Chão de Estrelas
Chegou a casa domingo à noite;
Após uma leve refeição
Abandonou-se num repouso
Que só os justos podiam ter.
Segunda-feira, com ar de festa,
Amanhece e um homem novo
Se levanta como nunca se levantara.
Se queda ante o espelho
E longamente fica
Admirando e analisando
Aquele rosto que lhe parecia
Muito querido e familiar.
As rugas eram menos e mais suaves
Os pelos das orelhas e os em riste no nariz
Não eram mais espinhos
De um cacto abandonado;
Os olhos estavam mais brilhantes
Sob as sobrancelhas esbranquiçadas;
Nada disso o assustava mais;
Pelo contrario,
Davam-lhe o ar sereno de um sábio.
E já não tinha mais a impressão
De que aos poucos a velhice
Transforma o homem num velho cão.
Saiu e notou que o jardim
Amanheceu mais florido.
Colheu uma florzinha e assobiando
Andou pela rua, deu a flor a uma criança.
Conversou com vizinhos nunca vistos,
Como se fosse candidato sério.
Entrou no bar, conversou com todos,
Contou histórias, cantou e dançou.
Tomou cachaça como se fosse champanhe
Comemorando o quê? Ninguém sabia.
Depois, despediu-se de todos,
Saiu cantarolando “Chão de estrelas”
Chegou a casa e fez o que nunca tinha feito:
Abraçou e beijou a mulher e filho.
Dizendo que Deus existia e era muito bom.
Abner Ferraz de Campos
Mairinque, 22 de julho de 2009.
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