Por: Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
Vigário Paroquial da Paróquia Bom Pastor
Juiz de Fora, MG
A Liturgia não é qualquer brincadeira. Se ela, deveras, tem um aspecto lúdico, pois que, como um jogo, tem suas próprias regras e não é algo que possa ser reduzido ao domínio do útil, sua grandeza, contudo, consiste em manifestar ao homem a beleza de Deus e de sua salvação. Daí a necessidade de a Igreja, depositária da Revelação, cuidar sempre com renovado interesse para que, de fato, a Liturgia seja celebrada de tal modo que, por ela, a beleza de Deus e se comunique à alma e à sensibilidade dos fiéis, arrebatando-os, de algum modo, do mundo do dia-a-dia e introduzindo-os na esfera do sagrado, em que as razões do ser, do agir e do fazer encontram seu sentido derradeiro.
Assim, a Liturgia não pode ser compreendida como uma celebração que o homem inventa e faz por si mesmo. Ela contém algo de maior. Uma Liturgia que não fosse celebrada como um dom não poderia, em última na análise, oferecer salvação alguma. Ela reduzir-se-ia a um culto narcísico, que colocaria o homem diante de sua própria imagem, e, no fim, diante de sua própria indigência e insuficiência, pois que só um Deus que se dirige a nós, e não o homem, pode salvar-nos.
O Rito Romano, ao longo dos séculos, sempre se caracterizou pela sobriedade e pela beleza de suas celebrações, e, desse modo, esteve apto a comunicar às almas o senso do sagrado que nos envolve, fazendo os fiéis lançar raízes nas profundezas do mistério de Deus, que resplandece no convite que nos faz à beatitude perfeita por Cristo, com Cristo e em Cristo.
O que hoje se observa, infelizmente de um modo geral, é que a compreensão da Liturgia como algo que não pode ser construído, sem mais, pelo homem, e que, portanto, deve ser acolhido como um verdadeiro dom, está se esvaindo da consciência dos fiéis. Quantas comunidades julgam poder “fazer” sua liturgia como bem entendem, às vezes desprezando explicitamente a sabedoria bimilenar da Igreja codificada nos livros e regras litúrgicos... Quantas vezes a Santa Missa, que é o que há de mais sagrado na Igreja, é invadida por atitudes que não correspondem à sua sacralidade e ao senso de mistério que deve acompanhá-la... Quantas vezes saímos da igreja com vontade de procurar um lugar para rezar, como disse Adélia Prado, tão grande o barulho e o espetáculo vazio do homem que se regozija consigo mesmo... Será que uma Liturgia simplesmente construída pelo homem à sua imagem e semelhança pode satifazer-lhe aquelas zonas mais profundas de seu ser, onde só o mistério de Deus pode penetrar?
O Papa Bento XVI tem dado sinais claríssimos de que deseja uma Liturgia celebrada de maneira a manifestar a sacralidade que lhe é constitutiva e, assim, garantir aos fiéis uma verdadeira mistagogia - iniciação ao mistério e à beleza infinita de Deus. Queira Deus que a Igreja inteira seja dócil à orientação do pastor!
É muito boa a preocupação do padre Faria...
ResponderExcluirDe repente, como também referiu-se a escritora Adélia Prado:«E está tão banalizado isso tudo nas nossas igrejas que até o modo de falar de Deus a gente mudou. Fala-se o “Chefão”, “Aquele lá de cima”, o “Paizão”, o “Companheirão”.»
«Deus não é um “Companheirão”, ele não é um “Paizão”, ele não é um “Chefão”. Eu estou falando de outra coisa. Então há a necessidade de uma linguagem diferente, para que o povo de Deus possa realmente experimentar ou buscar aquilo que a Palavra está anunciando»
Citando ainda mais a escritora:
«o canto barulhento, com instrumentos ruidosos, os microfones altíssimos, não facilita a oração, mas impede o espaço de silêncio, de serenidade contemplativa».
Segundo a poeta, «a palavra foi inventada para ser calada. É só depois que se cala que a gente ouve. A beleza de uma celebração e de qualquer coisa, a beleza da arte, é puro silêncio e pura audição». e
«Nós não encontramos mais em nossas igrejas o espaço do silêncio. Eu estou falando da minha experiência, queira Deus que não seja essa a experiência aqui», comentou.
«Parece que há um horror ao vazio. Não se pode parar um minuto». «Não há silêncio. Não havendo silêncio, não há audição. Eu não ouço a palavra, porque eu não ouço o mistério, e eu estou celebrando o mistério», disse.
Portanto, amigos, está aberta a CRUZADA DO SILÊNCIO E RESPEITO NAS IGREJAS E CAPELAS ONDE RESIDE O CORPO DE CRISTO, A CASA DE DEUS!
Antônio Ierárdi Neto
(Tampinha II)