CRÔNICAS DE UM FORMADOR
Pe. Silvério Negri C.Ss.R.
Nas vésperas do Natal de 1954, foi publicada pelo prefeito dos estudantes do Seminário Santa Teresinha, Pe. Geraldo Pires de Sousa CSSR, a lista das transferências. Eu fui mandado para o SRSA para ser auxiliar (prefeito) do diretor, Pe. José Ribolla CSSR, no SRSA, em Aparecida. Pe. Pires reuniu a todos nós padres estudantes (Pe. Renato Tonon, Pe. Virgíneo De Carli e eu) para nos dar algumas recomendações. Aproveitou para recolher os relógios que cada um tinha recebido dos padrinhos da primeira Missa. Fez um sorteio. O meu foi para o De Carli. O dele veio para mim. O Pe. Tonon ficou com o dele mesmo. No dia 30/12/54, sem despedidas quanto me lembro, mas com a bênção do Pe. Pires, viajei para São Paulo e Aparecida. Além dos estudos normais de filosofia e teologia, em não tinha conhecimentos especiais sobre pedagogia. Tinha lido alguns livros sobre o assunto, entre eles, “O Professor” de Backheuser.
1. No Seminário Redentorista Santo Afonso
Chegando ao SRSA, fui colocado num quartinho que hoje é a sala de estar. Fica de fronte à cabine de telefone, no primeiro andar, à esquerda de quem sobe a escada partindo do térreo, na frente do refeitório.
Metade das três turmas dos seminaristas estava na casa de férias, no Pré-SRSA, na Pedrinha, e a outra no SRSA. O seminário era dividido em três turmas: maiores, médios e menores. Uma turma não podia conversar com a outra, a não ser por sinais, e com muita parcimônia. Passar dos menores para os médios e destes para os maiores, era uma sensação emocionante, uma promoção! Fui nomeado prefeito dos menores. Pe. Francisco Vieira da Costa CSSR era o prefeito dos maiores; Pe. Ângelo Licati, dos médios. O Pe. José Ribolla era o diretor; Pe. José Pereira Neto era o reitor (superior da comunidade). Ao todo, éramos 14 padres professores e 3 irmãos coadjutores, só no SRSA. Mas, no Pré-SRSA na Pedrinha, havia mais 3 padres: Guilherme Sônego, Antônio Borges e Maurílio Fernandes. Em janeiro, eu passei para um quarto no terceiro andar, com vista para o horta e para a Basílica Velha. Duas coisas me tocam o coração, entre outras, nesse tempo: primeira , o bimbalhar dos grandes sinos da Basílica Velha. Eles soam sem falta às 6, 12 e 18 horas. Fazem-me lembrar a Mãe, Nossa Senhora Aparecida. Segunda, era o soar do relógio alemão, trazido do Colegião, que ficava na sala de estudos. Ele batia de 15 em 15 minutos e o chefe entoava: “Omnia ex amore Iesu et Mariae”. Em 1941, quando, garoto, entrei para o seminário, eu saí da Penha ao som dos sinos, às 6 horas da manhã, em companhia do Pe. Luís Pessi CSSR e do meu futuro colega Leopoldo, da Freguesia do Ó-SP. Viajamos de ônibus da Pássaro Marron pela estrada de terra, via S.Miguel Paulista, Itaquá, Mogí das Cruzes, Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Pinda, Roseira Velha. Passamos pelo Itaguaçu, Volta da Pedra e chegamos a Aparecida às 12 horas, ao som dos sinos, à Praça do Centro Velho. Após o almoço no Convento Velho, os seminaristas do segundo colegial, Antônio Borges, Moacyr Bossay e Cid vieram buscar nossas malas e nos acompanharam até o SRSA, descendo pelo trilheiro ao lado das Oficinas Gráficas, atravessando a chácara. Ao chegar à sala dos professores (12:30h), o Pe. José Pereira Neto CSSR, prefeito, me acolheu e disse aos 3 mal o sol esquentava escorria de novo o piche liqüefeito. Essas manchas de piche podem ser vistas ainda hoje em nossos dias.A 29/11/55, a convite da Comunidade da Basílica, preguei na abertura da novena para a festa da Imaculada Conceição. Foi emocionante falar na Basílica repleta de romeiros. As pregações eram feitas no ambão do lado direito de quem olha para o povo. O pregador pregava vestido com batina redentorista, com sobrepeliz e com barrete. O barrete era levado nas mãos. Depois da saudação ao povo, era colocado na cabeça. Alguns tinham o costume de tirá-lo quando pronunciavam o nome de Jesus. Durante a leitura do Evangelho, os sacerdotes ficavam com a cabeça descoberta. Os padres novos tinham obrigação de escrever o sermão e apresentá-lo ao Pe. José Pereira. Ele devolvia os meus, com a nota: “Vi mas não li.” Pela primeira vez, a 19/12/55, 25 juvenistas, assim eram denominados os seminaristas menores da Congregação, vão passar o Natal com os pais. Foi um acontecimento fora de série, bastante contestado por alguns, que viam nisso um perigo para a perda da vocação religiosa e sacerdotal.
Pedrinha-1965-Foto de Marcos Theodoro Moser (+)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar. Sua participação é muito importante para nós. Deixe seu e-mail para podermos lhe contatar.