Uma figura inesquecível do nosso Juvenato, onde viveu e trabalhou durante quase cinqüenta anos. Era de Smolov, na Boêmia, onde nasceu a 30 de março de 1863. Ingressou na C.Ss.R. em 1894, e ainda como noviço, veio para o Brasil em 1897. Embora não fosse bem um alfaiate, foi esse o seu ofício no Juvenato, de 1904 até a sua morte.
Irmão Bonifácio nunca chegou a aprender bem o português, o que não lhe causou grandes problemas. Foi sempre um solitário, sem qualquer amizade com estranhos. Passava seu tempo na alfaiataria, remendando sempre a roupa dos juvenistas. Quando tinha alguma folga, era ele um quase fantasma, de batina preta e surrada, em meio às bananeiras e outras plantas que, naquele tempo cobriam a ribanceira hoje elegantemente recortada pelo imponente e majestoso “Escadão”.... Ali colhia um cacho de bananas, outras frutas para a mesa dos Juvenistas. Tinha, no antigo “Colégio Santo Afonso” um gosto que ninguém sabia explicar: levava para a alfaiataria uma ou duas laranjas maduras; colocadas numa mesa, ele esperava que as laranjas apodrecessem, e, quando já estavam cinza-azulada, ele as comia. Penicilina? penitência? Não se sabe. Aos domingos costumava ler alguma revista alemã arqui-velha das que guardava consigo. Certa vez, passando um juvenista pela porta (aberta) da alfaiataria, viu o Irmão rindo a gargalhadas, com uma revista nas mãos; e perguntou:
-Que foi, Irmão?
E ele explicou, mostrando o desenho de um chiste alemão :
-Se um cachorro morde um homem, muito bem; mas se um homem morde um cachorro... ôh! que ka-la-mi-ta-te!...
e estourou uma sonora gargalhada. — Por ocasião de uma grave pneumonia que contraiu, quiseram ministrar-lhe os últimos sacramentos, devido a sua extrema fraqueza.
-Ainda não — disse ele — quando chegar o dia eu aviso.
E em dezembro de 1949 ele achou que o dia estava chegando; sintoma:
-Não sinto mais gosto —
Última confissão, recebeu a Unção dos Enfermos. E, enquanto “o dia” não chegava, recebia sempre sorrindo os confrades que o visitavam, e eram contínuas as suas jaculatórias, pronunciadas com uma calma invejável. Com muita simplicidade foi que, naqueles dias, revelou a alguns confrades: -“Certa vez eu vi Nossa Senhora com o Menino Jesus. Ela pediu a Nosso Senhor que o Irmão Bonifácio não pecasse mais. Desde aquele dia nunca mais pequei”.
A 2 de janeiro de 1950 ele deixou este mundo, e foi descansar para sempre, com 87 anos.
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