Pe. João A. Mac Dowell S.J.
Outro dia, falando dos crimes dum bandido da favela, o padre disse que a culpa é da sociedade. Será que ninguém mais tem culpa das próprias ações?
Talvez o padre não tenha explicado completamente o que queria dizer. A resposta é um pouco mais complexa. Cada um é responsável de suas ações na medida em que as pratica livremente. A liberdade interior consiste na capacidade de agir com independência, escolhendo isso ou aquilo. Ela é uma característica do ser humano. O comportamento dos animais é determinado por seus instintos. Nós, porém, podemos dizer sim ou não diante de um bife, mesmo quando estamos com fome.
Mas o funcionamento da nossa liberdade pode ser mais ou menos obstaculado por vários fatores. Existem pessoas que, por doenças mentais, não são capazes de tomar decisões livres. Não são, portanto, responsáveis do que fazem. Noutros casos, o estado psicológico de alguém limita o espaço de sua liberdade, sem eliminá-la completamente. A responsabilidade é parcial. Estas restrições da liberdade pessoal podem vir do próprio organismo, como uma tara de nascença ou por um acidente posterior.
Mas muitas vezes é o ambiente em que alguém vive, a educação ou falta de educação, as experiências feitas, que deformam a sua mente, reduzindo a liberdade. Quem na infância foi tratado e maltratado como um cachorro, sem família, sem afeto, sem respeito, nutre facilmente ressentimentos profundos, impulsos incontroláveis de vingança. Quem viveu sempre no meio da violência nem sempre é capaz de dar valor à vida, nem à própria nem à dos outros. Pessoas assim certamente não gozam de plena liberdade, quando roubam, assaltam, matam. Até que ponto são ou não moralmente responsáveis de seus atos, é difícil dizer, porque outros que cresceram em circunstâncias parecidas, por exemplo na miséria de uma favela, têm um comportamento digno. Quando o criminoso foi tão marcado pelo ambiente negativo que não pode ter um comportamento normal, a sociedade é indiretamente culpada dos seus crimes, pois não lhe ofereceu condições mínimas para uma vida decente, de pessoa humana.
Isto não impede que se apliquem as leis indispensáveis para defender os membros da sociedade das agressões dos criminosos. Mas estas leis devem ser aplicadas só na medida necessária para evitar males maiores, sem crueldade, nem espírito de vingança. Há criminosos que são plenamente responsáveis. Mas cada um de nós deve perguntar seriamente como pode contribuir para melhorar uma sociedade que, com suas injustiças, produz também pessoas incapazes de usar de sua liberdade e agir humanamente.
Do Livro:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE-VOLUMES 1 E 2
EDITORA SANTUÁRIO
João A. Mac Dowell S.J.
http://www.redemptor.com.br
Outro dia, falando dos crimes dum bandido da favela, o padre disse que a culpa é da sociedade. Será que ninguém mais tem culpa das próprias ações?
Talvez o padre não tenha explicado completamente o que queria dizer. A resposta é um pouco mais complexa. Cada um é responsável de suas ações na medida em que as pratica livremente. A liberdade interior consiste na capacidade de agir com independência, escolhendo isso ou aquilo. Ela é uma característica do ser humano. O comportamento dos animais é determinado por seus instintos. Nós, porém, podemos dizer sim ou não diante de um bife, mesmo quando estamos com fome.
Mas o funcionamento da nossa liberdade pode ser mais ou menos obstaculado por vários fatores. Existem pessoas que, por doenças mentais, não são capazes de tomar decisões livres. Não são, portanto, responsáveis do que fazem. Noutros casos, o estado psicológico de alguém limita o espaço de sua liberdade, sem eliminá-la completamente. A responsabilidade é parcial. Estas restrições da liberdade pessoal podem vir do próprio organismo, como uma tara de nascença ou por um acidente posterior.
Mas muitas vezes é o ambiente em que alguém vive, a educação ou falta de educação, as experiências feitas, que deformam a sua mente, reduzindo a liberdade. Quem na infância foi tratado e maltratado como um cachorro, sem família, sem afeto, sem respeito, nutre facilmente ressentimentos profundos, impulsos incontroláveis de vingança. Quem viveu sempre no meio da violência nem sempre é capaz de dar valor à vida, nem à própria nem à dos outros. Pessoas assim certamente não gozam de plena liberdade, quando roubam, assaltam, matam. Até que ponto são ou não moralmente responsáveis de seus atos, é difícil dizer, porque outros que cresceram em circunstâncias parecidas, por exemplo na miséria de uma favela, têm um comportamento digno. Quando o criminoso foi tão marcado pelo ambiente negativo que não pode ter um comportamento normal, a sociedade é indiretamente culpada dos seus crimes, pois não lhe ofereceu condições mínimas para uma vida decente, de pessoa humana.
Isto não impede que se apliquem as leis indispensáveis para defender os membros da sociedade das agressões dos criminosos. Mas estas leis devem ser aplicadas só na medida necessária para evitar males maiores, sem crueldade, nem espírito de vingança. Há criminosos que são plenamente responsáveis. Mas cada um de nós deve perguntar seriamente como pode contribuir para melhorar uma sociedade que, com suas injustiças, produz também pessoas incapazes de usar de sua liberdade e agir humanamente.
Do Livro:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE-VOLUMES 1 E 2
EDITORA SANTUÁRIO
João A. Mac Dowell S.J.
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