PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Vivemos e oramos no mundo
Ao contemplarmos a Ascensão de Jesus podemos pensar que o “espiritual” deixou nosso mundo. Foi esta a atitude dos discípulos ao ficarem olhando para o alto quando Jesus subiu aos Céus. O anjo disse-lhes: “Por que estais olhando para o alto?” Há um mundo pela frente no qual estaremos até que Ele “Volte do mesmo modo que subiu”. A vida espiritual e as orações têm a ver com mundo do dia a dia. À medida que a oração se tornou um exercício espiritual, a realidade do mundo e das pessoas foi se tornando ausente. Os manuais de oração se sucederam. Curioso é como desapareceram com rapidez. Os salmos nascem do coração de uma pessoa que viveu uma realidade, rezou em cima de seus pés, em uma terra sofrida ou feliz, em meio a um povo, em uma natureza que bebia com os olhos, sentado à mesa do Criador como que a olhando como Ele a vê. Basta ver a ligação de Jesus com a natureza, com as pessoas, percebendo-se parte desse mundo e solidário com as pessoas e com suas situações. Quando Ele para o enterro do filho da viúva de Naim, sente a dor da mãe. O mesmo ocorre no túmulo de Lázaro. Chora com as irmãs e reza ao Pai agradecido porque sempre o escuta (Jo, 11,41). Jesus rezava dentro da natureza. Era seu costume ir ao monte para rezar. Era seu templo predileto. Tinha os olhos cheios dos campos de trigo, dos lírios do campo, dos passarinhos, das ovelhas, do lago, do deserto e, sobretudo, de cada pessoa que por Ele passava. Tudo levava ao Pai. A oração do fiel deve partir orvalhada pela natureza, molhada pelas lágrimas de dor ou enfeitada pelos sorrisos de alegria. Como é difícil fazer esta passagem para a oração nascida da vida.
Razão para orar
O mundo em que vivemos é o leito de nossa oração. Reza o Espírito em nós, mas ora onde estamos. A tentação de afastar-se do mundo ofende as palavras de Jesus: “Não peço que os tire do mundo, mas que os livre do Maligno” (Jo 17,15). A oração para ser viva, e não discurso ou só repetição mecânica, deve envolver-se do que somos, temos, vivemos e com quem vivemos. Assim vemos o publicano humilhado dizer: “Piedade de mim porque sou um pecador”. Diziam outros: “Senhor, fazei que eu veja”, “que eu seja purificado”, “eu Te dou graças porque me consolastes” e tantos outros exemplos. A oração envolve os que estão conosco: “Como é bom e agradável os irmãos viverem juntos em harmonia”. Reza as situações políticas e sociais: “Ele tem pena do pobre e do indigente”. Ezequias vai ao templo e mostra a Deus a carta ofensiva do Rei da Babilônia. O povo clama em sua desgraça e louva na alegria. Tudo o que vive e respira louve o Senhor. Basta ver os salmos e sentiremos o pulsar da natureza. Cada situação é degrau para a oração.
A oração transfigura o mundo
É curioso notar que quando dizemos a uma pessoa ‘vou rezar por você’, ela já se sente garantida. A oração feita na fé, mesmo frágil transforma as situações. Por isso pedimos para chover, para acabar as guerras, pedimos a cura de uma doença, a solução dos problemas, mesmo os mais simples. Ela muda nosso coração, tirando-nos do mal, dando-nos segurança em nossos sofrimentos espirituais e corporais. A oração é o melhor laboratório para os problemas humanos. Fale diante de Deus sua vida que verá ressurgir a vida. Poderemos mudar o mundo quando melhorarmos nossa oração.
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Art. 393 - Maio/2005
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