PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR
Como desembaraçar-se das coisas?
Quando alguém fala em renúncia, isso soa dolorido dentro de nós. Há tantas renúncias forçadas, que aceitamos por não ter outra saída.
Essa idéia de renúncia ficou muito marcada em nossa vida espiritual, principalmente porque se acentuava muito a necessidade de se privar das coisas para adquirir a liberdade interior. Assim se renunciava aos alimentos, às alegrias e ao conforto, a renúncia dos votos religiosos, renúncia a uma vida mais livre.
Quando, porém, analisamos a parábola do homem que encontrou um tesouro e vende o que tem, para comprar aquele campo, percebemos que não se trata de renunciar e sim de se desembaraçar das coisas para adquirir um bem maior.
Renúncia traz um peso, o desembaraçar-se liberta a ação de deixar o que se tem para adquirir o tesouro. Isso se faz com alegria e não com as lágrimas de ter de deixar.
Esse desembaraçar-se pode ser custoso para quem não consegue avaliar o que possui nem sabe avaliar o que quer conseguir. Quando o tesouro é grande, ele fascina e leva à tomada de atitude sem ter de olhar as perdas e sim o ganho.
É por isso que não conseguimos nos desembaraçar de tantas situações e de tantas coisas. Fica difícil dispor de nossos bens, quando não percebemos a riqueza da solidariedade, da justiça. Há gente que tem demais e aparentemente é feliz, mas se afunda na procura de bens sem perceber que há tantas coisas sobrando em sua casa, em sua vida, e que há valores maiores a serem buscados.
Como explicar a uma pessoa habituada ao exagero do consumo, que tudo aquilo não é necessário e que com pouco se pode viver?
A falta de visão do bem maior, o apego àquilo que já conseguimos, a insegurança diante do amanhã, fazem com que nos sintamos confortáveis e não procuremos algo de maior valor.
E assim vamos deixando para depois a solidariedade e vamos nos enchendo de bens, de coisas, pensando e nos iludindo com uma falsa ou efêmera felicidade.
Como estamos longe de respirar os ensinamentos evangélicos e como ficam distantes esse Reino de Deus, essa solidariedade, essa justiça do Reino que semeia a paz e faz todos iguais, com direitos iguais.
E o nosso problema é sempre olhar para o que os outros fazem, se vão fazer. Se não acontece, sentimo-nos desobrigados de fazer, apenas porque os outros ou ninguém faz.
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
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EDITORA SANTUÁRIO
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