CONSAGRAÇÃO À NOSSA SENHORA APARECIDA NA VOZ DO PADRE VITOR COELHO CSsR

Ó MARIA SANTÍSSIMA, PELOS MÉRITOS DO SENHOR JESUS CRISTO QUE EM VOSSA IMAGEM MILAGROSA DE APARECIDA ESPALHAIS INÚMEROS BENEFÍCIOS SOBRE O BRASIL, EU, EMBORA INDIGNO DE PERTENCER AO NÚMERO DOS VOSSOS SERVOS, MAS DESEJANDO PARTICIPAR DOS BENEFÍCIOS DA VOSSA MISERICÓRDIA, PROSTRADO A VOSSOS PÉS, CONSAGRO-VOS O ENTENDIMENTO, PARA QUE SEMPRE PENSE NO AMOR QUE MERECEIS. CONSAGRO-VOS A LÍNGUA, PARA QUE SEMPRE VOS LOUVE E PROPAGUE A VOSSA DEVOÇÃO.CONSAGRO-VOS O CORAÇÃO, PARA QUE, DEPOIS DE DEUS, VOS AME SOBRE TODAS AS COUSAS.RECEBEI-NOS, Ó RAINHA INCOMPARÁVEL, QUE NOSSO CRISTO CRUCIFICADO DEU-NOS POR MÃE, NO DITOSO NÚMERO DOS VOSSOS SERVOS. ACOLHEI-NOS DEBAIXO DA VOSSA PROTEÇÃO. SOCORREI-NOS EM NOSSAS NECESSIDADES ESPIRITUAIS E TEMPORAIS E, SOBRETUDO, NA HORA DA NOSSA MORTE. ABENÇOAI-NOS Ó MÃE CELESTIAL, E COM VOSSA PODEROSA INTERCESSÃO FORTALECEI-NOS EM NOSSA FRAQUEZA, A FIM DE QUE, SERVINDO-VOS FIELMENTE NESTA VIDA, POSSAMOS LOUVAR-VOS, AMAR-VOS E RENDER-VOS GRAÇAS NO CÉU, POR TODA A ETERNIDADE. ASSIM SEJA! ...PELA INTERCESSÃO DE NOSSA SENHORA APARECIDA, RAINHA E PADROEIRA DO BRASIL, A BÊNÇÃO DE DEUS ONIPOTENTE, PAI, FILHO E ESPÍRITO SANTO, DESÇA SOBRE VÓS E PERMANEÇA SEMPRE.AMÉM!

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24 de abril de 2009

CRÔNICAS DE UM FORMADOR - TERCEIRA PARTE




4. Na Pedrinha, de novo Pelo fim de 1961, comecei a escutar alguns sussurros que eu iria voltar a ser diretor do pré-seminário da Pedrinha. Mas como era costume na época, só fiquei sabendo da minha nomeação quando vi a lista circular do Pe. José Ribolla publicada no mural de avisos da Comunidade.
Apesar da responsabilidade, fico contente, porque gosto de trabalhar na formação. Logo após o Natal, recebo do Pe. Ribolla a seguinte carta:


“S.Paulo, Natal de 1961. 


Caro Pe. Negri CSSR.

LJM. 



Aí vão dois presentinhos: Diretor e superior da Comunidade do pré-seminário, que o Pe. Geral lhe envia e que eu tenho a satisfação de lhe enviar. Boas festas. 



Não deixará de ser um sacrifício, talvez bem grande para a V.Revma. Mas é o bem da Congregação e da Província. As casas de formação em primeiro lugar. Terá dois ótimos auxiliares. Na Pedrinha estará também um clérigo estudante que, a par do descanso-saúde, poderá também auxiliar nas aulas, talvez de modo especial na música. Peço-lhe entender-se com o Pe. Brandão e Cia. a respeito da Pedrinha. 

Tempore oportuno conversaremos. Coragem in Domino. Com sua dedicação muito bem fará em prol da formação dos nossos futuros confrades. Que N.Sra. Aparecida o assista. Servus! Pe. José Ribolla, Provincia SP.”


A nomeação de diretor do juniorato, feita pelo Pe. Gaudreau,superior geral, está datada de 08/12/61.

