os cristãos são pessoas religiosas no sentido em que vivem abertos e atentos à presença de Deus nas suas vidas, a presença de um Amor sempre novo e sempre maior que nos convida, interpela e chama a viver no Amor. Não basta dizer que acreditamos num deus lá nas alturas, como acreditamos na existência de Saturno!
Do mesmo modo, os cristãos não “assistem” a ritos e cerimônias religiosas, mas reúnem-se para, juntos em comunidade, descobrir de novo o Rosto e a Presença de Deus e celebrar a Nova Humanidade que nasce com Jesus; os sacramentos são celebrações com uma linguagem simbólica para proclamar esta Boa-Notícia!
Fonte: Rui Vasconcelos, CSsR (EconomiadaSalvação.blogspot.com)
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