PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR
Acreditar em revelações?
Assistimos à exacerbação do entusiasmo popular pelo maravilhoso e prodigioso. O povo corre para os lugares onde acontecem essas visões e prodígios imaginários. Multiplicam-se as pretensas mensagens de Nossa Senhora, das sensatas até as mais descabidas.Temos de distinguir entre a revelação e as revelações. A revelação, que traz o conteúdo do que devemos crer para que o reino de Deus se estabeleça, está completa com a morte do último dos apóstolos; foi confiada aos apóstolos e é guardada pelo magistério da Igreja. Tudo o que temos, além do Novo Testamento, é explicitação dessa revelação.Aparecem contudo na vida da Igreja revelações privadas ou particulares. Elas têm um caráter secundário e acessório e se misturam com muitos elementos humanos.Face a essas revelações particulares, a Igreja fixa sua atenção nos bons frutos como critério de reconhecimento (Mt 7,16-18). E, mesmo que sejam aceitas pela Igreja, de acordo com Bento XIV, não é necessário que sejam aceitas mesmo dentro do critério de credibilidade e do grau de probabilidade. Mesmo favorável a algumas revelações particulares, não supõe a obrigação de se crer nelas.Ninguém critica os movimentos de oração e penitência que surgem dessas revelações; criticamos a ingenuidade com que são aceitas e a ausência de uma análise que fundamente esses acontecimentos, sejam de grau mais elevado como visões de Jesus e Maria, sejam nascidas de mensagens que uma pessoa (movida ou não pela graça) profere.É claro que pessoas podem, movidas pelo Espírito, oferecer mensagens dignas de credibilidade, mas seria tão bom se essas pessoas se submetessem a um exame psicológico ou psiquiátrico para que tivéssemos mais tranqüilidade quanto ao que dizem.Por outro lado, essas mensagens se revestem de conceitos tão nossos, que não são próprios de quem está na glória de Deus, onde “não haverá lágrimas” (liturgia da missa). Assim vemos mensagens que apresentam Nossa Senhora chorando, quando sabemos que com a morte cessa todo o sofrimento e quem está com Deus na glória não sofre, não chora, não se entristece. O que dizer disso?Esse modo humano de falar favorece o sentimentalismo religioso, falseia as coisas de Deus, distraindo as pessoas do essencial.Falta coragem para dizer que nenhuma dessas revelações particulares salvam; apenas podem ajudar as pessoas a reencontrarem o bom caminho, uma vez que Deus pode manifestar-se através de qualquer meio. Por outro lado continua sendo um dado sociológico e psicológico que, quando o povo não tem mais no que confiar, aparecem sempre os “messianismos salvadores” que catalisam a desesperança do povo.É preciso saber em quê e por quê crer.
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
EDITORA SANTUÁRIO
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