De 1956 a 1962, Pe. Vítor Coelho de Almeida CSSR foi um dos meus confrades na Comunidade da Basílica. Quando soube da minha nomeação para Diretor do Pré-SRSA, ele me incentivou. Dali para frente, até 1972 senti muito de perto o seu interesse e a sua preocupação pelo bom andamento da formação em nossos seminários.
Pe. Vítor às vezes era turrão na defesa das suas idéias. Mas sabia reconhecer os seus erros. Era simples, humilde. Algumas vezes ele me pediu para substituí-lo no programa da Consagração a Nossa Senhora Aparecida. Algumas vezes, se confessou comigo sempre de joelhos. Nos recreios após o almoço ele jogava bilhar. Lá, alguma vez, jogava também canastra.

Eu ia assumir a direção do Pré-SRSA num tempo muito difícil. A 25/12/61 João XXIII convocou o Concílio Vaticano II que já vinha sendo preparado desde janeiro de 59. Como conseqüência desse novo Pentecostes ocorrido na Igreja, eu sabia que a formação ia passar também por sérias e profundas transformações. Nossa tarefa era além das nossas forças. Mas sempre confiamos na ação do Espírito Santo,na ação de Jesus, de Maria, Afonso, Clemente, Geraldo e de outros santos redentoristas. Entretanto, João XXIII em escala imensamente maior diante de obstáculos tremendamente dolorosos, escreveu:
“Confiando, pois, no auxílio do Divino Redentor, princípio e fim de todas as coisas, de sua Mãe e de São José, a quem desde o início, entregamos um tão grande acontecimento, parece chegada a hora de convocar o Concílio Vaticano II.”

