PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR
Onde fica a hospitalidade?
Para um bom observador, vai chamar a atenção a quantidade de placas proibindo a entrada. Para minha surpresa, encontrei em uma missão rural uma porteira na qual estava escrito algo inédito: ENTRE.Fiquei revendo em minha cabeça a figura veneranda de Abraão acolhendo à sombra do carvalho em Mambres seus hóspedes e mandando preparar-lhes a comida. Que capacidade de acolher a dessa família?Impressiona-nos como a modernidade nos fez perder o senso de hospitalidade e nos tornou fechados em nós mesmos e aos outros. Não confiamos em mais ninguém, temos medo de todos, ficamos inseguros diante de quem não conhecemos e até de conhecidos. Todos são nossos inimigos em potencial.Ninguém está querendo nem pregando a ingenuidade, afinal vivemos um tempo em que a violência, a falta de ética imperam. Vivemos a ansiedade da vida moderna, onde ninguém tem tempo para uma acolhida piedosa e fraterna. Ninguém tem tempo para uma conversa descontraída e para dar atenção a ninguém.Mas também vivemos numa época de hipocrisia, porque temos tempo de acolher em nossas casas muitas personagens da televisão que nunca nos amaram e nem têm moral para estar em nosso meio. Acolhemos inúmeros programas de violência que falam do desrespeito à pessoa, notícias fantásticas e acontecimentos onde vilões viram artistas e facínoras só faltam receber placa com nome de rua.Agora perguntamos onde está a nossa convicção religiosa e evangélica, onde a hospitalidade é vida partilhada como fruto de uma fé firme e comprometida? Hoje não se quer mais uma religião que exige compromisso, todos procuram aquilo que dá prazer e resolve os problemas com rapidez.Onde andaria por essas alturas a sensibilidade cristã que leva à partilha do pão com quem tem fome? Mais uma vez nos sentimos longe do Evangelho que diz: “Quando vocês derem um almoço, não convidem os amigos; saiam pelas ruas e convidem os cegos, os aleijados, os pobres que não possuem com que lhes retribuir... ajuntem tesouros nos céus”. São categorias bíblicas, mas nos ensinam a acolher os excluídos e a sentir a felicidade de quem serve com amor. Não ter tempo é síndrome de quem não tem capacidade de refletir, de se organizar e organizar suas prioridades. É levado pelos ventos da modernidade, mas vai chegar uma hora em que vai perceber o engano que cometeu e vai dizer: “Fiz tantas coisas e não consegui ser feliz”.
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
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