
Perdão ou mágoa — onde está o pecado?
A mensagem básica do Evangelho que reflete bem a prática de Jesus consiste na revelação de um Deus que é Pai de todos. Essa realidade nos leva a descobrir que o fundamental em nossas vidas é o amor a todos indistintamente. Nada me dá o direito de não amar; ao contrário, se eu quiser ser feliz, necessariamente tenho de amar com um amor que constrói a vida, fundamenta a partilha e a não-violência.
O perdão é um gesto de amor e de partilha, um gesto de fé. A possibilidade de errar está cravada em nossa natureza, mas existe o perdão que reconstrói a vida em quem errou. Jesus vai dizer-nos que é preciso “perdoar setenta vezes sete”, significando uma infinidade de perdão. São João comenta que amar a quem nos ama é fácil e até os que não têm fé o fazem. Difícil é amar a quem não nos ama, a quem nos ofende, a quem nos exclui e nos mata.
De qualquer forma ninguém pode ser feliz negando o perdão, negando-se a abrir o coração e derramar sobre o outro o amor de um modo idêntico ao agir de Deus que “derramou seu amor sobre nós”. Todos têm direito ao perdão.
Aqui se faz necessário distinguir perdão e mágoa. Mágoa é um sentimento que nos marca às vezes para o resto da vida. Perdão é um ato inteligente que leva em consideração outros valores e realidades. Os sentimentos não dependem de nós, eles se fazem presentes por mais que não os queiramos e exercem uma influência grande em nosso agir. Assim sendo não somos culpados pelos sentimentos que aparecem em nós. Quanto esforço fazemos para que um sentimento não estrague nossa vida e não nos traga dificuldades e tristezas, mas ele aí está independente do nosso querer.
O que se pode fazer? Cada um tem de fazer um trabalho psicológico para colocar tudo em seu devido lugar, considerando os valores, a realidade; um trabalho de convencimento de que aquilo tudo já é passado e não pode gozar de tanta atenção como estamos dando. É necessário aprender a administrar essas marcas, apagando-as de nossa memória ou assumindo-as em seu tamanho certo. Não se pode carregar uma mágoa pela vida afora. É preciso fazer uma terapia consigo mesmo, um trabalho que às vezes pode ser longo, mas que permita um dia a volta da tranqüilidade.
Cada um precisa entender que quanto mais se conscientiza, melhor se vive e mais liberdade se alcança. A abertura que o Evangelho pede é esta: quem precisa do meu perdão vai receber na medida em que precisar. O que restou dentro de mim vai passar por uma terapia até que tudo chegue em seu devido lugar. E se amanhã acontecer de novo, vou perdoar, vou compreender e não vou-me machucar mais; assim posso dizer que me sinto livre em Jesus.
DO LIVRO:
RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE-VOLUME 3
EDITORA SANTUÁRIO
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
http://www.redemptor.com.br
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