Muitas vezes durante os anos de formação percebi a minha fraqueza, o despreparo intelectual, para enfrentar cargos tão importantes. Entretanto, carece de saber, com toda honestidade, que comecei a freqüentar escola de roça, montada numa tulha de café, em 1938, quando tinha 10 anos, com o professor Deoclécio Adami que tinha apenas ginásio. Depois de dois anos de roça, ele morou em Jacutinga. Exerceu a profissão de barbeiro e fazedor de caixão de defunto. Antes de 1938, estudei também na casa do Sr. Albino, na fazenda do Sr. Martins, na Serra Morena. Nós levávamos tinteiro para dois e caneta com pena de ferro. A luz era de lamparinas de querosene.
Depois de trabalhar o dia todo na enxada, íamos enfrentar a alfabetização à noite. Em 1940 (segundo semestre) meu pai me levou a cavalo para Jacutinga (19 Km). Passei a freqüentar o Grupo Escolar Júlio Brandão, sem base suficiente. Repeti o terceiro ano em 1941.
Mas, a 17 de abril, a convite do Pe. Luís Pessi CSSR, entrei para o SSA no Colegião em Aparecida. Fui matriculado no curso preparatório para o ginásio. Não tinha, sem dúvida, base suficiente para enfrentar o nível freqüentado e exigido pelo programa de estudos daquele tempo.
Tirei notas ruins, especialmente em português e aritmética, no primeiro trimestre, abril a junho, da minha estadia no seminário. No segundo semestre eu me adaptei ao sistema e à metodologia. Melhorei.
Dali para frente, passei de ano sempre com notas boas. Fui aluno de capacidade média como atestam os meus boletins que tenho ainda comigo. Durante os 7 anos de seminário menor tive pouca atividade, porque embora os estudos e o ambiente fossem muito bons, eu tinha medo do Diretor, Pe. Pedro Henrique Fleschinger, sem falar da disciplina que era rígida, severa, muito bem detalhada, exageradamente coibidora, como era costume na época também nas escolas públicas que freqüentei e que conheci em Jacutinga e Aparecida.
Quando comecei como Diretor no Pré-SRSA e durante os anos posteriores, em todos os cargos nos quais fui investido, sempre tive presente minhas limitações e minha inteligência mediana. Mas minha fé esteve sempre ancorada em Deus, em Jesus Cristo, o Santíssimo Redentor, no Espírito Santo, em Maria nossa Mãe. Por temperamento sempre fui otimista. Recebi excelente saúde dos meus pais. Sem dúvida, as preocupações com os cargos apressaram as safenas e troca de válvulas duas vezes. Entretanto, acima de tudo, agora quando escrevo esta crônica, devo dizer com Maria: “Minha alma engradece o Senhor e meu espírito se alegra em Deus, meu salvador”.
Durante os anos de 62 a 64 estava ainda em pleno vigor o regulamento do SRSA, da Vice-Província germano-brasileira.
Usávamos muitas práticas devocionais do Manual do Juvenista, editado pelas Escolas Profissionais Salesianas em 1935, em São Paulo-SP. Então eu sabia que devia me guiar pelas normas do regulamento,pelas tradições de muitos anos, pelos conselhos de meus colegas formadores, do governo provincial, pelo recebido já dos meus pais,da minha família, mas acima de tudo pela luz do Espírito Santo.
O superior vice-provincial, Pe. José Francisco Wand, a 26-04-35, ao preparar o livrinho do regulamento, escrevia: “Este regulamento é o fruto da experiência de quase 40 anos no Brasil acrescida ao que a prudência ditaram aos juvenistas de outras províncias: Regras que já nos deram um bom punhado de valorosos missionários, cujo número esperamos que vá em progresso ascendente para o bem da religião na
terra de Santa Cruz.”
Dois seminaristas na “Pedra Grande”
Então, mãos à obra! Logo após o Natal fui para o SRSA para ficar perto do Pe. Oscar Brandão, diretor do SRSA. Queria aprender com sua experiência, antes de ir para a Pedrinha.
A sete de janeiro de 1962 tivemos uma reunião, Pe. Humberto Rafael Pieroni, Pe. Amador Leardini, prefeito dos estudantes e eu. A finalidade desse encontro foi convencer o Pe. Amador Leardini que deixasse um grupo de estudantes redentoristas na Pedrinha para ajudar na reforma e melhoria do rego que durante muito tempo levou água para a usina elétrica e a piscina.
A 26/01/62, finalmente, num caminhão repleto de seminaristas, fomos definitivamente para a Pedrinha. A turma dos médios, que muito ajudara também no término do novo rego, voltou para Aparecida.
O Sr. Geraldo Caltabiano, dono das terras que cercavam a nossa chácara, afinal chegara a um acordo sobre a água que fora captada por primeiro e por iniciativa dos nossos padres missionários antigos desde a época da compra do terreno. Desistiu também de um rego que ele já fizera paralelo e abaixo do nosso. Aceitou a situação já costumeira: A água, depois de servir a nossa chácara (piscina e usina),
