Ouvi dizer que a Igreja proibe o casamento de um deficiente físico só porque ele não pode ter relações sexuais completas. Não é uma discriminação e crueldade contra quem já sofre tantas limitações?
Este é um assunto delicado. Devemos tratá-lo com sensibilidade, mas sem deixar-nos levar simplesmente pelo sentimento. As normas da Igreja procuram o bem da pessoa humana no seu conjunto. Não podem, porém, satisfazer todos os desejos, ainda que legítimos, de cada um. Há, por exemplo, muitas pessoas que por razões de saúde ou outros motivos não têm condições de casar-se, embora o desejassem. A Igreja tem grande compreensão para com todas estas situações e procura ajudar quem nelas se encontra a carregar sua cruz com fé e esperança, buscando sua realização noutro tipo de amor. Ao mesmo tempo, não rejeita nem mesmo aqueles que não conseguem cumprir objetivamente os preceitos da moral cristã, antes os acolhe com respeito e amor, estimulando-os a confiar na misericórdia de Deus.
No caso que estamos examinando, a Igreja sempre considerou a impotência como um impedimento para o casamento. Não existe casamento verdadeiro se o homem ou a mulher são incapazes de ter relações sexuais completas entre si. A razão é que o casamento cristão, i.e. o sacramento do matrimônio, é a santificação da própria união conjungal, que pertence à natureza humana e tem uma referência essencial às relações sexuais entre os esposos.
A própria Bíblia acentua esta dimensão corporal da união conjugal com palavras que Jesus repete: O homem deixará pai e mãe, e se apegará à sua mulher, e serão uma só carne. O amor conjungal tende assim a consumar-se através da cópula. De fato, a diferença sexual é constitutiva desse gênero de amor e o distingue de qualquer outra amizade. Por isso, ele inclui a expressão sexual e mesmo genital. Assim, para a união conjugal, não bastam manifestações recíprocas de afeto e mesmo estímulos eróticos, se não é possível chegar ao ato conjugal. Aliás, os estímulos e atuações genitais que não se orientam ao ato completo são moralmente inaceitáveis.
Com estas ressalvas, duas pessoas incapazes de manter relações sexuais entre si podem contrair um pacto de amor e mútua ajuda para toda a vida. Mas esta aliança, não sendo orientada efetivamente para a união conjugal, não pode ser selada pelo sacramento do matrimônio. Como Você vê, não há nenhuma injustiça nem crueldade nesta posição. Ela corresponde a uma situação objetiva, que pode ser vivida pelas pessoas envolvidas com muita fé e dignidade.
Do Livro:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE - VOLUMES 1 E 2
EDITORA SANTUÁRIO
João A. Mac Dowell S.J.
http://www.redemptor.com.br
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