Padre Walmir responde em 08/02/10

PADRE WALMIR GARCIA DOS SANTOS CSsR

Paulo José: Não consigo entender porque em nosso país há tantos escândalos envolvendo nossos governantes. Seria falta de Deus na vida deles? Qual a sua opinião?
O nosso país vive imerso na corrupção. Já alertava Jesus no seu tempo que os governantes, aqueles que detêm o poder exploração e sugam as pessoas, mas entre os cristãos não deveria ser assim. Infelizmente muitas pessoas quando assumem o poder, querem usufruir para o seu próprio bem, esquecendo-se que a missão principal deles é servir ao bem comum. Cada um quer levar mais vantagem do que o outro e, como não há punição, a coisa vai se alastrando. É falta de Deus sim, falta de assumir os valores que Deus nos deixou, que é a honestidade, a retidão, a solidariedade, o amor para com o próximo, o não se deixar corromper pelas atitudes do mundo, a busca do bem comum, etc... Quando faltam essas coisas é porque está faltando Deus no coração da pessoa. Podemos até falar em nome de Deus, mas se não agimos conforme os seus ensinamentos somos hipócritas.

Não identificada: Ultimamente em minhas orações tenho pedido mais do que agradecido a Deus. Às vezes tento reverter isso, mas quando percebo, já bombardeei Deus com pedidos e mais pedidos. Será que o meu egoísmo está tão em alta ou seria insegurança, ansiedade da minha parte?
De fato precisamos exercitar a gratidão. Não podemos só pedir, mas por outro lado pedir não é coisa ruim, pois o próprio Jesus nos ensinou a pedir, mas é muito importante sermos agradecidos pro tudo o que somos e temos; agradecer tantas graças recebidas, tantos bens que Deus nos deixou, principalmente a vida. É bom acordar de manhã e dizer obrigado Senhor por mais um dia. Peça, mas também agradeça.

Isabel Fonseca: O mundo está tão ruim, tão violento, será que a Igreja Católica, que é a maior do mundo, não poderia ter feito mais na questão da paz? Será que ela não poderia ter exigido mais de nós, fiéis, quanto à moral?
O mundo sempre foi muito violento, não é um “privilégio” de nossos tempos. A Igreja sempre fez muito pela paz, infelizmente muitos não ouvem a voz do evangelho e não se convertem para o bem. A Igreja, que somos todos nós que acreditamos em Jesus Cristo, deve sempre estar atenta aos ensinamentos de Jesus e colocar em prática o que Ele mostrou com sua própria vida. A instituição Igreja não pode, não tem como, obrigar as pessoas a se converterem, ela propõe uma vida santa, mas o egoísmo e a falta de acolhimento da proposta levam a pessoa à recusa e, a conseqüência é o mundo que vivemos.

Não identificada: Recebi uma graça e em troca disse para Deus que ficaria um ano sem comer doce, que eu adoro. O que para mim vai ser muito difícil, mas às vezes fico pensando se é esse tipo de sacrifício que Deus espera de mim. O acha?
Eu penso o seguinte: nós não devemos fazer trocas com Deus, isso seria comércio com Ele. Eu particularmente não gosto desta prática de fazer promessas, seja para conseguir algo, seja para agradecer uma graça. Eu gosto da prática da gratidão e vejo que a melhor forma de agradecer a Deus é servir às pessoas fazendo o bem, por exemplo, fazer o propósito de dar uma cesta de alimentos para necessitados, ou outra caridade. O que você propôs como troca será difícil de cumprir, como você mesma disse. E ainda, Deus não quer sacrifico de nossa parte, Ele quer a prática da misericórdia.

Amália de Abreu: Gostaria que falasse um pouco sobre a vida de João Batista, o profeta.
Bem, segundo o relato do Evangelho de S. Lucas, João era filho de Isabel (parenta de Maria) e de Zacarias. Isabel era uma mulher estéril e, por intervenção divina, ela, já na idade avançada ficou grávida. O menino estava destinado a ser o precursor do Messias. Foi ele que preparou o caminho do Senhor; foi ele quem apontou o Messias, o cordeiro de Deus; foi ele que exortou o povo à conversão para a vinda do Reino dos céus. João era um homem muito radical e severo, chamava a atenção das pessoas que viviam no pecado e foi morto exatamente porque denunciou o pecado de Herodes, que vivia maritalmente com sua cunhada. Está aí, um homem de Deus, um profeta que veio para anunciar o Reino, denunciar o pecado e exortar para a conversão.

