PADRE ARQUIMEDES ZULIAN CSsR |
Pe.Zulian CSsR
1. Atividade de cura(vigário paroquial)
Pedrinha pertencia à paróquia de Roseira, porém tínhamos certa independência: curato. Minha função na capela de N. Senhora de Piedade, era de atendimento aos domingos, reza aos sábados, celebração de festas, batizados, casamentos, atendimento de doentes(quase sempre a cavalo), e outras celebrações especiais.
No Domingo, pela manhã havia reunião da Legião de Maria, atendimento a confissões, atendimento geral, e a missa a seguir. Após a missa, reunião com marianos e filhas de Maria, batizados, algum papel de casamento. As funções terminavam no horário do almoço, e quase sempre a gente ainda estava em jejum.
A capela de S. Lázaro era atendida uma vez ao mês. Ia-se na véspera à tarde. À noite havia a reza e confissões. No dia seguinte, confissões, missa, batizados, e alguma reunião. Dormia num quartinho do outro lado da sacristia: coisa simples. Fazia frio no inverno. As refeições eram na casa do casal Joaquim e Maria Espíndola. Gente boa. O velho era bem surdo. Da. Maria fazia sempre aquele ensopado de frango com macarrão. A viagem era a cavalo. Cada vez era uma nova montaria, nem sempre agradável. Um dia tive que apear para deixar o burro rolar de dor de barriga. A volta, sempre descendo, era uma peripécia no tempo de chuva. O animal ia medindo passo por passo para não cair. A gente chegava em casa com as pernas moídas. A princípio tínhamos um cavalo: o Amendoim. Quando a gente apertava a barrigueira dele, o Amendoim virava o pescoço para morder. Não fosse esperto ele mordia bem o “bumbum”.
O povo do Gomeral era muito simples, e amigo. Lembro os Rabelo(seu Antenor às vezes estava na capela meio sapecado) , o Antônio Chico, o Zé Maria e seu irmão Aristóteles, o Zé Barba, o Chico Bento, os Cirilo, e outros mais. Na missão de Brasópolis em 1997 hospedei-me em famílias parentes deles. Foi uma sensação gostosa.
A família Rabelo na pessoa de Da. Judit foi quem doou a terra para S.Lázaro: bastante terra, quase um alqueire. Mais tarde alguns da família queriam voltar atrás, e Dom Macedo me mandou fazer um documento particular que todos assinaram, comprometendo-se a manter a doação.(Hoje em dia eu não faria tal: é muita terra para o Santo). Da. Judit foi muito amiga nossa e o Pe. Pereira gostava de lembrar isso. Não sei se a Arquidiocese legitimou a terra.
A capela de S. Lázaro é uma boa construção, simples, feita pelo povo orientado pelo Pe. Borges. Eu só modifiquei o beiral para não chover nas paredes, e o altar para celebrar voltado para o povo. A escola também foi construída por nós com o povo.
Pe. Negri mandou encher o terreno com Pinus. Não me recordo que tenhamos recebido algo por ter cuidado de S. Lázaro.
Com a estrada, (Pe.Negri teve bastante influência na construção da mesma) muita gente foi comprando terra para fazer casa de descanso na região do Gomeral. Apresentamos um projeto para o Governo estadual transformar a região em reserva ecológica. O diretor de Parques de S. Paulo apareceu, um dia, na Pedrinha, conversou, mas arquivou tudo.
Falando em Pe. Borges, a grande reforma da capela da Pedrinha é obra dele. A escola da Pedrinha, anterior ao atual grupo escolar , é também obra dele. Da minha parte fiz muito pouco de melhoria na capela. Pe. Negri adaptou parte da sacristia para dar assistência dentária ao povo. Dentistas da Aeronáutica vinham dar essa assistência. A pedido de D.Macedo adquiri a casa que pertenceu a Da. Alice Cavalca. O terreno ia até o ribeirão. Pe.Rodolfo, meu sucessor, fez bom uso dessa casa como local de reunião do Sindicato de trabalhadores rurais. Houve sempre protelação por parte da diocese em legitimar as terras da Santa da Pedrinha.
D. Macedo em certa data fez uma grande celebração da Crisma.
Ainda se crismavam as crianças. No momento de dar o “tapinha” no rosto de um garotinho que não parava de chorar, ele aumentou o peso da mão , e o menino deu um suspiro e parou de chorar no instante.
Virou-se o bispo para mim e falou:
- Diga a seus paroquianos que o bispo não vem aqui para “capar” os meninos, não”.
2. Outras atividades...
Para ocupar melhor o nosso terreno e ajudar a passar o tempo cuidávamos da terra. No tempo do Pe. Brandão, isso aconteceu bem menos do que no tempo do Pe. Negri, que é um lavrador de nascença. Sobrou ainda alguma planta do tempo do Pe. Brandão. Foi difícil acabar com as formigas: não fosse a formicida Pika-Pau(produzida e doada
pelo Ireno de Oliveira, irmão do Pe. Isidro...!) Sob orientação de um agrônomo resolvemos aproveitar melhor o terreno. Plantamos arroz, sem falar da mandioca, plantação tradicional. O arroz deu quase só palha. Plantamos milho, milho pipoca. Colhemos tanto que tivemos que construir um pequeno paiol para armazenar Os meninos comeram pipoca quase todos os dias do ano. Com ajuda do Zoza usamos até arado de tração animal. A maior façanha foi plantar o pomar de laranjas, tangerinas, mangueiras(da avenida), pereiras(que nada produziram), jaboticabeiras, caquizeiros, ameixeiras, pessegueiros, figueiras(mudas ganhas do pai do Pe. Leardini). Dizia o Pe. Pereira:
- “Se todas as árvores plantadas na Pedrinha tivessem vingado, haveria um pomar de dois andares”.
Para realizar o projeto do pomar foram cortadas, mais propriamente, arrancadas as árvores que ocupavam o espaço em questão: Pinheiros do brejo, os eucaliptos gigantes, e outros : conseguimos a licença do conselho provincial, como era de praxe. O Zé Guerra e seu filho foram os heróis : arrancaram as árvores pela raiz. Com os seminaristas nós íamos rolando as árvores fora dos buracos. Os eucaliptos foram transformados em caibros e vigotas, aproveitados depois no palco do barracão. Como o terreno era muito úmido foi aberta um valeta, de cima até embaixo, para drenar o terreno.
Minha ocupação à tarde normalmente era estar com os meninos no trabalho. Eles trabalhavam que pareciam formiguinhas. Alguns eram mais acostumados com a lavoura, até práticos, como os irmãos Guimarães e um ou outro mais.
Falando dos meninos, eram espertos: como sabiam pegar peixes, rãs e saracuras, à unha.
-Pe. Diretor, queixou um dia alguém do bairro, os meninos estão acabando com meus franguinhos.- Nem sempre a saracura era do brejo!
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