
1964, um ano político
Em 64 construímos o galpão e o palco. Os juvenistas ajudaram nos trabalhos. Vieram também, cedidos pelo Pe. Geraldo Bonotti, candidatos a Irmão (geraldinos) para auxiliar nos trabalhos.
Para substituir o Ir. Ladislau Bernardino, a Província de São Paulo contratou o professor José Víctor Dutra. Foi contratado por 10 meses por Cr$60.000 (Sessenta mil Cruzeiros). Ele assumiu também a música, entre outras matérias.
A 8 de fevereiro de 64 inauguramos o galpão que foi de grande importância para a formação dos seminaristas e também do povo das redondezas. Passamos a fazer nesse recinto as festas missionárias semanais com pequenas festas de teatro, discursos, declamação de poesias e cânticos. Aos poucos, pessoas da região vieram também participar dessas festas.
1964 foi o ano do golpe militar de 31 de março. Em janeiro participo de um encontro estadual em Araraquara para eleger a diretoria da Federação dos Sindicatos Rurais do Estado de São Paulo. Foram três Recreio dos Seminaristas - 1938 (?) dias de conferências e de muita política. Éramos uns 400 participantes do Estado. Só tinham direito a voto três delegados de cada sindicato rural. Eu participei como assessor. É claro, não tinha direito a voto.
No último dia, a sessão eletiva se prolongou além da meia noite. De madrugada, ali pelas duas horas, conseguimos vencer os comunistas. São Paulo já tinha 127 sindicatos de trabalhadores rurais de orientação cristã. Para essa vitória, tivemos o apoio dos sindicalistas “pelegos”, que ficavam sempre ao lado dos patrões.
Em março, fui pregar a semana santa em Passa Quatro, na matriz. Ainda no dia 29, preguei na matriz e aludi à situação perigosa em que estávamos por causa do confronto entre um governo mais voltado para os trabalhadores e os defensores das elites, dos patrões, dos ricos. Nesse tempo, eu apoiava também Fidel Castro em Cuba, pois pensava que ele iria governar com a Igreja Católica. Mas, em pouco tempo vi que ele escorraçou os católicos do governo, e adotou de fato, só o comunismo ateu.
Viajei de Passos até Aparecida com muito temor, por causa das notícias da marcha dos militares em Minas e no Rio de Janeiro e sobre a resistência de Leonel Brisola no Rio Grande do Sul. De fato, ao chegar à Pedrinha, o delegado de Guaratinguetá, Dr.Ranieri, convocou a diretoria do sindicato para depor. Fomos lá, José Adolfo Guerra, Sebastião Moreira e eu. Após o interrogatório, ele comunicou: “Vou fechar o sindicato. Mas, vou abri-lo após alguns dias.” Dito e feito. Conosco nada aconteceu, mas a revolução foi um golpe mortal no sindicalismo livre.
A 10/04/64, recebi do Pe. Tarcísio Ariovaldo Amaral, procurador e consultor geral dos redentoristas em Roma, a seguinte cartinha:
“Caro Pe. Negri, acabo de ler no “Santuário” sobre suas atividades na sindicalização rural. Quero enviar-lhe daqui de longe, meu parabéns e meu apoio. Com certeza, muitos o desencorajarão. Não faz mal. É preciso que a Igreja esteja presente. É preciso fazer um pouco por essa gente sempre abandonada. É difícil, mas vejo que você entrou com prudência e com acerto. Nosso Senhor o abençoe e seja sua firmeza e seu apoio. Em Cristo, A. Amaral CSSR”.
A 30/04/64, fizemos um passeio ao Geraldinato, hoje Seminário São Geraldo, no Potim, sob o comando do Pe. Furlani, porque eu aproveitei para ir a Aparecida e Guaratinguetá para encaminhar assuntos do pré-seminário e do sindicato. Os seminaristas foram de caminhão. Jogaram futebol. Tomaram banho na represa que havia após o curral, na curva do Rio Paraíba. Na volta, uma chuva forte não deixou o caminhão subir o morro na Fazenda de Da. Carmelita Meirelles. Os juvenistas enfrentaram o restante do caminho a pé, prática que ainda não era novidade.
As férias, como de costume, foram passadas no seminário. Estenderam-se de 23 de junho até 04/08/64. A 07/09/64 tivemos o quarto encontro dos seminaristas redentoristas do Vale (Erva), organizado pelo Pe. José Oscar Brandão. Foi uma grande confraternização. Houve, disse um cronista, até cerveja.
A 24/10/64, chega o Pe. Ribolla para uma visita canônica, secretariado pelo Pe.Miguel Poce. Pe. Poce, brincalhão, pede pelo menos 3 peixes tirados do lago acima da piscina. Ao nos deixar, dá a cada juvenista um santinho “duro” colorido. “Duro” era um cartão com estampa de cunho religioso, papel especial que não dobrava de modo fácil.
A 25/09/64, recebemos a honrosa visita do procurador e consultor geral Pe. Tarcísio Ariovaldo Amaral. Vinha acompanhado do Pe.Provincial de Estrasburgo, Pe. Francisco Xaviel Dürrvell.
A 13/12/64, fizemos um passeio à Pedrona. Saímos de madrugada, após a Missa. Levamos nas mochilas tutu, pão, mortadela, queijo, café, pó, açúcar, pinga e gengibre para quentão. Acampamos numa fonte de água próxima à Pedra Grande. Após o almoço, escalamos a Pedrona. Após o café, um grupo foi comigo até a Igreja de S.Lázaro. Descemos pelo Pirutinga, e saímos na Fazenda Monte Verde, onde hoje está a capela de S.João Nepomuceno Neumann.
Neste ano de 64, deixei de usar a batina redentorista, com licença do Pe. José Ribolla, provincial. Tentei usar o clergimann. Entretanto, não gostei desse hábito, pouco familiar aos brasileiros. Fiquei a paisana mesmo até hoje. Foi um alívio! Como era difícil entrar para o ônibus “embatinado”. Os passageiros levavam um susto. Dificilmente alguém vinha sentar-se ao meu lado, a não ser quando era conhecido ou congregado mariano, ou membro de alguma associação religiosa. De vez em quando, ouvia alguém sussurrar: “Urubu”. Isso não significa que o padre não tivesse credibilidade. Mas, que havia medo de padre, havia!
Em 1964 já começamos umas mudanças interessantes e cheias de novidades para os juvenistas no campo da liturgia, devido ao final do Concílio Vaticano II. Em setembro de 64, começamos a Missa dialogada em latim. Depois, em outubro estreamos a Missa dialogada em português, voltada para o povo. Foram introduzidas de vez em quando paraliturgias no lugar da reza à noite.
Pe. Carlos da Silva, chanceler da Arquidiocese e professor no Seminário Santo Afonso, funda, no Seminário e com o apoio do Pe.Diretor e da conferência dos professores, o Cineclube, a 04/10/64. Ele introduz o costume de exibir vários e bons filmes para os seminaristas. A 07/11/64 acontecem os Jogos Olímpicos organizados pelos padres Luís Ítalo Zômpero e Marcos Mooser, em homenagem ao Pe. Diretor, Pe.Oscar Brandão. Na liturgia aparece o termo: “Missa explicada”. De fez em quando, já se permite algum programa de TV. Na Pedrinha, nós não temos ainda televisão.
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