Benedita Leite: Não consigo jejuar. O que devo fazer? Será que minha fé está tão fraca assim?
Eu aconselho você a ler Isaías 58, 1-9, ali fala do verdadeiro jejum, que não é só ficar sem comida, fazendo sacrifício. Deus não exige de nós sacrifícios, apesar de que fazer jejum de comida também não é de todo um sacrifício penoso, faz até bem pra saúde. A igreja pede que nós jejuemos somente dois dias no ano, na quarta feira de cinza e na sexta feira da paixão. Leia e reflita o texto acima.

Lourdes Maria: Se Jesus Cristo morreu para nos salvar, por que ainda se fala em inferno, purgatório? Já não estamos salvos?
Minha cara amiga, você já ouviu falar em recusa? Alguém lhe dá um presente e você não aceita, ou aceita e joga fora? Pois é assim, Jesus morreu para nos salvar e nós, com nosso pecado, nossa vida fora do projeto de Deus, recusamos e/ou jogamos fora o presente, a salvação que Ele nos deu. O inferno é para os que não aceitam o presente, recusam a graça de Deus dada por Jesus, nosso Salvador.

Benevides Alves: Constantemente lemos nos noticiários gente rica, jovens, filhos de milionários, morrerem na flor da idade por causa, principalmente de overdose. O que acha, a prova da riqueza é mais difícil que a prova da pobreza?
Eu digo que a educação está errada. Há falta de sentido na vida dos jovens. Os pais ricos querem dar tudo para os filhos, sem nada exigir, conseqüência, vida fútil, sem sentido, busca de sentido nas drogas. É preciso educar as pessoas para o trabalho e para o estudo, nunca permitir tudo. Está faltando limite nas relações, isto é muito perigoso.

Pedro Alves: Todos os pais são orientados a educarem seus filhos na fé para que, no futuro eles possam se tornar cidadãos de bem e colaborar para uma sociedade mais justa. No entanto, as ruas estão cada vez mais cheias de crianças abandonadas por todos nós. Por que nós e a Igreja não assumimos resolver este problema, já que o governo finge não poder fazer nada?
Nem todos os pais são orientados; nem todos recebem uma educação sadia, no convívio de uma família equilibrada. Muitos só colocam filhos no mundo sem se importar com a sua sobrevivência deles e muito menos com o seu bem estar. Não é culpa deles, não foram orientados e nem tem condições de assumir isso. É um caos social o que estamos vivendo. As leis, para que uma instituição assuma o papel da família, estão cada dia mais exigentes, daí a diminuição de creches e orfanatos que a Igreja mantinha. A responsabilidade é do governo, é da nação, a Igreja supria essa lacuna, mas infelizmente hoje está muito difícil assumir isso. É preciso analisar bem o Estatuto da Criança e do Adolescente para ver o que se pode fazer.

Elenildes Davi: Graças a Deus o Brasil não tem pena de morte, mesmo para aqueles que cometem crimes hediondos. As Igrejas têm grupos que visitam os presídios e sabem que tem gente irrecuperável. O que tem a dizer sobre isso?
Eu não acredito em pessoa irrecuperável, todos têm possibilidades de alguma mudança, basta querer, tratar, deixar ser ajudado. Não é um trabalho fácil, é um desafio que as Igrejas cristãs tentam com o trabalho nos presídios. Eu comungo com a sua idéia de não concordar com a pena de morte, não se pode barrar a violência com outra pior. O nosso país precisa de mais emprego, de mais educação e menos corrupção. O sistema vigente só colabora para a violência e a revolta das pessoas menos preparadas.

http://www.matrizdecampinas.org.br/blog-dos-padres