27 DE SETEMBRO DE 1696 - POVOADO DE MARIANELA -NÁPOLES - ITÁLIA
Nesta data nasceu Santo Afonso (313 anos). Considerando ser bastante conhecida sua biografia, procurei algum artigo que nos transmitisse alguma coisa de atual na vida de Santo Afonso. Pesquisando no site da Congregação achei este artigo do Padre Márcio que mostra o quanto é atual sua herança.
Herança ética de Santo Afonso para nossos dias
P. Márcio Fabri dos Anjos, C.Ss.R. (*)
Santo Afonso de Ligório (1696-1787) foi uma personalidade marcante, que deixou uma preciosa herança ética para nossos dias. Esta herança tem duas faces importantes, uma constituída por suas atitudes pessoais e outra delineada pela metodologia e conteúdos com que ele elaborou cientificamente suas propostas de ética cristã. São duas faces recíprocas. De fato, este grande teólogo da moral, tem suas teorias e seu método de trabalho científico fortemente sustentados por uma postura de vida que é um exemplo para nós hoje. A atualidade da contribuição científica de S. Afonso em Teologia Moral se manifesta primeiramente de forma indireta, influenciando em toda a metodologia católica de pensar e propor a ética cristã. É significativo neste sentido, que em 1871 ele tenha sido declarado oficialmente doutor da Igreja e padroeiro dos teólogos da moral e dos confessores. Ficou conhecido como alguém que ajudou substancialmente a Igreja a recuperar a sabedoria de adaptar as exigências morais às reais condições das pessoas; fomentar nelas a confiança, e despertá-las para práticas acessíveis de transformação gradativa de vida.
Afonso implicitamente mudou o eixo ao redor do qual giravam as normas e mandamentos morais. Em uma época em que imperava o vigor da lei, as prescrições de modo geral visavam defender a Ordem emanada de Deus, o Ser supremo, Sua Majestade infinita, que seria ultrajada a cada desobediência de suas leis. O novo eixo das propostas consistiu , como diríamos em linguagem atual, em "recuperar os sujeitos da moral", isto é, as pessoas para as quais as normas se fazem, e consequentemente a finalidade que as leis tem para suas vidas.
Na moral alfonsiana, as normas morais, em última análise, mudam de lugar e de função. De lugar, porque já não buscam força apenas na objetividade externa, mas passam pela elaboração da consciência das pessoas, o santuário sagrado em que Deus é de fato adorado sem hipocrisias. E mudam também de função, porque, em vez de serem defesa da Majestade de Deus, são antes estratégias de salvação, que derivam de um Deus amoroso e salvador, solícito em socorrer as pessoas fracas e salvá-las. Em outros termos, troca-se uma moral punitiva e expiadora pela moral entendida como chamado ou vocação do amor de Deus para sermos seus filhos e filhas.
Esta perspectiva é atualíssima. Hoje a Igreja define a teologia moral como "ciência que, alimentada na S.Escritura, explicita a vocação dos fiéis em Cristo e a exigência de produzirem, no amor, frutos para a vida do mundo".
Entretanto, é instigante perceber como S.Afonso chegou a este salto metodológico. Em nossos dias se observa também que a consciência ética começa pelo reconhecimento do "outro", do semelhante em nossa vida. Sobre a base de uma educação cristã familiar, por um lado rigorosa e, por outro ao mesmo tempo muito afetuosa; com o dom de uma inteligência brilhante e uma grande sensibilidade artística; Afonso soube desenvolver um sentimento humanitário profundo, transformado em inúmeras expressões de solidariedade para com as pessoas mais necessitadas. Este sentimento, força de sua espiritualidade, marcou não apenas sua vida e sua vocação, mas foi também decisivo para sua metodologia científica em teologia moral.
A este sentimento se soma uma radical honestidade profissional com que Afonso sempre trabalhou. Tal honestidade o levou a romper com uma brilhante carreira de advogado, como também o colocou nas árduas tarefas de pesquisar, verificar as opiniões de outros autores, e estudar muito, antes de fazer suas afirmações. Mas Afonso não seria Afonso sem a grande capacidade de somar razão e coração no estudo, na espiritualidade, no tratamento de temas teóricos, no modo de ver e tratar as pessoas, especialmente as mais simples e pobres.
A herança ética que Afonso nos deixa, comprova assim, que teoria e prática caminham profundamente entrelaçadas. Para aproveitar desta herança não basta, portanto, apenas estudar suas teorias e propostas, mas é imprescindível beber também da espiritualidade que o animou. E consolidaremos a convicção de que toda ética consistente começa por uma profunda atitude de respeito e solidariedade pelas pessoas, especialmente as mais fracas, pobres e necessitadas.
* Missionário Redentorista, doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana, de Roma. Presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião; professor de Teologia Moral em S.Paulo; diretor do Instituto Alfonsianum de Teologia Moral.
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