PADRE RAFAEL VIEIRA CSsR
No Brasil, a maior parte da população se informa quase que exclusivamente por meio da Televisão. Qualquer observador pode chegar a essa conclusão, sem dificuldade alguma. Talvez seja exatamente por causa disso é que o mercado livreiro só consegue obter sucesso em vendas quando apresenta obras meio “televisivas”, isto é, com textos curtos e muitas imagens. É como se a telinha fosse reproduzida nas páginas dos livros. E a Televisão brasileira não tem nada a ver com a dinamarquesa, nem com a sueca. Nesses países, qualquer pessoa pode sentar-se numa poltrona diante do televisor, às 8 da noite, e assistir um filme bem produzido ou um documentário científico. Aqui, não. Aqui a pessoa que tentar fazer isso terá de, forçosamente, optar entre três ou quatro canais pela mesmíssima oferta: uma telenovela. E a escolha nem é muito difícil porque há 40 anos, uma emissora domina quase a audiência inteira. Mas o que resulta dessa situação nem sempre é trágico e culturalmente desprezível. Veja bem: tanta gente teria se interessado em conhecer o hinduismo antes do “Caminho das Índias”? Seria possível assimilar os complicadíssimos conceitos das castas se não fossem a Maya, o Raj e o Bahuan? Uma expressão da teledramaturgia de excelente qualidade técnica com um bocado de clichês tem dado informações corretas mescladas com verdadeiros delírios, mas ainda assim, faz uma diferença interessante.
Professada por mais de 800 milhões de pessoas no mundo inteiro e por quase 80% dos indianos, o hinduismo é uma religião com características bem diferentes das tradições que dominam o ocidente. Conhecida e praticada por mais três milênios é, na verdade, um conjunto de crenças oriundas de variadas linhagens e etnias que foram formadas ao longo da história do povo indiano. Para um brasileiro com conhecimento básico do cristianismo, seja como católico ou evangélico, a religião hindu poderia ser conhecida, ainda que de forma superficial, através de três conceitos fundamentais: vários deuses, Lei do carma e evolução espiritual por meio de reencarnações. Entre os deuses mais importantes e mais lembrados estão Shiva e Ghanesha. O primeiro é representado por um tipo com muitos braços e o segundo por uma figura humana com rosto de elefante. A cultura brasileira geral já assimilou bem a história do carma que se aproxima muito da idéia cristã de castigo ou de provação. Tudo o que uma pessoa faz de bem ou de mal volta-se para ela mesma como reação. E o giro das idas e voltas da alma passando por vegetais e animais coloca a vaca como um animal sagrado justamente por representar uma espécie de existência prévia para a divindade. A vaca, para os hindus, tem a presença de uma alma que chegou ao último estágio de sua evolução. Entre as etnias da Índia, uma de tradição sacerdotal formada pelos brâmanes, professa que a humanidade está dividida em quatro castas: os sacerdotes ou brâmanes, os dirigentes, os agricultores e comerciantes e os artesãos. Os parias, ou seja os tais “dalitz”, são aqueles que estão fora das castas. Mas não vai pensando aí que isso reina na Índia de hoje, aquilo tudo tão ostensivo e tão colorido é coisa da novela da Globo. Consulte a internet e comprove que, por criar discriminações entre as pessoas, a divisão em castas foi abolida pela Constituição indiana há 58 anos.
Informações de Almanaque não é? Eu sei que sim, mas sei que os verdadeiros conhecedores da Índia e da sua religião principal compreendem que na mentalidade das pessoas naquele país, continua forte a divisão das castas. Em todo caso, não deixa de ser, no mínimo, curioso ficar ouvindo expressões em sânscrito, apreciar a beleza do Rio Ganges que mesmo poluído atrai mais de 5 milhões de hindus todo ano por ocasião do festival religioso Ardh Kumbh Mela. E para pessoas entendem quase nada desse universo tão rico de fé e de tradição, como eu, já é suficiente contemplar as imagens do Taj Mahal nos encontros entre a Juliana Paz e o Marcio Garcia.
Pe. Rafael Vieira, CSsR – 11.02.2009
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