continuaria correndo para ele, aquilo que sobrasse. Entrou em acordo sobre os limites atuais. E entrou em acordo também para que fosse cedido o terreno para a escola pública da Pedrinha na área que vai desde a divisa da nossa chácara até a rua ou estrada que corta o bairro da Pedrinha, incluindo, o rego d’água.O relacionamento com o Sr.Geraldo Caltabiano começou quente (difícil). Aos poucos se normalizou. A conselho o Pe. Pieroni, coloquei marcos de cimento nos limites do terreno. Pe. Oscar Brandão, Pe. Archimedes Zulian, Pe. Hilton Furlani haviam sofrido muito por causa das pretensões do Sr. Geraldo Caltabiano que queria mandar e desmandar sobre a água.
Ele queria também proibir a passagem dos juvenistas por um caminho já antigo que passava pela usina e saía na estrada. No começo de 1962 fiz-lhe uma visita quando ele morava ainda na sede da fazenda, casarão que existe ainda hoje (1998) à esquerda de quem sai da Pedrinha para Guaratinguetá, entre o bairro e o clube. Ele me recebeu muito bem. Pediu que me assentasse. Tratamos de vários assuntos, entre eles, o do terreno para a escola. A certa altura, ele gritou para a esposa: “Prepare um café para o padre”. Ela respondeu: “Não! Não dou café para “esses” padres”.Eu acrescentei: “Não tem importância, Sr. Geraldo.” Abreviei a conversa e me despedi.  
Ainda em janeiro de l956, fizemos um passeio ao Pirutinga que ficava logo depois de passar pela Fazenda Monte Verde, antes de iniciar o zig-zag para São Lázaro, ou para a “Pedrona”, como dizíamos. Escolhemos o lugar para o acampamento. Muitos foram tomar banho no ribeirão. De repente alguém me avisa: “Didi saiu nadando para a caverna debaixo da pedra e não tem mais coragem de voltar. A água caía em abundância em forma de cachoeira na frente dele. De fato, lá estava o menino, encolhidinho, com medo! Vários seminaristas e eu fomos para a saída do poço na parte mais rasa. Fizemos sinal para que viesse nadando pela correnteza. Ele não quis de jeito nenhum.
Então, saímos, cortamos vários cipós “S.João”, fizemos uma corda bem forte e jogamos da parte de cima para dentro da caverna. Ele corajosamente a agarrou. Nós o suspendemos. Foi um alívio. Trata-se do ex-seminarista Dirceu Tesoto. Esse mesmo Didi, um dia, estava trabalhando com o Pe. Furlani, abrindo o rego que traz a água do Geraldo Caltabiano (atualmente é do Carlos Bartelega, casado com o filha do Geraldo) para a nossa casa (água potável). Ambos estão descalços; Pe. Furlani, com a batina arregaçada. Um caboclo da redondeza se achega devagarinho, fica observando. Passado pouco tempo, exclama: “Puxa, seu Furlani, esse seu “filho” é bom no enxadão, hein?”
Em março de 1962 fizemos um passeio ao Fazendão. Acampamos perto do Ribeirão. Almoçamos. Fizemos café para todos, uns 100 seminaristas. Tomamos banho, pescamos e até caçamos. À tarde visitamos o casarão com o andar térreo e o superior. Um velhinho (caseiro) nos mostrou tudo e nos falou do tempo dos escravos, da senzala, do tempo do café (fim do século XIX) e da fabricação de açúcar mascavo, da rapadura e do melaço. Não faltou também a prosa sobre assombração.
No começo de abril de 1962, formamos 9 equipes de trabalho; 5 dos médios e 4 dos menores. Cada equipe escolheu democraticamente os seus chefes e sub-chefes. Isso, foi uma novidade. Enfrentei até estranheza por parte de alguns, tão acostumados com o costume do tempo, de receber tudo marcado, de cima para baixo. As equipes escolheram também os seus patronos: Santíssimo Redentor, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, São José, Santo Afonso, São Clemente, São Geraldo, São Tarcísio, São Domingos Sávio e São Luís de Gonzaga.
Nesse primeiro semestre de 1962 já começamos, sob a supervisão do Pe. Archimedes Zulian, o aproveitamento máximo do terreno.
Saneamos o brejo, à direita de quem sai para o bairro. Cortamos os eucaliptos, arrancamos os tocos e plantamos diversas árvores frutíferas, especialmente cítricos, entre elas as famosas mexericas “poncan”. Ainda hoje, 1998, lá estão as mangueiras ao longo da estrada, os pés de caqui e as jabuticabeiras.
Pe. Hilton Furlani era um trator. Além disso zelava com muito carinho da usina para a luz elétrica, cujos dínamos, gerador e queda d’água ficavam à direita de quem olha para a casa da Pedrinha. Ainda há por lá (1998) a caixa para a captação de água que gerava a força.
Em 1962, fui pregar a semana santa em Virgínia-MG. Foram comigo os padres Izidro de Oliveira Santos e Conrado Gagliardi. Preparei os sermões, como de costume, por escrito. Já estava acostumado a fazer isso. No Domingo de Ramos, após o sermão pregado por mim, eu me acheguei de um coroinha miúdo, tímido, sentadinho num canto, e perguntei:
-Como você se chama?
-Joércio.
-Você quer ser padre?
-Quero.
Pedi para que ele me levasse à sua casa. Conheci os seus pais.
Expliquei como poderiam entrar em contato com o secretariado vocacional. Desde esse tempo ele passou a se corresponder com o Pe. Rodolfo Gherard Anderer. Passados alguns anos, ele entrou para o pré-SRSA.
É o Pe. Joércio Gonçalves Pereira CSSR. (Hoje Dom Joércio!)

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